Fast food na ceia e árvore com teias de aranha: conheça tradições insólitas de Natal ao redor do mundo

Ainda que o Natal seja uma festa cristã presente em diversos países, cada lugar tem sua maneira de celebrar. Alguns misturam tradições pagãs à festa, criando costumes insólitos ou até mesmo escatológicos.

22 dez 2025 - 16h54

Para europeus e brasileiros, isso pode parecer uma heresia, mas, para os japoneses, a tradição na noite de Natal é comer frango frito do KFC. Diz a lenda que o costume nasceu nos anos 1970. Um religioso queria celebrar o Natal em terras nipônicas como fazia em seu país de origem e, como não encontrou peru, teve de se contentar com o frango frito da famosa rede de fast food americana.

Japonesas passam pelo restaurante KFC em Tóquio, onde a tradição na noite de Natal é comer frango frito.
Japonesas passam pelo restaurante KFC em Tóquio, onde a tradição na noite de Natal é comer frango frito.
Foto: AFP - YUICHI YAMAZAKI / RFI

Mas, na realidade, a história tem mais a ver com marketing do que com saudades de casa. Em 1970, a primeira loja da Kentucky Fried Chicken foi aberta em Nagoya e, em seu quarto ano de atividade, o restaurante lançou a campanha publicitária "Kentucky for Christmas" ("Kentucky para o Natal"), que fez um sucesso estrondoso em um país ainda não familiarizado com as tradições natalinas. Além disso, a campanha contribuiu para a popularização das chamadas "Party Barrels", como são conhecidas as reuniões que acontecem em 24 de dezembro, sinônimo da celebração ocidental e da ceia natalina.

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Atualmente, o KFC propõe no Japão um menu de Natal desde o começo de novembro, que deve ser encomendado com antecedência para evitar esperas de até duas horas na fila para conseguir a disputada "ceia".

Andar de patins

Na Venezuela, a tradição de Natal é ir à missa de patins. São as chamadas "patinatas", quando crianças, jovens e também adultos saem às ruas com seus patins, além de bicicletas e patinetes, entre os dias 16 e 24 de dezembro, coincidindo com as missas que antecedem o Natal.

Devido à violência urbana, a tradição diminuiu. Nos bairros onde ainda é realizada, as ruas são fechadas e se transformam em parques, com barraquinhas de comida que oferecem pratos típicos dessa época do ano. As crianças deslizam livremente, ao som de músicas natalinas e usando gorros de Papai Noel.

A tradição surgiu de maneira espontânea em meados do século 20, quando as cidades do país começaram a se modernizar e as ruas asfaltadas facilitaram o uso dos patins.

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Tronco com dor de barriga

Na Espanha, são os Reis Magos que levam os presentes para as crianças no dia 6 de janeiro. Porém, a região da Catalunha tem uma tradição diferente e um tanto escatológica na noite de Natal: o cagatió, um tronco que literalmente "defeca" os presentes.

O Tió de Natal é um tronco de cerca de 40 cm, com rosto, pernas e um chapeuzinho usado por antigos camponeses da região, coberto com uma manta. Ele pode ser comprado em lojas ou feito em casa, com papel ou outros materiais. Durante algumas semanas antes do dia 24 de dezembro, ele é "alimentado" com bolachas ou frutas. No dia de Natal, as crianças batem no tronco com um pau, e ele "expele" presentes e doces.

A tradição tem origem rural e vem de antigas práticas pagãs que tinham o objetivo de propiciar abundância durante o período do inverno.

Antigamente, o pedaço de tronco era queimado na lareira, em um ritual para espantar maus espíritos. Costumava queimar da noite de Natal até a de Reis e, depois, era colocado em um lugar discreto da casa como amuleto protetor.

Natal ou Halloween?

Na Ucrânia, não há apenas enfeites tradicionais na árvore de Natal, mas também muitas aranhas (falsas) e teias. Reza a lenda que uma senhora idosa não tinha dinheiro para comprar decorações natalinas. Um dia, sua árvore foi coberta de teias, que se revelaram ser de ouro e prata. Desde então, a tradição popular diz que encontrar uma teia de aranha na manhã de Natal traz boa sorte.

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E você já ouviu falar do "picles de Natal", que supostamente viria da Alemanha? Um ornamento em forma de picles é escondido na árvore de Natal, entre as bolas decorativas. A primeira criança que o encontra recebe um presente a mais.

Muitas lendas tentam explicar essa tradição, entre elas a história de um soldado alemão durante a Guerra Civil Americana. Prisioneiro e à beira da inanição, ele implorou a um guarda compassivo por um último picles antes de sua morte iminente. Comovido, o guarda atendeu ao pedido e lhe entregou o picles. Milagrosamente, aquele alimento lhe deu força e resiliência para perseverar, tanto mental quanto fisicamente, permitindo-lhe sobreviver contra todas as probabilidades.

No entanto, aparentemente a história teria outra origem e, como muitas tradições natalinas, seria apenas mais uma estratégia de vendas. Provas históricas sugerem que ela foi inventada no final do século 19 como estratégia de marketing para promover decorações de vidro alemãs em lojas americanas.

Na verdade, a afirmação de que se trata de uma antiga tradição alemã é um mito, e poucas pessoas na Alemanha conhecem essa história.

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