Para ambientalista que estará na COP 30, "muita gente está sendo deixada de fora”
O Visão do Corre mostra mais uma liderança periférica amazônida que participará da conferência do clima em Belém (PA)
Jovens lideranças têm criticado a exclusão de representantes periféricos nos espaços de decisão da COP 30. Porém, em plenárias alternativas da própria Conferência, e fora delas, articulam para que vozes indígenas, ribeirinhas, quilombolas e periféricas sejam ouvidas. Conheça uma dessas articuladoras.
“Sou Liliane Santos, mulher ribeirinha da Amazônia Paraense, da Terra do Meio, onde o rio Iriri me ensinou a ouvir a floresta e respeitar os encantados.” É de forma poética que a ativista de 23 anos, da cidade de Altamira, responde à primeira pergunta do Visão do Corre.
Ela participa do programa Guerreiros sem Armas (GSA), de formação de lideranças periféricas, realizado em Santos, litoral paulista, até o final de julho. Liliane é uma das 42 pessoas de dez países que fazem a imersão teórico-prática na Vila Esperança e Natal, em Cubatão, Baixada Santista.
Em Altamira, a maior cidade brasileira em extensão, com quase 160 mil quilômetros quadrados, Liliane fundou o coletivo Olhos do Xingu, de ativismo ambiental e comunicação comunitária.
A jovem ativista estará na COP 30 e conversou com o Visão do Corre, que vem mostrando representantes de periferias que estarão na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Onde fica e como é a Terra do Meio?
A área se situa entre as bacias hidrográficas dos rios Xingu e Tapajós, funcionando como um corredor ecológico entre dois dos principais sistemas fluviais da Amazônia brasileira.
Se é Terra do Meio, não é periferia.
Embora esteja geograficamente no meio da floresta, a região pode ser compreendida como uma periferia político-social: marcada por histórico abandono estatal, ausência de políticas públicas continuadas e forte pressão de atividades ilegais como grilagem, garimpo e desmatamento.
Como começou sua atuação?
Com o desejo de contar as histórias da minha comunidade — e por isso me envolvi com a comunicação comunitária, com a luta por justiça climática e pela valorização das juventudes amazônidas.
Como será sua participação na COP 30?
Não fui convidada oficialmente para nenhum painel ou evento institucional da zona azul da COP30, que é a área restrita aos negociadores, chefes de Estado e organizações credenciadas pela ONU. Estarei presente com a credencial da zona verde, a Green Zone, que é um espaço aberto à sociedade civil, coletivos, juventudes, povos tradicionais e organizações populares.
É uma participação efetiva?
Não diminui a importância, pelo contrário. A COP é muitas vezes vista como um espaço distante, protocolar e burocrático, mas é na Green Zone que os debates mais vivos e conectados com a realidade acontecem. É onde as vozes das periferias, dos territórios e da floresta ecoam sem filtro.
Qual sua opinião sobre as pessoas convidadas para a COP 30?
Acredito que mais pessoas como eu — jovens ribeirinhas, mulheres, comunicadoras populares — deveriam ser convidadas oficialmente. Pessoas que vivenciam os impactos da crise climática na pele, que atuam nos territórios e que têm propostas concretas. Se a COP quer de fato ser inclusiva e representar soluções reais, essas vozes precisam estar no centro.
Quais são suas expectativas?
Caminham entre a esperança e a firmeza da denúncia. A esperança está em ver os territórios amazônicos no centro do debate climático mundial, com a possibilidade de escancarar o que vivemos — e o que fazemos há séculos para manter a floresta viva.
E a firmeza da denúncia?
O espaço ainda é muito desigual, e as soluções reais não virão se continuarem ouvindo apenas governos e grandes instituições. Muita gente está sendo deixada de fora, e isso enfraquece qualquer proposta de solução. Que COP é essa que fala de clima, mas não escuta o calor do chão?