Nova síndrome provoca dor e náusea severa após uso de substância entorpecente
O chamado "scromiting" tem despertado atenção de profissionais de saúde em vários países desde meados dos anos 2010. Conheça a nova síndrome que provoca dor e náusea após uso de substância entorpecente.
O chamado "scromiting" tem despertado atenção de profissionais de saúde em vários países desde meados dos anos 2010. Nos últimos anos, ele passou a aparecer com mais frequência em relatos clínicos e serviços de emergência. O termo combina as palavras em inglês "scream" (gritar) e "vomit" (vomitar) e descreve um quadro em que a pessoa apresenta vômitos intensos, episódios de gritos de dor e grande desconforto abdominal. Essa condição está associada principalmente ao uso crônico e pesado de maconha, em especial de produtos com alta concentração de THC.
Na literatura médica, o scromiting é descrito como manifestação extrema da Síndrome da Hiperêmese Canabinoide (SHC). Nessa síndrome, a pessoa que faz uso prolongado de cannabis passa a ter crises cíclicas de náusea, vômitos persistentes e dor abdominal forte, mesmo sendo alguém que, inicialmente, usava a substância para relaxar ou até para aliviar enjoos. Em muitos casos, os episódios se repetem por meses ou anos até que o vínculo com o consumo de maconha seja identificado.
O que é scromiting e como ele se relaciona à maconha?
A palavra-chave principal, scromiting, não é um diagnóstico formal, mas um termo popular para um quadro clínico severo ligado à hiperêmese canabinoide. A condição aparece geralmente em pessoas que fazem uso diário ou quase diário de maconha por longos períodos, muitas vezes em doses elevadas, seja fumando, vaporizando ou consumindo comestíveis. Assim, a presença de produtos mais potentes, concentrados e sintéticos, que se tornaram mais comuns até 2025, é apontada por especialistas como um dos fatores que podem ter contribuído para o aumento desses casos.
De maneira geral, o scromiting se caracteriza por:
- Vômitos repetidos e difíceis de controlar;
- Dor abdominal intensa, que pode levar a gritos ou agitação;
- Sensação de mal-estar geral, muitas vezes associada à desidratação;
- Alívio temporário com banhos quentes ou chuveiro em temperatura elevada.
Relatos médicos indicam que diversos pacientes passam por investigações extensas, com exames laboratoriais e de imagem, até que se faça a conexão entre os sintomas e o consumo prolongado de cannabis. Ademais, em muitos desses casos, a pessoa não relaciona o mal-estar à maconha, justamente por enxergá-la como algo que poderia, em tese, ajudar a aliviar enjoo ou ansiedade.
Quais são os sintomas do scromiting e por que os banhos quentes ajudam?
A descrição mais comum do scromiting envolve crises de náuseas intensas e vômitos contínuos, que podem durar horas ou até dias. Por sua vez, a dor abdominal pode ser localizada na parte superior do abdômen ou se espalhar por toda a barriga, com sensação de queimação ou cólica forte. Durante essas crises, a pessoa tende a apresentar:
- Vômitos em jato, repetidos em curtos intervalos;
- Incapacidade de manter alimentos e líquidos no estômago;
- Perda de peso em episódios recorrentes;
- Fadiga intensa e fraqueza;
- Em alguns casos, ansiedade e agitação pelo desconforto.
Um aspecto bastante relatado é a busca compulsiva por banhos quentes. Afinal, muitos pacientes passam longos períodos sob água quente, relatando alívio temporário da dor e das náuseas. A hipótese mais aceita é que o calor atue em receptores da pele e do sistema nervoso, desviando a atenção do organismo para outros estímulos e modulando a percepção da dor. Porém, esse comportamento, embora traga sensação passageira de melhora, não trata a causa do problema e pode até levar a quedas de pressão se o banho for muito prolongado.
Scromiting está em alta? O que os estudos apontam até 2025?
Nos últimos anos, serviços de emergência de países que passaram por ampliação do acesso à maconha, seja para uso medicinal ou recreativo, relatam aumento de casos suspeitos de síndrome da hiperêmese canabinoide e de quadros descritos na mídia como scromiting. Regiões dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e parte da Europa registraram esse crescimento a partir de meados da década de 2010, com novos dados sendo publicados até 2025.
