Adolescentes postam vídeos de 'despedida' na Austrália após nova lei entrar em vigor; entenda
Medida obriga plataformas a desativar contas de menores, reacendendo o debate entre proteção, saúde mental e risco de isolamento
A partir da última quarta-feira (10), no horário local, a Austrália passou a adotar uma das medidas mais duras já vistas no debate sobre infância e internet: a proibição do uso de redes sociais por menores de 16 anos. A notícia tornou-se um alívio por parte de muitos pais - e revolta (ou tristeza) por alguns adolescentes. Eles, por sua vez, passaram a se despedir publicamente de amigos e seguidores.
A regra, aprovada no fim de 2024, coloca o país como o primeiro do mundo a implementar uma restrição com esse alcance. Com o lema "Let them be kids" (deixem eles serem crianças), o governo afirma que a intenção é reduzir o contato de adolescentes com conteúdos impróprios, riscos de aliciamento e impactos negativos na saúde mental.
Quais redes entram na proibição e quais ficam de fora
Na prática, as plataformas incluídas na lei precisam desativar perfis já existentes de usuários com menos de 16 anos e também impedir novas contas nessa faixa etária. Entre os serviços listados estão: Instagram, Facebook, Threads, TikTok, Snapchat, YouTube, X, Reddit, Kick e Twitch (transmissões ao vivo).
Por outro lado, algumas plataformas não receberão bloqueios, entre elas YouTube Kids, Google Classroom, WhatsApp, Roblox e Discord. A justificativa é que a lei mira serviços cujo objetivo principal (ou significativo) é permitir interação social e publicação de conteúdo entre usuários.
Contas suspensas e "despedidas" nas redes
Com a entrada em vigor, começaram as remoções em massa. Autoridades afirmam que o TikTok já desativou cerca de 200 mil perfis, e a expectativa é de que "centenas de milhares" sejam bloqueados nos próximos dias. O governo exige que as empresas adotem filtros rapidamente e monitorem o cumprimento.
Enquanto isso, jovens e criadores de conteúdo transformaram o momento em um tipo de "último post". Circularam mensagens emocionadas como "Vou sentir falta de vocês", "Vejo vocês em alguns anos" e "Até mais, do outro lado", muitas acompanhadas de montagens com memes e lembranças da trajetória online.
Também houve reação política. Parte dos adolescentes direcionou críticas ao primeiro-ministro Anthony Albanese, que teria perdido milhares de seguidores desde o anúncio. Entre os comentários, apareceu até um recado em tom de aviso: "Esperem até a gente poder votar".
Por que o governo decidiu fazer isso
A iniciativa foi de Anthony Albanese, que defendeu publicamente a mudança e disse que a reforma é "capaz de mudar vidas". O argumento central do governo é que, sem uma intervenção mais firme, adolescentes continuam expostos a mecanismos e experiências consideradas nocivas - como cyberbullying, distorções de autoimagem e algoritmos desenhados para manter a atenção presa por mais tempo.
O que fica como lição desse "experimento" australiano
A Austrália abriu um precedente e virou um laboratório observado por diversos países. O tema envolve perguntas difíceis: qual é o limite entre proteção e proibição? Como garantir segurança sem excluir ferramentas digitais importantes? E como cobrar responsabilidade das plataformas sem transferir toda a fiscalização para famílias e escolas? No fim, uma coisa parece certa: o debate sobre infância, saúde mental e redes sociais entrou em uma nova fase - e o que acontecer na Austrália deve influenciar decisões futuras ao redor do mundo.