Por volta das 18h, o ruído das conversas na Zona Azul da COP30, em Belém (PA), é substituído por uma música. Os credenciados do evento já sabem o que está por vir: o antiprêmio “Fóssil do Dia”, homenageando com humor e informação quem está fazendo “mais para alcançar o mínimo”. Nesta quinta-feira, 13, no quarto dia da Conferência, as "honras" foram para o Japão.
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O antiprêmio é anunciado por duas pessoas fantasiadas: um homem de chapéu preto, máscara e traje que transforma seu corpo em um esqueleto, acompanhado de outra pessoa vestida de dinossauro inflável, igualmente “só no osso”.
A ação é organizada pela Climate Action Network-International (CAN), rede global de organizações da sociedade civil presentes em mais de 130 países que têm como foco o combate à crise climática. Eles fazem a intervenção na COP há 16 anos.
Na COP30, todos os dias é escolhido o “perdedor” da vez, uma forma bem-humorada de destacar quem mais atrapalhou o avanço das negociações climáticas que ocorrem a portas fechadas. O antiprêmio funciona como um termômetro do dia.
Nesta quinta, o escolhido foi o Japão. Eles explicaram, entre pedidos de vaias do público, que ações promovidas pelo país como soluções climáticas – como captura e armazenamento de carbono – seriam apenas cortinas de fumaça. O Japão está entre os dez países que mais emitem combustíveis fósseis, que é um dos grandes pivôs da crise climática. O ranking é liderado pela China, seguido pelos Estados Unidos.
No dia anterior, quarta-feira, 12, o Reino Unido foi o escolhido. Segundo a CAN, o país se destacou por tentar bloquear o progresso nas discussões do dia do Programa de Trabalho de Transição Justa (JTWP), onde a maior parte dos países teria oferecido propostas construtivas – incluindo o G77 + China, que pediu um Mecanismo Global de Transição Justa, como revelam conforme os bastidores da COP30.
Conforme o grupo revelou, o Reino Unido teria se recusado a reconhecer a necessidade de um mecanismo global de transição justa, afirmando que as estruturas existentes da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) eram “suficientes” e que o assunto deveria continuar a ser visto como uma questão doméstica entre as partes.
Não só criticas
Não são apenas críticas. O momento em que o teatro de ‘exposed’ começa, também podem ser entregues prêmios ‘Raio do Dia’, que lembram “como é a luz solar em uma sala de negociação”.
Na terça-feira, dia 11, por exemplo, o primeiro Raio do Dia da COP30 foi para o grupo G77 – coalizão que apesar do nome representa 134 países em desenvolvimento nas Nações Unidas (ONU) – e para a China.
“Com clareza refrescante (e calor em uma sessão matinal fortemente climatizada na Sala de Reuniões 18), o G77 + China pediu o estabelecimento de um Mecanismo de Transição Justa sob a UNFCCC – uma proposta que reflete muitos dos elementos centrais que a sociedade civil e os sindicatos têm avançado através do Mecanismo de Ação de Belém (BAM)”, explicaram.
Estão entre os pontos a integração da equidade e equidade em todos os níveis de implementação; promover a coordenação e a partilha de conhecimentos entre sectores e instituições; apoio ao financiamento não gerador de dívidas para transições; fortalecimento do diálogo social; e garantir que as pessoas, e não os lucros, permaneçam no centro da ação climática.
Já na quarta-feira, dia 12, também foi dado o prêmio de “Solidariedade pela Justiça” semanal ao povo do Sudão, “em reconhecimento à sua extraordinária coragem, resiliência e compromisso inflexível com a justiça diante do sofrimento insuportável”. Esse prêmio é um “reconhecimento especial dado na COP para demonstrar solidariedade e destacar a bravura e a resiliência de um país, pessoas ou comunidade que sofrem sob opressão e violações grosseiras dos direitos humanos”.
*A repórter Beatriz Araujo viajou a Belém com apoio do ClimaInfo