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Combater a arrogância não é tão simples como parece

30 jun 2023 - 06h00
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Foto: Adobe Stock

Salve, salve!!! Salve-se quem puder.

Quem não conhece um amigo, amiga ou parente metido à besta que atire a primeira pedra. A soberba ou arrogância é o contrário da humildade e combatê-la não é tão simples quanto parece.

Acomete pessoas que se acham, literalmente, maiores ou melhores do que realmente são. Pode ser fruto de algum complexo de inferioridade, trauma de infância, mecanismo de defesa, necessidade de auto-afirmação ou mesmo um enorme desejo de ser aceito, respeitado e, por que não, amado.

O rastro deixado é de indignação, raiva, ódio e até tristeza. O metido nunca passa despercebido e é sempre lembrado. Dizem que um soberbo raiz sempre se resguarda para parecer humilde, mesmo sabendo que é uma farsa.

O adjetivo “soberbo” ou “soberba” também pode ser positivo. Uma comida soberba é excelente, saborosa. Uma viagem soberba foi inesquecível.

Já escrevi sobre cinco dos Sete Pecados Capitais: Preguiça, Ira, Inveja, Ganância e Gula. Basta clicar nos links. Luxúria fechará a série na semana que vem.

(Leia ouvindo a “Caixa de Petardos” do meu amigo sergipano DJ Prosa).

Arrogância, Pretensão, Metideza, Desdém

Logo que me sento numa mesa de bar ou restaurante, faço questão de perguntar o nome do garçom ao ser atendido. Além de ser educado, demonstra respeito por aqueles que vão me servir.

Com porteiros, recepcionistas, caixas de supermercado e pessoas simples gosto de tratá-los de igual pra igual. Estão ali ralando, servindo, ganhando uns poucos trocados e quase sempre sorrindo enquanto nos divertimos. Nada mais justo do que demonstrar respeito genuíno por eles. E um pouco de humildade e modéstia.

Já fiz amigos assim, principalmente com garçons como o Expedito, artista da noite no Albergue em Lagoa Santa. Era quase parte da turma de tão companheiro e presente. E o Giuseppe, garçom no hotel que ficamos na Sicília. Sujeito inesquecível de tão prestativo e simpático.

O soberbo trata essas pessoas como subalternas, como se não existissem. Vão te trazer comida e bebida matando sua fome e sede, mas nem assim o sujeito respeita ou olha nos olhos da pessoa. Quem destrata garçom e porteiro não pode ser pessoa do bem. Não falha nunca.

A definição deste Pecado Capital é: A soberba pode ser definida como orgulho excessivo. É a tendência de se considerar melhor do que as outras pessoas. É o pecado da pessoa extremamente vaidosa, que pensa e age como se estivesse acima de tudo e de todos. Seu oposto é a humildade.

Orgulho excessivo é pra compensar algum tipo de inferioridade. São pessoas que ao serem promovidas acham que se tornaram o presidente da empresa. Sobem numa caixinha de fósforos e agem como déspotas impiedosos.

Puxam o tapete de quem os ajudou, esquecem completamente quem, algum dia, deu uma mãozinha para chegarem onde estao. Escondem ou se envergonham de onde vem, de seu passado e origem, dos amigos antigos, dos lugares que frequentavam quando estavam “por baixo” e até de parentes próximos, essenciais em sua jornada.

E os novos ricos? Um dos piores tipos da humanidade. Se comportam como bilionários arrogantes e donos do mundo. A velha sabedoria popular já dizia que “quem tem esconde”. Especialmente nos dias atuais com tanta desigualdade no mundo. É cafona ostentar roupas, carros, posição social, relógios etc..

Não estou pedindo voto de pobreza a ninguém, apenas um pouco de solidariedade com os mais necessitados.

O pior tipo são aqueles que nada são, mas vivem como se fossem o Elon Musk. Destratam, esnobam, diminuem e desdenham justamente quem mais invejam. Quando você revela o destino de uma viagem eles dizem “Olha, estive lá ano passado e choveu quase todos os dias. Espero que tenha sorte esse ano.” Quando você diz ter ido a um restaurante numa certa cidade eles respondem “Mas você foi no Chez Pantola? Não? É o melhor restaurante da cidade com 7 estrelas da Goodyear.”

Ouvem alguém contar sobre uma promoção ou mudança de empresa e já emendam: “Também fui promovido no mês passado. Agora sou CFO da Mercearia do Lili e Embaixador dos Guaxinins Mancos junto à embaixada brasileira no Quirguistão. E essa empresa que você está indo trabalhar, sei não viu! Até outro dia reportava prejuízos recorrentes”.

São insuportáveis.

Pecado ou Virtude?

