Com formação de equipes, batalhas de rima estão virando esporte?
Nomes de peso, como Big Mike, são contratados para formação de times, indicando um novo cenário da cultura de rimas
No contexto de crescente visibilidade das batalhas de rima no Brasil, artistas (mais homens do que mulheres) começam a ser contratados por clubes de futebol, como o Corinthians, e equipes de e-sports, como MIBR, para representá-los nas arenas de improviso.
Com o surgimento, em Goiânia (GO), do Favera Freestyle, vai se configurando um novo cenário, fruto das batalhas de rima: a formação de times. Já existem pelo menos cinco no país, em locais com maior e menor tradição na cultura de rua, como São Paulo e Espírito Santo, alguns ligados a times de esportes eletrônicos.
“Assim como os e-sports romperam as barreiras do entretenimento, o freestyle já vem sendo reconhecido como uma modalidade competitiva de verdade, com atletas, times e impacto social", afirma Raphael Gustavo, um dos fundadores do Favera Freestyle.
O nome vem da junção de “favela” com “Vera Cruz”, conjunto habitacional da periferia da zona oeste de Goiânia. O time é de quebrada, os integrantes são crias, e a representatividade é nacional, como Winnit, de São Paulo, e Vitu, de Pernambuco.
Kaemy, de Goiás, é a camisa 1 e capitã do time Favera Freestyle. Ela é tricampeã estadual e campeã nacional em 2023, é uma das maiores referências do freestyle feminino no Brasil, com títulos estaduais, nacionais e a relevante Batalha do Largo, em São Paulo.
Equipes com nomes de peso, de vários estados
A formação de equipes é recente. No início de junho, foi formado o primeiro time de batalhas do Espírito Santo, o Time Grita, com três rimadores. “Vai chegar muita informação nova, cola com a gente, segue geral”, convoca Peter do Busão, o camisa 01 do time que tem Pedrin e Kael.
Em fevereiro deste ano, foi anunciado o time Cobras, lançado pela ObraDigital, administradora de direitos autorais. Reúne MC Noventa, veterano do freestyle; Martzin, de Minas Gerais, atual campeão do Duelo Nacional de MCs; e Tubarão MC, conhecido por sua energia explosiva.
No final do ano passado, o Corinthians reforçou o time de e-sports com MC Magrão e Jotapê. Eles se juntam a um time de peso, que tem J Bask e Big Mike – multicampeão, venceu disputas como a Batalha da Aldeia, a maior do país, e o Red Bull FrancaMente.
Há um ano, a organização de esportes eletrônicos MIBR (Made in Brazil) criou o MIBR Rap Clube, com três nomes de peso no cenário de batalhas de rima, Neo, Apollo e Maria. A empresa promete oferecer fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista, escritório para criação de conteúdo e salários competitivos.
Quanto ganham os improvisadores?
Em geral, as grandes competições brasileiras de rima pagam prêmios em dinheiro. Os contratos para integrar equipes preveem que as premiações fiquem com artistas. No ano passado o Duelo Nacional de MCs pagou R$ 40 mil ao campeão, e a Batalha da Aldeia, R$ 100 mil, no evento de oito anos.
O mercado de equipes ainda está em construção e os acordos financeiros variam dependendo das trajetórias dos artistas, momento da carreira, das projeções e das possibilidades. No Favera Freestyle, “os acordos preveem a participação em projetos como filmes, séries, apresentações musicais”, diz Rafael Gustavo, um dos idealizadores do time.
Isso significa que, além de integrarem times e poderem receber sozinhos os prêmios das batalhas, rimadoras e rimadores passam a ser agenciados, criando possibilidades de atuação e fortalecimento da cena. A conferir em futuro próximo.