4º dia de COP30 tem pedido da ONU por reforço de segurança, resposta do Pará a Trump e calor na área restrita

Dia reúne reforço de segurança, queixas sobre calor, mobilizações indígenas e anúncios oficiais na COP30

13 nov 2025 - 20h45
(atualizado às 22h03)
Participantes durante o 4º dia de COP30
Participantes durante o 4º dia de COP30
Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR

O quarto dia da COP30 foi marcado pelo envio de uma carta da Organização das Nações Unidas (ONU) ao governo federal pedindo o reforço da segurança nos arredores do evento, por novas críticas do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), à postura do presidente americano Donald Trump em relação à agenda climática e por reclamações de participantes sobre o forte calor na área restrita do evento, a Blue Zone.

Ao longo do dia, a conferência também registrou ajustes operacionais, anúncios oficiais e diversas mobilizações dentro e fora das áreas credenciadas. A agenda envolveu reforço na estrutura de segurança, medidas para melhorar a climatização dos espaços, atos organizados por representantes de diferentes setores e a apresentação de iniciativas internacionais relacionadas à adaptação climática. Além disso, atividades culturais e intervenções tradicionais da COP, como o antiprêmio “Fóssil do Dia”, integraram a programação.

Publicidade

Pedido de ONU ao governo

O documento da ONU ao governo federal foi remetido à Casa Civil, que não divulgou o conteúdo. A segurança interna da Blue Zone está sob responsabilidade do Departamento das Nações Unidas para Segurança e Proteção (UNDSS), responsável por definir os protocolos de proteção dentro do espaço.

A Casa Civil afirmou que não participou das decisões sobre os protestos registrados no dia 11, quando um grupo de manifestantes e indígenas tentou ocupar a área da Blue Zone, e que todas as solicitações da ONU vêm sendo atendidas. Segundo o órgão, houve uma reavaliação conjunta, entre governos federal, estadual e UNDSS, do número e do posicionamento das forças policiais, resultando na ampliação dos perímetros de segurança e no reforço das áreas Laranja e Vermelha.

Também foram implementadas novas barreiras metálicas, gradis e estruturas de contenção, além da atuação conjunta entre Força Nacional e Polícia Federal na Zona Verde.

Participação de ator de Rebelde

Alfonso Herrera, ator mexicano e Embaixador da Boa Vontade da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mediou um painel na COP30 na manhã desta quinta, do qual a Irmã Rosita Milesi foi uma das convidadas. Ao Terra, Alfonso destacou sua admiração pela primeira brasileira a receber o Prêmio Nansen do ACNUR.

Publicidade

“O que acabo de viver agorinha com a Irmã Rosita é muito poderoso. O trabalho que ela faz, o compromisso que tem é impressionante, e eu dizia pra ela: 'Irmã Rosita, você tem muito mais energia que eu e tem 80 anos'”, brincou.

Alfonso Herrera elogia brasileira premiada pelas Nações Unidas por atuação com refugiados
Video Player

Calor na Blue Zone exigiu medidas emergenciais

Se na Cúpula do Clima, que antecedeu a COP30 na última semana, o frio era generalizado dentro da Blue Zone, a situação mudou. As altas temperaturas voltaram a ser motivo de reclamações de participantes na área restrita do evento. Apesar do reforço da segurança, quem circulou pelos pavilhões da área restrita enfrentou calor intenso, causado pela incapacidade das entradas de ar de dar conta do fluxo elevado de pessoas.

Para lidar com o problema, foram instalados novos aparelhos de ar-condicionado nas tendas, além de unidades adicionais do modelo sprint em salas onde falhas de climatização foram identificadas. Também houve correções estruturais após o rompimento de calhas que provocou goteiras no Media Center e no Posto de Saúde. Mesmo assim, a área mais confortável segue sendo a destinada à imprensa, que conta com mais pontos de refrigeração.

Exército reforça proteção 

O Exército Brasileiro ampliou a segurança na Zona Azul nesta quinta-feira. Os protestos ocorridos no espaço foram pacíficos e não exigiram intervenções maiores das forças de segurança. A mobilidade nos arredores, porém, segue exigindo atenção: credenciados precisam descer de carros e seguir a pé ou de patinete até as entradas devido aos bloqueios.

