Com informações da correspondente da RFI em Ramallah, Alice Froussard, e da AFP
Um funeral realizado neste sábado (20) na Cidade de Gaza ilustra a frequente violação do cessar-fogo pelas forças israelenses. Na véspera, um projétil lançado por um tanque atingiu o segundo andar do prédio de uma escola onde estava sendo celebrado um casamento. No total, seis pessoas morreram, entre elas, um bebê de quatro meses e uma adolescente de 14 anos.
As violências nunca cessaram completamente na Faixa de Gaza: desde que a trégua entrou em vigor, em 10 de outubro, ao menos 401 palestinos morreram em agressões israelenses, entre bombardeios aéreos, disparos de artilharia e operações militares. "Isso não é uma trégua, é um banho de sangue, queremos que isso termine", declarou Nafiz al‑Nader, diante do hospital Al‑Shifa, para onde foram levadas as vítimas do ataque de sábado.
As violações do cessar-fogo são registradas até mesmo em questões privilegiadas pelo acordo, como a distribuição da ajuda humanitária. Israel continua bloqueando a livre circulação de alimentos e medicamentos no enclave palestino.
Próxima fase do acordo
O emissário norte-americano Steve Witkoff conduziu na sexta‑feira (19), em Miami, uma reunião com representantes da Turquia, do Catar e do Egito, mediadores do acordo, com o objetivo de fazer um balanço da primeira etapa do plano norte-americano para a paz na Faixa de Gaza e intensificar os preparativos para avançar para a próxima fase.
"Reafirmamos nosso total compromisso com a integralidade do plano de paz de 20 pontos do presidente [Donald Trump] e pedimos que todas as partes cumpram suas obrigações, ajam com moderação e cooperem com os mecanismos de monitoramento", declarou Witkoff em um comunicado publicado em sua conta no X.
A segunda fase do plano norte-americano prevê o desarmamento do grupo Hamas, a retirada progressiva do exército israelense de toda a Faixa de Gaza, a criação de uma autoridade de transição e o envio de uma força internacional ao enclave palestino. Segundo Witkoff, novas consultas serão realizadas nas próximas semanas para o avanço na implementação do compromisso.
Colonização da Cisjordânia
Dificilmente a paz na Faixa de Gaza, se alcançada, resultará em uma reconciliação entre os dois povos. O governo de Benjamin Netanyahu anunciou neste domingo que a aprovação dos novos assentamentos na Cisjordânia tem o objetivo de impedir a criação de um "Estado palestino terrorista". Com a decisão, o total de colônias autorizadas nos últimos três anos já chega a 69, segundo um comunicado divulgado pelo gabinete do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich.
A nota afirma que a proposta foi concebida em parceria com o ministro da Defesa, Israel Katz. "Continuaremos desenvolvendo, construindo e povoando a terra de nossa herança ancestral, com confiança na justiça do nosso caminho", reitera o documento.
A direita ultranacionalista israelense costuma se referir à Cisjordânia como "Judeia e Samaria". Ocupado desde 1967, o território abriga hoje assentamentos onde vivem cerca de 500 mil israelenses. O local é palco de uma tensão permanente, com confrontos frequentes entre esses colonos e os aproximadamente três milhões de habitantes palestinos.
Há poucos dias, as Nações Unidas alertaram que essas construções israelenses na Cisjordânia - consideradas ilegais pelo direito internacional - atingiram seu maior ritmo desde 2017.