Experimente ser humilde ao jogar futebol. Será ignorado e não receberá um passe. Não verá a cor da bola, perderá todas as divididas e será substituído antes do fim do primeiro tempo por um técnico bufando pelas ventas. Passará despercebido pela imprensa e xingado pela torcida.

Para a Igreja Católica, a Soberba talvez seja o primeiro e pior de todos os pecados, pois dá origem a todos os outros. Mas também pode ser vista como uma qualidade dos vencedores, seja nos esportes, mundo corporativo ou entretenimento.

“A soberba é a crença de que se poderia estar no plano sem a presença divina”, explica o doutor em ciência da religião Rodrigo Caldeira. “A sociedade contemporânea é mais narcisista e individualista. Um certo grau de arrogância e soberba é premiado”, diz o psiquiatra José Outeiral, membro da Associação Psicanalítica Internacional e especialista em crianças e adolescentes. É o que revela artigo publicado recentemente na Superinteressante.

Passar a imagem de que é o melhor, e acreditar piamente nisso, não só assusta como inibe o inimigo, oponente, adversário, concorrente ou colega de trabalho. Na Vida, no trabalho, na escola, nos palcos e campos por aí, a autoestima em alta é essencial para nossa sobrevivência neste capitalismo cada vez mais selvagem.

Nas redes sociais todos querem ter razão e a soberba deita e rola. Cria desavenças, destrói amizades e famílias, fomenta cizânias, causa demissões e brigas gracas ao egocentrismo exacerbado de todos nós com um celular nas mãos. A AK-47 do tirador de onda no século 21.

Pra deixar de ser soberbo, basta olhar, observar e respeitar o próximo, este que está realmente perto e convivendo com você naquele momento.

Não é fácil, mas necessário.

Para ver e ler

Filme: A Rede Social / David Fincher (2010). Facebook é o grande mal da Humanidade.

Se existe um único calhorda nas tech companies este é Mark Zuckerberg. Muito pior em caráter do que seus pares Gates, Jobs, Bezos e Musk. Num eventual UFC torceria fácil pelo Elon.

O filme é essencial pra entender como funciona a soberba, o orgulho e a vaidade. Mostra a jornada do criador do Facebook e sua vida antes, durante e depois do sucesso da sua “criação”. Não só festas, viagens e bons momentos são retratados. Mostra também os bastidores e as sacanagens que rolaram por trás da rede e do negócio multi bilionário antes dele estourar.

A grande sacada, e também maior o problema, do facebook e suas variantes, Instagram e WhatsApp, foi ter liberado o desejo intrínseco e exibicionista de cada ser humano. Num show de narcisismo em escala planetária, cada indivíduo acha que sua Vida é melhor ou mais bacana que a do amigo, vizinho ou colega de trabalho.

Exponencialmente, isso elevou à enésima potência as diferentes condições sociais e financeiras de cada um, seus valores, qualidades e principalmente defeitos. Além das ansiedades, dilemas, traumas, complexos e necessidade de aceitação.

Ficar sem usar Facebook eu já consigo. Sem Insta e Zap é impossível, infelizmente.

Livro: O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde (1891). Ser pavão não é tudo.

A vaidade é característica intrínseca de uma pessoa soberba. É o escudo da beleza e aparência usado para esconder fraquezas, inseguranças, medos e angústias. Um mecanismo de defesa pra desviar a atenção de quem olha, observa e julga aquele belo exemplar da raça humana. Nem tão belo assim, ele ou ela se apavonam criando uma cortina de fumaça pra enganar quem se atreve a chegar perto e se relacionar com eles.

O clássico livro de Oscar Wilde retrata muito bem a vaidade. Na Inglaterra vitoriana do século XIX, Basil é um pintor em ascensão que apresenta ao seu amigo Henry o belo mancebo Dorian Gray. Este havia concordado em posar para o novo quadro do artista.

A amizade entre Henry e Dorian engata imediatamente. Ao ver o quadro pronto e sua imagem perfeita, Henry comenta sobre a beleza ameaçada do novo amigo, que vai envelhecer, enquanto a obra permanecerá perene. Dorian diz que faria tudo pra se manter eternamente belo numa espécie de pacto faustiano. Tragédias em sequência acometem sua Vida enquanto ele permanece belo como nunca.

O tema universal e o estilo único de Wilde, com humor ácido e olhar arguto, transformou o livro num clássico da literatura mundial. É uma crítica contundente à hipocrisia da sociedade inglesa da época que se transformava rapidamente.

(*) Pedro Silva é engenheiro mecânico pela PUC/MG, PhD em Materiais pelo Max Planck Institut de Düsseldorf, vive em Viena na Áustria, se olha no espelho apenas quando faz a barba e escreve semanalmente a newsletter Alea Iacta Est.

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