Excesso de melatonina em crianças pode causar náuseas, alterações de humor e até internações
O uso de melatonina entre crianças tem crescido nos últimos anos, especialmente com a popularização de gomas e balas vendidas como auxiliares do sono. No entanto, especialistas reforçam que o hormônio não deve ser administrado sem orientação médica.
A professora doutora Elisabeth Fernandes, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explica que o consumo em excesso pode trazer consequências importantes.
“Pode causar sonolência diurna, dor de cabeça, náuseas, alterações de humor e até interferir no desenvolvimento hormonal. Além disso, pode mascarar causas reais da insônia.”
Embora o risco de morte seja considerado raro, há registros de aumento no número de intoxicações acidentais em países como Estados Unidos e Austrália. “Os casos estão crescendo, principalmente com ingestão acidental de gomas e balas de melatonina. Na maioria são quadros leves, mas já houve internações. O risco de morte é muito raro, mas o perigo está na automedicação”, alerta a pediatra.
Quando a melatonina é realmente indicada
A substância só deve ser usada em situações bastante específicas, e sempre com acompanhamento médico. “Em crianças com autismo, TDAH ou alguns distúrbios neurológicos que apresentam distúrbio de sono. E sempre com prescrição e acompanhamento médico”, esclarece a Dra. Elisabeth.
"O uso não é rotineiro em pediatria. Pode ser considerado em situações específicas, sempre sob supervisão médica", complementa a Dra. Juliana Alves, pediatra e neonatologista especializada em Pediatria Integrativa e Funcional.
Antes de recorrer ao hormônio, as especialistas reforçam que a chamada higiene do sono deve ser prioridade. “Estabelecer horário regular para dormir e acordar, reduzir o uso de telas pelo menos 1 hora antes de dormir, criar uma rotina relaxante, com leitura, massagem ou banho morno, garantir ambiente silencioso, escuro e temperatura confortável, além de evitar brincadeiras muito agitadas no fim do dia. Essas medidas são comprovadamente eficazes e seguras para a maioria das crianças.”
A Dra. Juliana listou hábitos que podem melhorar o sono infantil:
Antes de pensar em melatonina, algumas estratégias podem ajudar:
• Higiene do sono: rotina consistente, horários regulares para dormir e acordar, ambiente silencioso e escuro.
• Exposição à luz natural pela manhã e redução de luz azul (telas) à noite.
• Atividade física adequada durante o dia.
• Relaxamento noturno: leitura, banho morno, técnicas de respiração.
• Nutrientes que participam da síntese natural de melatonina, como triptofano, magnésio e vitamina B6, obtidos por meio da alimentação (banana, aveia, sementes, oleaginosas, verduras verde-escuras).
Dra. Elisabeth lembra ainda que a melatonina não deve ser vista como suplemento comum. “É muito importante lembrar que melatonina não é vitamina nem chá calmante, é hormônio. E hormônio só se usa com indicação médica.”
Para a grande maioria das crianças, reforça a especialista, a solução para dificuldades com o sono está em limites e hábitos saudáveis. “Muito raramente a melatonina é necessária em pediatria. Prescrevê-la para qualquer dificuldade de sono infantil é banalizar um tratamento que deve ser exceção, não regra.”