Bangalore: a cidade que mais cresce no mundo enfrenta risco de colapso hídrico e urbano

Bangalore, no sul da Índia, é a cidade que mais cresce no planeta: sua população triplicou em 20 anos e as projeções indicam crescimento anual da economia acima de 8%. Apple, Microsoft, KPMG, Intel, Adobe, Boeing: a maioria das multinacionais de tecnologia está concentrada na região, apelidada de "Vale do Silício indiano". Mas as infraestruturas da cidade, que já ultrapassa 14 milhões de habitantes, não conseguem acompanhar esse ritmo.

22 dez 2025 - 16h54

Nicolas Rocca, correspondente da RFI em Bangalore

Vista aérea de Bangalore, Índia, em 20 de novembro de 2025.
Vista aérea de Bangalore, Índia, em 20 de novembro de 2025.
Foto: © AFP - IDREES MOHAMMED / RFI

Atraídas pelo baixo custo da mão de obra, as gigantes da tecnologia que geram mais de US$ 22 bilhões por ano na cidade estão instaladas ao longo da Outer Ring Road, o anel viário externo de Bangalore. Com pistas cheias de buracos e trânsito lento, percorrer alguns poucos quilômetros pode levar meia hora. 

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"O ritmo de crescimento superou rapidamente a capacidade atual das infraestruturas. As pessoas passam, em média, três horas no trânsito. Para alguns, pode chegar a cinco!", explica Manas Das, presidente da Associação das Empresas da Outer Ring Road (ORRCA). 

As multinacionais instalaram na cidade os chamados centros globais de competência, que realizam atividades críticas antes reservadas às sedes mundiais. 

"As empresas vieram para Bangalore inicialmente pelo baixo custo da mão de obra. Mas hoje isso não é mais o principal atrativo. Elas sabem que aqui encontram profissionais altamente qualificados e experientes", afirma Das. 

Risco de falta d'água 

O resultado é um crescimento acelerado e demandas cada vez maiores, especialmente por água. As faltas durante o verão são frequentes. Para suprir a escassez, caminhões-pipa abastecem empresas e residências. 

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"Hoje, os parques tecnológicos são mais autônomos e resilientes. A disponibilidade de água não é tão crítica quanto há oito ou nove anos. Mas, com o ritmo atual, se não anteciparmos soluções, estaremos sempre correndo atrás do prejuízo. Podemos chegar a uma crise hídrica e ser obrigados a resolvê-la às pressas", alerta Das. 

Diante desse cenário, alguns sugerem frear o crescimento. 

"Bangalore parece já estar saturada. Mesmo assim, novas empresas chegam todos os dias. Seria preciso limitar o número de companhias que podem se instalar aqui e, ao mesmo tempo, adaptar as infraestruturas. Mas não acredito que isso vá acontecer", observa um empresário. 

As autoridades locais, ao contrário, fazem tudo para atrair novos investimentos: incentivos fiscais, subsídios, abertura de novos espaços. As projeções indicam crescimento anual acima de 8%. 

2 mil novos veículos por dia

Novos espaços surgem constantemente, como o Art Park, um enorme incubador que abriga diversas startups, entre elas a Uncharted AI. Seu diretor, Pradyumna Vyshnav, testa um robô no meio do galpão. A empresa, que atua inclusive no setor de defesa, deixou o Vale do Silício para se instalar em Bangalore. 

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"Claro que não tenho os mesmos recursos que teria em outros lugares. O ecossistema aqui ainda está em desenvolvimento. Mas é preciso estar presente para participar do diálogo sobre infraestrutura. Não podemos depender só do governo. Quando eles veem os empreendedores se instalando, são incentivados a ajudar", explica Vyshnav. 

Essa visão é compartilhada por Gaurav K Punjabi, responsável pela missão econômica digital do governo de Karnataka. "Temos 2 mil novos veículos registrados por dia, novas estradas, túneis, linhas de metrô… Quase 16 mil startups nasceram em Karnataka. Somos a cidade tecnológica que mais cresce no mundo. E qual megacidade não tem problemas de transporte? Estamos tentando acompanhar o ritmo", afirma Punjabi. 

Novos polos também surgem na periferia da capital regional. A região busca responder às preocupações de moradores e empresários. "Com essas condições e crescimento acelerado, seria natural esperar um êxodo de empresas para outros lugares. Mas não vejo nenhuma saída em massa. Por enquanto, elas avaliam se outras cidades oferecem vantagens semelhantes às de Bangalore", diz Das.

Algumas empresas, no entanto, já optaram por se instalar nos arredores ou migrar para outras metrópoles emergentes, como Hyderabad, considerada a nova concorrente do "Vale do Silício indiano".

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