Exclusivo: descobrimos o dia, mês e ano dos prédios da Cohab 2 em Itaquera, SP

O conjunto Cabriúvas, com 1.140 apartamentos, localizado no setor N da Cohab 2, em Itaquera, zona leste de São Paulo, completa 45 anos hoje. É a partir desta reportagem que essa e outras datas precisas passarão a circular pela internet, ajudando a esclarecer o apagamento de informações históricas.

A resposta genérica disponível é a de que “a Cohab 2 foi fundada em 1980”. Uma matéria da prefeitura de São Paulo fala em junho. E só. Nem buscadores, inteligências artificiais e a subprefeitura de Itaquera sabem quando o Conjunto Habitacional José Bonifácio foi inaugurado. Teses e artigos acadêmicos, idem.

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A pergunta sobre a data da inauguração parte de um equívoco porque a Cohab 2 é formada por vários conjuntos habitacionais. Eles foram construídos entre 1978 e as duas décadas seguintes. São 22.922 casas e apartamentos em blocos distribuídos em uma área de mais de 2,8 milhões de metros quadrados.

As datas exatas foram obtidas pelo Visão do Corre na Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo, a Cohab, que construiu as casas e prédios em Itaquera. A maioria é de 1980, com 14 construções. No mês de junho, quatro; no dia 30, o conjunto Cabriúvas, citado na abertura da reportagem.

 “É como ter RG sem data de nascimento”, diz morador sobre datas

A tabela obtida pela reportagem mostra dia, mês e ano de início e conclusão dos conjuntos habitacionais da Cohab 2. Informa, por exemplo, que em 1 de julho de 2025, há outro aniversário de 45 anos, do Aroeiras, setor G, com 416 casas.

“A falta de data dos prédios é como ter um RG sem data de nascimento”, critica João Alberto de Oliveira, morador pioneiro da Cohab 2. Em um dia inteiro, não encontramos quem soubesse a data de inauguração do seu conjunto habitacional. Nem a primeira moradora do Jacarandás II, que completará 45 anos no próximo dia 15 de outubro.

“Não sei de data certa não, meu filho. Sei que entrei em 1981 e sou a primeira moradora. Estava bem cru o apartamento, mas o vermelhão do chão era bom, saiu faz dois anos”, descreve Iracema Francisca de França, 73 anos. A pernambucana criou dois filhos em um apartamento de dois quartos.

O condomínio de Iracema é próximo à praça Brasil, a principal da Cohab 2, mas ela desconhece o nome oficial, Mãe Menininha do Gantois. “Já ouvi falar, mas não sei se era da praça”. Para o vizinho, “esse apagamento é porque não querem deixar o candomblé famoso”.

Praça com nome do país ou de religião de matriz africana?

Não há placa de inauguração na praça Brasil e a maioria dos entrevistados não sabe que o nome oficial é Mãe Menininha do Gantois. Há dúvida se o nome teria mudado e quando, a exemplo da acalorada discussão presenciada no bar Batomuche. Os que sabem o nome oficial, preferem o antigo.

Danilo Teixeira, 38 anos, cria da Cohab 2, sabe que “precisa preservar a cultura, a história, a ancestralidade, mas eu prefiro praça Brasil. Brasileiro prefere nome mais curto”. Seu amigo Marrom retruca: “É comprido para quem?”. E emenda: “Nada contra o Brasil, mas tudo a favor de Mãe Menininha”.

Segundo a subprefeitura de Itaquera, a praça se chama Mãe Menininha do Gantois desde 27 de agosto de 1987. “Quando começou era praça Brasil, depois mudou, mas ninguém conhece, não tem nada a ver. Toda a referência é praça Brasil, nem os mais antigos sabem”, defende Daniel Boni, proprietário da Vila do Goró, em frente à praça, há trinta anos.

Cohab 2 é para diferenciar dos primeiros conjuntos habitacionais

Na Cohab 2, quem fez muro, portaria, portão e placas com o nome dos conjuntos habitacionais foram os moradores. O nome oficial, completo, que engloba todos os prédios e casas, é Conjunto Habitacional José Bonifácio – Itaquera II/III.

A inauguração, com presença de autoridades como o presidente João Figueiredo, não foi coberta pela Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, nem Veja. O arquivo do principal jornal noticioso da Cohab 2, o José Bonifácio em Notícias, se perdeu.

Historiadores da quebrada, como Márcio Reis e Paola Hernandes, não avançaram além das teses e artigos científicos, que repetem a data genérica da inauguração em 1980. O Centro Cultural Casa da Memória, em Itaquera, não tem informações sobre as datas.

O fato é que o nome Cohab 2 foi dado pelos próprios moradores para diferenciá-la da Cohab 1, mais antiga, formada pelos conjuntos habitacionais Padre José de Anchieta, Manoel da Nóbrega e Manoel de Paiva, todos jesuítas da época da colonização. Suas datas exatas de nascimento e morte são facilmente encontradas.