2026 começa com dois espetáculos teatrais sobre as realidades periféricas de SP
Montagens do Circo Teatro Palombar, da zona leste da capital paulista, são inspirados nos corres cotidianos da quebrada
O Circo Teatro Palombar inicia 2026 com dois espetáculos que exaltam as vivências da periferia de São Paulo, refletindo criatividade, identidade cultural e os desafios cotidianos da quebrada.
O ano de 2026 começa com dois trabalhos do Circo Teatro Palombar: o espetáculo Karaokê Palombar, com temporada no Sesc Santo Amaro de janeiro a fevereiro, e a estreia de Somos Periferia – Potência Criativa!, no final de janeiro, na sede do grupo, o Centro Cultural Arte em Construção, em Cidade Tiradentes, extremo da Zona Leste de São Paulo.
O Karaokê Palombar chega com aquela cara de rolê conhecido. Máquina de karaokê, música popular, ficha na mão e vontade de cantar. Tudo muito parecido com o que acontece nas quebradas de São Paulo. Mas, como é do Palombar, nada fica só no óbvio. Entre um hit e outro, quem sobe pra cantar acaba entrando num jogo inesperado de circo, humor e improviso.
Do piseiro ao sertanejo, do brega ao forró, a música ao vivo segura o clima de rua. O público participa, canta junto, se reconhece. A sensação é de estar num karaokê do bairro, mas atravessado pela linguagem do circo contemporâneo. É simples, direto e cheio de identidade. Um espetáculo que entende de onde vem e com quem está falando.
Espetáculo com dez artistas no palco faz estreia
Essa mesma lógica de observação aparece com ainda mais força em Somos Periferia – Potência Criativa!, novo trabalho do grupo, criado a partir da vivência real em Cidade Tiradentes. O bairro não aparece só como pano de fundo, mas vira matéria-prima da dramaturgia.
São dez artistas no palco, como se fosse uma banda grande e fora do comum, que mistura música, circo, dança e ações do dia a dia, transitando pela vida de bailarinas, grafiteiros, trabalhadores, jovens que atravessam a cidade cedo, voltam tarde e ainda encontram energia pra criar. Não como personagens inventados, mas como corpos que carregam o bairro no gesto, na ginga, no ritmo.
As acrobacias dividem espaço com movimentos simples, criando um paralelo claro entre o risco do circo e os desafios da vida real. A trilha sonora, tocada ao vivo, nasce das referências de quem vive ali. É juventude, brasilidade e território pulsando juntos.
Trabalho do Palombar é papo reto
Com quase 15 anos de caminhada, o Circo Teatro Palombar segue firme no mesmo lugar onde nasceu. O nome vem do “palombar”, prática de reforçar o pano do circo com cordas, símbolo de trabalho coletivo e resistência. E isso não é discurso, é prática.
O Palombar olha pra vida da periferia sem filtro, presta atenção nos detalhes desse corre diário e transforma o que muita gente chama de comum em arte com identidade. Cada cena reforça a ideia de que a periferia produz arte, pensamento e linguagem própria. E faz isso com a beleza da sua força.
Seja cantando no karaokê ou ocupando o picadeiro com histórias da quebrada, o Palombar continua fazendo o que sempre fez. Valorizar a cultura de quebrada, sem romantizar, sem exagerar, no papo reto. Arte feita por quem vive o território e pra quem sabe que a periferia é, sim, potência criativa.