Alguns fatores que ajudam a explicar essa tendência incluem:
- Maior potência da cannabis: cultivos e produtos mais concentrados em THC, como óleos e extratos;
- Uso contínuo ao longo de anos: consumo diário, desde a adolescência ou início da vida adulta;
- Disponibilidade de comestíveis e vaporizadores: formas de uso que podem levar a doses mais altas sem percepção imediata;
- Melhor reconhecimento clínico: profissionais de saúde mais atentos à relação entre vômitos crônicos e cannabis.
Estudos recentes apontam que nem todas as pessoas que fazem uso prolongado de maconha desenvolvem scromiting ou hiperêmese canabinoide. Há provável influência de fatores genéticos, sensibilidade individual e padrão de consumo. Ainda não há consenso sobre uma dose exata ou tempo mínimo de uso que leve ao quadro, o que reforça a necessidade de investigação caso a caso.
Quais são as possíveis causas do scromiting no organismo?
Embora a relação entre uso crônico de cannabis e scromiting esteja documentada, o mecanismo exato ainda é tema de debate científico. A principal hipótese envolve uma alteração do sistema endocanabinoide, que é responsável por regular funções como apetite, dor, temperatura corporal e respostas ao estresse. Em exposições prolongadas a altas doses de THC, esse sistema poderia passar a reagir de forma paradoxal.
Entre as teorias discutidas por pesquisadores estão:
- Efeito paradoxal do THC: a substância que em doses agudas pode reduzir náusea, em longo prazo passaria a desencadear vômitos e desconforto gastrointestinal;
- Acúmulo de canabinoides em tecidos gordurosos: o armazenamento da substância no organismo poderia levar a descargas intermitentes e imprevisíveis;
- Interferência na motilidade intestinal: alterações no ritmo de contrações do estômago e intestino;
- Interação com receptores de temperatura: o que ajudaria a explicar a melhora parcial com banhos quentes.
Como não existe marcador laboratorial específico para o scromiting, o diagnóstico costuma ser clínico, baseado na história de uso prolongado de maconha, na exclusão de outras causas e na observação de melhora após a interrupção do consumo.
Como é feito o tratamento e qual é o papel da interrupção da maconha?
Durante uma crise de scromiting, o atendimento médico costuma focar na estabilização do paciente. Assim, as principais medidas envolvem:
- Reposição de líquidos e eletrólitos por via oral ou intravenosa, para evitar desidratação;
- Medicações para náusea e vômitos, com escolha baseada em resposta individual;
- Analgésicos adequados para dor abdominal;
- Avaliação de exames para descartar outras causas de vômitos intensos.
Relatos clínicos indicam que, em muitos casos, antieméticos comuns têm efeito limitado. Por isso, equipes médicas podem testar diferentes combinações de medicamentos até encontrar o que oferece melhor resultado em cada situação. O elemento considerado mais importante, no entanto, é a interrupção do uso de maconha. Observa-se que, quando o consumo é suspenso por semanas ou meses, as crises tendem a diminuir ou cessar. Caso o uso seja retomado, há risco de retorno dos sintomas.
Alguns serviços de saúde orientam acompanhamento em programas de redução de danos ou tratamento para uso problemático de substâncias, especialmente quando a pessoa apresenta dificuldade em interromper a cannabis por conta própria. A abordagem envolve informação clara sobre a relação entre a droga e os sintomas, estratégias de manejo de ansiedade e, quando indicado, apoio psicológico ou psiquiátrico.
Por que falar sobre scromiting em 2025 é relevante para a saúde pública?
Com a ampliação do debate sobre legalização, uso medicinal e recreativo da maconha em diferentes países, o scromiting e a síndrome da hiperêmese canabinoide passaram a ser temas de interesse em saúde pública. A divulgação de informações atualizadas ajuda a reconhecer precocemente esse quadro e a evitar investigações desnecessárias ou tratamentos que não atuem na causa.
Para profissionais de saúde, conhecer os sinais do scromiting pode auxiliar no diagnóstico diferencial de pacientes com vômitos crônicos sem explicação aparente. Para a população em geral, entender que o uso crônico e em alta dose de cannabis pode estar associado a esse tipo de quadro permite tomar decisões mais informadas sobre padrões de consumo. Assim, a discussão em torno do tema, em 2025, se torna parte de um cenário mais amplo de cuidado com a saúde e de análise dos impactos do uso de substâncias psicoativas no cotidiano.