Conflito entre Camboja e Tailândia já forçou mais de 900 mil pessoas a fugirem de casa

O conflito entre o Camboja e a Tailândia já provocou o deslocamento forçado de mais de 900 mil pessoas só em dezembro, além de dezenas de mortes nas últimas duas semanas. Os confrontos se concentram na fronteira entre os dois países e têm origem histórica, que se arrasta desde o período colonial francês.

21 dez 2025 - 14h51

Do lado cambojano, mais de 500 mil pessoas foram deslocadas devido ao conflito, anunciou o governo local neste domingo (21), véspera de mais uma tentativa de negociação para acalmar as tensões entre os dois lados.

"Mais de meio milhão de cambojanos, incluindo mulheres e crianças, estão passando por graves dificuldades devido ao deslocamento forçado de suas casas e escolas para escapar dos tiros de artilharia, foguetes e bombardeios aéreos realizados por (aviões de combate) F-16 tailandeses", informou o Ministério do Interior do Camboja em um comunicado, estimando em 518.611 o número total de pessoas evacuadas.

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Na Tailândia, cerca de 400 mil pessoas foram deslocadas devido à retomada do conflito na fronteira entre os dois países, segundo Bangkok. O porta-voz do Ministério da Defesa tailandês, Surasant Kongsiri, disse aos jornalistas neste domingo que o número de pessoas deslocadas e alojadas em abrigos diminuiu, embora mais de 200 mil ainda se encontrem nos centros de evacuação.

Ele pediu aos moradores autorizados a voltar para suas casas que sigam atentamente as instruções, "pois ainda pode haver minas ou bombas perigosas".

Apelos a um cessar-fogo

O conflito tem origem em uma antiga disputa sobre 800 km de demarcação da fronteira estabelecidos na época colonial francesa, bem como uma série de templos antigos localizados ao longo da zona limítrofe.

Cada lado acusa o outro de instigar os confrontos e atacar civis. Anteriormente, dezenas de pessoas morreram em julho em cinco dias de combates.

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A China, a União Europeia, os Estados Unidos, a ONU e a Malásia, além do presidente da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), pediram um cessar-fogo.

"Oportunidade para ambas as partes"

O Camboja, cujo exército é inferior ao de Bangcoc em termos de recursos, destacou neste domingo que as forças tailandesas continuaram seus ataques ao amanhecer, relatando combates perto do templo khmer de Preah Vihear, com 900 anos de história, cobiçado pela Tailândia.

De acordo com os balanços oficiais, os confrontos causaram pelo menos 41 mortos - 22 do lado tailandês e 19 do lado cambojano - desde o reinício dos combates em 12 de dezembro. Em julho, um episódio anterior de violência causou 43 mortos em cinco dias.

Os ministros das Relações Exteriores da Asean, junto aos da Tailândia e do Camboja, devem se encontrar nesta segunda-feira (22) em Kuala Lumpur, capital da Malásia, para uma reunião especial destinada a discutir o conflito.

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O Camboja e a Tailândia afirmam que esta reunião deverá alcançar um arrefecimento das tensões na fronteira. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros tailandês, Maratee Nalita Andamo, disse que se trata de uma "oportunidade importante para ambas as partes".

Ela reiterou as condições prévias para as negociações, incluindo a exigência de Bangcoc de que o Camboja anuncie primeiro um cessar-fogo e coopere nos esforços de remoção de minas na fronteira.

No entanto, o governo tailandês não deu nenhuma garantia quanto ao resultado de uma trégua, declarando em um comunicado que "um cessar-fogo só pode ser obtido baseando-se principalmente na avaliação da situação no terreno pelo exército tailandês".

"Posição firme"

O Ministério das Relações Exteriores do Camboja declarou que a reunião tem como objetivo acalmar as tensões e restabelecer "a paz, a estabilidade e as relações de boa vizinhança".

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O governo cambojano reafirmou a "posição firme" do país "para pôr fim às disputas e conflitos por todos os meios pacíficos, diálogo e diplomacia".

No final de outubro deste ano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a garantir ter resolvido o conflito após presidir a assinatura de um acordo de cessar-fogo, mas este foi suspenso pouco depois por Bangcoc.

Tanto os EUA, como a China, a União Europeia, as Nações Unidas e a presidência malaia da Associação das Nações do Sudeste Asiático apelam para um cessar-fogo.

O chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, disse na sexta-feira (19) esperar que os dois países restabeleçam a trégua até segunda (22) ou terça (23), em um momento em que se intensificam os esforços diplomáticos para pôr fim ao conflito.

A China, por sua vez, mandou na semana passada o seu enviado especial para os assuntos asiáticos ao Camboja e à Tailândia, em uma tentativa de mediação. Ele se reuniu com o primeiro-ministro Hun Manet em Phnom Penh, capital do Camboja, e também apelou para uma trégua, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros cambojano.

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(RFI com AFP)

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