Como brasileira entregou presente inusitado ao príncipe William e transmitiu forte mensagem ambiental

Fundadora do Instituto CoJovem, Karla Braga deu ao herdeiro do trono britânico um frasco que levantou curiosidade nas redes sociais

13 nov 2025 - 05h00
(atualizado às 11h42)
Resumo
Durante uma visita ao Museu Goeldi, em Belém, o príncipe William recebeu um frasco de banho de cheiro da fundadora do Instituto COJOVEM, Karla Braga, que aproveitou a oportunidade para destacar a necessidade de investimentos nas juventudes da Amazônia e seu papel crucial no enfrentamento da crise climática.
Príncipe William ganhou 'óleo afrodisíaco' na Amazônia? Brasileira desvenda o presente paraense
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Durante visita ao Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, na semana passada, o príncipe William recebeu um presente curioso: um frasco do tradicional banho de cheiro paraense, preparado com ervas e essências típicas da região. O item foi entregue por representantes do Instituto CoJovem, organização que atua com juventudes amazônicas e questões climáticas, em um encontro que rapidamente chamou a atenção nas redes sociais.

O momento descontraído viralizou e gerou rumores de que o item seria um “perfume afrodisíaco” associado a rituais de sedução, o que não corresponde à realidade. Quem entregou o presente foi Karla Braga, fundadora e diretora executiva da entidade, que conversou com a reportagem no Free Zone Cultural Action de Belém, nesta quarta-feira, 12.

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Ao Terra, Karla explicou o contexto da entrega do frasco. “O British Council é um dos financiadores da CoJovem. Então quando a gente foi convidado para ir para essa reunião no museu, eu pensei que eu iria simplesmente para uma reunião com financiadores. Mas chegando recebi a notícia que o príncipe William iria estar lá. E aí a gente ficou assim: ‘Boa, vamos conversar com tomador de decisão'", contou. 

De acordo com ela, o encontro foi uma oportunidade de levar a voz das juventudes amazônicas diretamente a um líder internacional. “Sempre nessas ocasiões a gente aproveita para levar a palavra das juventudes, e, sobretudo, de que investir nas juventudes amazônicas é conservar o futuro do planeta.”

Karla Braga, fundadora e diretora executiva do Instituto COJOVEM, explicou o que tinha  em frasco que entregou ao príncipe William
Karla Braga, fundadora e diretora executiva do Instituto COJOVEM, explicou o que tinha em frasco que entregou ao príncipe William
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O “cheirinho” e a mensagem por trás do presente

O frasco entregue ao príncipe continha o que Karla chama de “cheirinhos” com mensagens simbólicas. “Um dele é o famoso 'atrai financiamento, orçamento para as juventudes', e foi esse que eu dei para o príncipe", contou. "Estava falando para ele da situação que nós, juventude no estado do Pará, vivenciamos, que o investimento em políticas públicas aqui é de menos de 1 centavo por jovem no ano de 2025", acrescentou.

Ela conta que o momento teve caráter lúdico e descontraído. “Ele [princípe] foi muito descontraído, riu bastante com a gente, e a intenção dos cheirinhos é justamente essa: quebrar esse clima pesado em que as juventudes amazônicas estão inseridas. Para a gente conversar com tomadores de decisão, a gente faz questão também de quebrar esse clima e de falar de uma maneira lúdica, descomplicada, artística, cultural, como é o caso que o Instituto CoJovem faz.”

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Karla durante entrevista ao Terra nesta quarta-feira, 12
Foto: Isabella Lima/Terra

Juventudes amazônicas em foco

Karla fundou o Instituto CoJovem em 2020, junto a outros jovens embaixadores da ONU. “O nosso sonho era reduzir as desigualdades entre as juventudes aqui na Amazônia Legal, se comparadas com outro eixo do Brasil, como o eixo Centro-Sul. A gente aqui tem muita dificuldade de ter políticas públicas que fortaleçam os nossos direitos, então a gente vive uma situação de precariedade”, destacou. 

Hoje, a instituição atua do regional ao internacional, com foco no fortalecimento de direitos socioambientais de juventudes na Amazônia Legal, através de pesquisa, advocacy e formação de base. Karla também destacou a importância da COP para a causa da organização: “Esta é a nossa quarta COP. A COP é uma oportunidade para dar visibilidade à nossa causa, para mostrar aos negociadores e tomadores de decisão a realidade amazônica do Sul Global. Muito se fala sobre a Amazônia na perspectiva internacional, mas pouco se vive a Amazônia."

Protagonismo jovem frente à crise climática

Para Karla, os jovens devem estar no centro das decisões sobre o futuro do planeta. “Os jovens, assim como as crianças, vão vivenciar os impactos da crise climática por mais tempo. Nós somos os herdeiros das decisões que estão sendo tomadas agora, e das que não estão sendo tomadas também", argumentou.

Para reforçar a importância do protagonismo jovem, o CoJovem divulgou na quarta-feira o resultado da Pesquisa Amazônia Jovem 2025, que mapeia percepções e desafios das juventudes amazônicas diante da crise climática. O estudo ouviu 667 jovens dos nove estados da Amazônia Legal, traçando um panorama sobre vulnerabilidade, identidade e pertencimento.

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Coordenada pelo pesquisador Pedro Mota, doutorando em Geografia, a investigação utilizou metodologias online e presenciais, superando barreiras de conectividade digital na região. O estudo adota uma definição ampliada de juventude, entre 18 e 35 anos, chamada de “juventude tardia”, marcada por responsabilidades precoces e oportunidades adiadas. Um dado positivo é o aumento do sentimento de pertencimento: em dois anos, o número de jovens que se reconhecem como amazônidas subiu de 50% para 80%

No entanto, os resultados mostram que 78% dos jovens vivem em contextos de conflito territorial, marcados por disputas de terra, desmatamento e violência, e 80% relatam sintomas de ansiedade quanto ao futuro de seus territórios. O desmatamento é apontado como o impacto ambiental mais citado, reforçando que a crise climática amplia desigualdades históricas.

"Para mudar essa realidade, precisamos incluir o jovem no lugar de tomada de decisão. O nosso ponto de vista é diferente da herança que as gerações passadas deixaram para a gente. Vivemos um cenário extremamente calamitoso na perspectiva climática, mas não fomos nós que construímos isso. Para construir outras perspectivas de mudança para um futuro possível, precisamos ter a juventude não só no menu, mas sentada à mesa e tomando decisões também", destacou Karla ao Terra.

*A repórter viajou a convite da Motiva, idealizadora da Coalizão pela Descarbonização dos Transportes.

Fonte: Portal Terra
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