EUA realizam bombardeios contra o grupo EI na Nigéria sob justificativa de proteger cristãos

O presidente americano, Donald Trump, anunciou na quinta-feira (25) que os Estados Unidos realizaram vários bombardeios contra o grupo Estado Islâmico no noroeste da Nigéria. Segundo ele, a operação teve como alvo extremistas acusados de atacar comunidades cristãs na região.

26 dez 2025 - 05h54

"Eu havia prevenido anteriormente esses terroristas que se não parassem os massacres de cristãos, eles pagariam no inferno, e nesta noite, eles pagaram", publicou o presidente americano em sua rede social Truth Social.

Um míssil é lançado de uma embarcação militar americana em um local não identificado, nesta imagem extraída de um vídeo divulgado pelo Departamento de Guerra dos Estados Unidos, após bombardeios no noroeste da Nigéria, em 25 de dezembro de 2025.
Um míssil é lançado de uma embarcação militar americana em um local não identificado, nesta imagem extraída de um vídeo divulgado pelo Departamento de Guerra dos Estados Unidos, após bombardeios no noroeste da Nigéria, em 25 de dezembro de 2025.
Foto: © U.S. Department of War / X / RFI

O líder republicano reiterou que "o Ministério da Guerra realizou vários e perfeitos ataques, como apenas os Estados Unidos são capazes de fazê-lo". 

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Trump também voltou a acusar o grupo jihadista de promover ataques violentos contra cristãos e afirmou que os Estados Unidos não permitirão o avanço do terrorismo islâmico. O presidente americano ainda ameaçou realizar "muitos outros" bombardeios caso os massacres continuem na Nigéria.

Após a declaração, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos divulgou um vídeo curto mostrando o lançamento de um míssil a partir de uma embarcação militar. 

O Comando dos Estados Unidos para a África informou que o ataque ocorreu no estado de Sokoto, no noroeste da Nigéria, e foi realizado em coordenação com as autoridades do país. O secretário americano de Defesa, Pete Hegseth, agradeceu publicamente o apoio do governo nigeriano.

Em comunicado, o governo da Nigéria confirmou que a ação faz parte da cooperação de segurança com os Estados Unidos, que inclui troca de informações de inteligência e coordenação estratégica para lutar contra grupos armados. O objetivo é "combater a ameaça persistente do terrorismo e do extremismo violento", diz a nota.

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Os ataques foram os primeiros de forças americanas na Nigéria durante o governo Trump. Em outubro, o presidente americano criticou o país, ao afirmar que os cristãos nigerianos enfrentavam "uma ameaça existencial" equivalente a um genocídio. 

Trump já havia declarado anteriormente que poderia ordenar uma intervenção militar na Nigéria, alegando que o governo local não tem conseguido conter a atuação de grupos extremistas. Nos últimos meses, a narrativa sobre perseguição a cristãos no país vem ganhando espaço em setores conservadores dos Estados Unidos.

Ataques a cristãos e muçulmanos

A Nigéria é dividida entre o sul, de maioria cristã, e o norte, de maioria muçulmana. O país é palco de numerosos conflitos que matam fiéis das duas crenças, muitas vezes sem distinção.

O governo nigeriano e analistas independentes se recusam a falar em perseguição religiosa, um argumento usado há muito tempo pela direita cristã nos Estados Unidos, na Europa e por separatistas nigerianos que mantêm influência em Washington. Neste ano, o governo americano reinscreveu a Nigéria na lista de países "particularmente preocupantes" em matéria de liberdade religiosa e reduziu a concessão de vistos a nigerianos. 

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O país enfrenta um conflito jihadista de longa data no nordeste, assim como gangues armadas que saqueiam vilarejos e sequestram pessoas para pedir resgate no noroeste. No centro, criadores de gado, em sua maioria muçulmanos, e agricultores, em grande parte cristãos, entram frequentemente em confronto, embora a violência esteja mais ligada a disputas por terras e recursos do que à religião.

Recentemente, a ONU também alertou para um "aumento dos sequestros em massa", que frequentemente envolvem centenas de estudantes. Outras pessoas foram alvo em locais de culto durante sequestros distintos.

Segundo um relatório da SBM Intelligence, consultoria com sede em Lagos, o fenômeno dos sequestros mediante pagamento de resgate se "consolidou em uma indústria estruturada e lucrativa', que arrecadou cerca de US$ 1,66 milhão entre julho de 2024 e junho de 2025". 

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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