Indígena viaja três dias de barco para vender artesanato na COP30

Zona Verde da Conferência das Partes tem ganhado mais vendedores ao longo dos dias

14 nov 2025 - 19h03
(atualizado às 20h05)
Adila da Silva está vendendo artesanato na COP30
Adila da Silva está vendendo artesanato na COP30
Foto: Adrielle Farias/Terra

Adila Nilma da Silva Ferreira viajou três dias de barco para vender artesanato durante a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30). Em conversa com o Terra nesta sexta-feira, 14, a indígena de 40 anos, que é do interior do Pará, revelou que o longo trajeto é feito por navio, barco de pequeno porte e carro. O esforço foi para vender os seus produtos artesanais na Zona Verde da COP30, que é aberta ao público em geral, como forma de gerar renda e, ao mesmo tempo, divulgar sua cultura.

"Viemos demonstrar os nossos produtos da floresta, o que a gente faz na nossa comunidade, no nosso interior. A gente trabalha com extrativismo, tirando da floresta", explicou. 

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A jornada de três dias da ribeirinha até a COP30 começou na comunidade São Marcos, banhada pelo Rio Arapiuns, na área da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, a mais de 1.200 km da capital paraense. De lá, ela pegou um navio até Alter do Chão, depois um barco de pequeno porte até Santarém e, por fim, seguiu de carro até Belém. Ao todo, foram 3 dias de viagem. 

Segundo Adila, desde o início da COP30 ela vendeu cerca de 400 produtos, que incluem brincos, colares, vasos, itens de decorações, entre outros. "Os nossos produtos são feitos manualmente e com coisas naturais da reserva: folhas, frutos e raízes. Também temos produtos derivados da mandioca, da palha de tucumazeiro e de látex, tudo feito na nossa reserva", afirmou.

Os produtos mais baratos do estande de Adila são brincos no valor de R$ 60. "O preço varia conforme o material. De látex, o mais barato é R$ 60, e da teceria, que é feito com palha de tucumã, o mais barato está saindo no valor de R$ 45". 

Produtos de Adila da Silva são variados: brincos e colares estão entre os que mais se destacam
Foto: Adrielle Farias/Terra

Alessandra Pinheiro Ribeiro, de 48 anos, está à frente do estande das Organizações das Cooperativas Brasileiras na Zona Verde da COP30. Ela contou ao Terra que o espaço conta com a exposição de cooperativas do Brasil, especialmente da região Norte, sendo cinco delas do Pará.

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"Temos representando aqui também produtos do Amazonas, do Tocantins, de Minas Gerais e do Espírito Santo. Os produtos são variados: biojoias, cacau, castanha, feitos com malva, palmeira e tucumã. E as cerâmicas, que vêm do munícipio de Parauapebas", destacou. 

De acordo com a cooperativista, as biojoias estão entre os produtos mais procurados. "As pessoas se interessam muito pela parte da biodiversidade e já chegam aqui procurando os produtos feitos com sementes específicas. Já me perguntaram: 'Você tem um colar de semente de paxiubão?'". 

Há diversos tipos de artesanato vendidos na Zona Verde, inclusive de outros indígenas. A exemplo disso estão os Kayapós, que desembarcaram na capital paraense dois dias atrás após uma longa viagem de barco. No entanto, ao contrário de Adila e Alessandra, eles não possuem um estande formalizado dentro da área. 

A reportagem do Terra apurou que eles estão ocupando espaços sem delimitação na Zona Verde. A negociação é feita diretamente com eles. Entre brincos, colares e pulseiras, as estampas coloridas chamam a atenção de quem passa pela área.  É possível adquirir colares a partir de R$ 100, sendo o mais caro R$ 500.

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Pinturas para a pele também estão disponíveis pelos preços de R$ 30 (pequena), R$ 50 (média) e R$ 100 (grande). Elas são feitas com tinta extraída de jenipapo, um fruto da Amazônia que, ao ser macerado, libera um líquido que se torna preto em contato com a pele. A pintura pode durar até 20 dias. 

*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.

Fonte: Portal Terra
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