Publicidade

A chuva típica de Belém no fim da tarde pegou visitantes desprevenidos. Nesse cenário, ambulantes têm aproveitado o fluxo. Jonas de Melo, que atua próximo à Zona Azul, disse precisar reabastecer estoques diariamente: guarda-chuvas variam entre R$ 30 e R$ 50, enquanto leques custam R$ 30.

Barbalho voltou a criticar atitude de Trump

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), voltou a criticar as declarações do presidente americano Donald Trump sobre a agenda climática e a ausência dos Estados Unidos na COP30. Segundo ele, as falas de Trump são “fruto do desconhecimento” e contrastam com a responsabilidade histórica do país nas emissões globais. Barbalho afirmou que os EUA deveriam estar “sentados à mesa” das negociações climáticas e que Trump deveria “postar menos e colaborar mais”.

Indígenas cobraram representatividade e financiamento

A presença indígena segue mais forte na Zona Verde, aberta ao público, mas alguns grupos que não conseguiram credenciais estão se posicionando nas áreas externas da Blue Zone para serem vistos e ouvidos. Entre eles está Garapira Pataxó, que vende biojoias e artesanato junto a outros representantes de diferentes povos. Em entrevista ao Terra, ele destacou a importância de ocupar o território e de garantir que a diversidade ancestral seja reconhecida em todos os biomas brasileiros.

'A gente não come dinheiro, queremos nossa floresta em pé', diz indígena que viajou da Bahia à COP30
Video Player

Durante o dia, a Blue Zone também registrou atos de mobilização. Um dos principais foi o protesto com o slogan “A Gente Cobra – Financiamento Climático Direto para Quem Cuida da Floresta”, liderado por Walter Kumaruara, da Aliança dos Povos pelo Clima. Ao Terra, na última semana durante a Cúpula dos Povos, Kumaruara denunciou a falta de credenciais para diversos indígenas e, após pressão, conseguiu acesso à área restrita. “É uma COP na Amazônia, mas a Amazônia não pode entrar nesse espaço”, afirmou, reforçando a demanda por financiamento direto às comunidades que preservam a floresta.

Publicidade

Mais tarde, outro protesto chamou atenção, desta vez silencioso, com foco em financiamento para adaptação climática.

Protesto silencioso na COP30
Foto: Adrielle Farias/Terra

‘Fóssil do Dia’: Japão levou antiprêmio

Como ocorre diariamente na COP, o fim da tarde trouxe uma intervenção performática que já se tornou tradição na conferência. Por volta de 18h, uma música anuncia a chegada do antiprêmio “Fóssil do Dia”, entregue pela Climate Action Network-International (CAN), rede global que atua há 16 anos na COP destacando quem mais atrapalhou o avanço das negociações climáticas.

Com humor, ironia e um dinossauro inflável, os organizadores “premiaram” o Japão neste quarto dia
Foto: Portal Terra

Com humor, ironia e um dinossauro inflável, os organizadores “premiaram” o Japão neste quarto dia. O país foi criticado por promover iniciativas consideradas “cortinas de fumaça”, como projetos de captura e armazenamento de carbono, enquanto permanece entre os dez maiores emissores de combustíveis fósseis no mundo.

Brasil lançou plano internacional de adaptação na área da saúde

Na tarde desta quinta-feira, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou o primeiro plano internacional de adaptação climática voltado à saúde, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e apoiado por mais de 100 países e instituições.

Chamado de Plano de Belém, o documento reúne ações para preparar sistemas de saúde diante de eventos extremos, como calor intenso, enchentes e secas. Padilha afirmou que o plano simboliza o compromisso global com a vida e a justiça climática, destacando que “cuidar da saúde é também cuidar do planeta”. O Brasil liderou a elaboração em parceria com Reino Unido, Egito, Azerbaijão e Emirados Árabes.

Publicidade

Mais cedo, Padilha participou de um painel no Pavilhão Brasil, onde reforçou o compromisso de estruturar unidades de atendimento adaptadas às novas condições impostas pelas mudanças climáticas.

*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.

*A repórter Beatriz Araujo viajou a Belém com apoio do ClimaInfo.

*A repórter Isabella Lima viajou a convite da Motiva, idealizadora da Coalizão pela Descarbonização dos Transportes.

Fonte: Portal Terra
TAGS
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se