Parceria histórica com Brasil garante sucesso de lançamentos da Base Espacial da Guiana Francesa

O Centro Espacial da Guiana Francesa (CSG) é a principal porta de acesso da Europa ao Espaço. Mas sozinha a base de lançamento de Kourou não pode garantir a segurança dos voos e precisa de estações de monitoramento de foguetes espaciais espalhadas pelos quatro campos do mundo, como o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, em Natal. O Brasil é um dos parceiros históricos da Agência Espacial Europeia, que está completando 50 anos.

29 jul 2025 - 09h56
(atualizado em 30/7/2025 às 05h20)

O Centro Espacial da Guiana Francesa (CSG) é a principal porta de acesso da Europa ao Espaço. Mas sozinha a base de lançamento de Kourou não pode garantir a segurança dos voos e precisa de estações de monitoramento de foguetes espaciais espalhadas pelos quatro campos do mundo, como o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, em Natal. O Brasil é um dos parceiros históricos da Agência Espacial Europeia, que está completando 50 anos. 

Adriana Brandão, enviada especial da RFI a Kourou*

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De Kourou são lançados os foguetes europeus Ariane 6 e Vega C utilizados para colocar satélites em órbita ou para missões interplanetárias. Os lançamentos são preparados minunciosamente durante meses e até anos antes da data prevista. A segurança dos voos é de responsabilidade do CNES, a agência espacial francesa, proprietária do Centro Espacial da Guiana, que opera em parceria com a empresa Arianespace e a Agência Espacial Europeia (ESA).

Jean-Frédéric Alasa, diretor de Operações do CNES, diz que essa é uma cooperação complementar e estreita que começa muito antes de um lançamento.

"O diretor de Operações e o responsável de Missão da Arianespace são um binômio. A Arianespace gere o foguete e o diretor de operações a parte relacionada à base de lançamento e à segurança do voo", informa.

Ele detalha que a proteção de bens e pessoas e do meio ambiente é uma das missões soberanas do CNES. "Isso significa que quando o foguete decolar, se ele não estiver na trajetória correta, atuaremos, mas nas condições climáticas ideais para evitar que, em caso de queda, os destroços não caiam em áreas habitadas, por exemplo", explica. 

Monitoramento do voo

No último dia 29 de maio, a RFI pôde acompanhar o lançamento de um foguete Vega C, que colocou com sucesso em órbita o satélite Biomass da Agência Espacial Europeia. Assim que o foguete deixa a base de lançamento, ele é monitorado durante toda a sua trajetória.

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Os satélites podem ser colocados em órbita polar, ou geoestacionária, na linha do Equador. Nos primeiros minutos do voo, o rastreio é feito pelas poderosas antenas parabólicas da estação de Galliot, na Guiana Francesa, que fica a poucos quilômetros da base de lançamento de Kourou. Localizada em uma montanha, o local é protegido, cercado de arame farpado e com entrada restrita para evitar qualquer falha ou vazamento no esquema de segurança dos voos.

O brasileiro Cleberson Miranda trabalha na estação há mais de 20 anos. Ele nasceu na Guiana Francesa, mas é filho de brasileiros, e sonhava em integrar a equipe do Centro Espacial de Kourou desde criança.

"Nosso trabalho tem que ir até o fim da missão, quer dizer, ou o foguete vai ser desaorbitado ou ele vai ser passivado para ficar em órbita, mas sem perigo", indica o responsável pelo Sistema de Telemetria do CNES.

Base da Barreira do Inferno de Natal

Em 10 minutos, os foguetes saem dos radares da estação de Galiot, que passa a contar com a ajuda de outras estações terrestres para monitorar os voos que duram em média duas horas. "Quando o voo é para o norte, a gente tem uma estação nas ilhas Bermudas, e quando é para o leste, a próxima estação é a de Natal. A gente tem um acordo com a Agência Espacial Brasileira, a AEB, e com o CLBI, que é o Centro de lançamento da Barreira do inferno".

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As bases de monitoramento terrestres espalhadas pelos quatro cantos do mundo, como a de Natal, passam a ser o "olho" do Centro Espacial da Guiana, que continua sendo o responsável pela segurança do voo. As antenas dessas bases recuperam a telemetria emitida pelo foguete e enviam para Kourou, que faz o tratamento dos dados. Essas parcerias são indispensáveis.

"É essencial. Não podemos lançar sem essas colaborações aí pelo mundo. Depois que o foguete é lançado, temos de monitorá-lo até ele não ser mais um perigo. A autorização de voo só é dada se tiver os meios de monitorar isso durante todo esse tempo", salienta o brasileiro.

Além de Natal, o centro espacial da Guiana conta, por exemplo, com a colaboração das bases de Malindi, no Quênia, que pertence à Agência Espacial Italiana, de Gatineau, da Agência Especial do Canadá, ou a New Norcia, localizada na Austrália e que pertence à Agência Espacial Europeia.

Parceria histórica

Mas a parceira com o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno é a mais antiga. O Brasil participa do monitoramento dos foguetes lançados de Kourou desde o início e foi o segundo país a assinar um acordo com a Agência Espacial Europeia em 1977, depois da Índia. A cooperação para a instalação na base brasileira de uma estação de telemetria para o rastreio dos foguetes europeus foi assinada somente dois anos depois da criação da ESA, em 1975.

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A Barreira do Inferno é o primeiro centro de lançamento de foguetes da América do Sul. Localizada no município de Parnamirim, a cerca de 12 km de Natal, a base da Força Aérea Brasileira foi fundada em 1965, com o objetivo de contribuir para o avanço de tecnologias espaciais brasileiras.

O coronel aviador Christiano Haag, diretor do CLBI, ressalta que essa parceria com a ESA também é "muito importante" para o Brasil. "A Agência Espacial Europeia é responsável pela instalação e manutenção dos equipamentos e, mais importante, pela atualização da nossa estação. É ainda disponibilizado um treinamento para os recursos humanos e existe um pagamento financeiro que entra com os cofres públicos", informa o coronel.

Fabrizio Fabiani, diretor do programa Vega na Arianespace, lembra que a base de Natal é usada quase sempre nas "missões geoestacionárias" e que essa "parceria histórica com o Brasil é muito importante e robusta".

Uma parceria de "sucesso e estratégica" para o desenvolvimento do programa espacial das duas agências, ressalta o coronel Christiano Haag, garantindo que "até hoje nós tivemos 100% de sucesso no rastreio dos foguetes lançados a partir de Kourou".

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Cleberson Miranda recorda que "a parceria com Natal existe desde o primeiro lançamento de Kourou" e espera que ela "ainda vá continuar um bom tempo".

*A viagem foi realizada a convite da Agência Espacial Europeia

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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