ONG cria sistema para evitar acidente com navios petroleiros
- Sabrina Bevilacqua
- Especial da Finlândia para o Terra
Uma organização finlandesa trabalha para limpar e evitar que um dos mares mais poluídos do mundo, o Báltico, possa ter sua vida marinha extinta por um acidente ambiental causado por petroleiros que navegam nas águas do nordeste da Europa que banham os países escandinavos. O sistema deve entrar em operação no próximo ano.
Preocupados com o efeito que algumas toneladas de petróleo podem causar no ecossistema local, a fundação finlandesa John Nurminen está desenvolvendo um sistema para organizar e facilitar a navegação e, com isso, reduzir o risco de acidentes marítimos. "Temos de mudar a cultura de navegação para a de prevenção, não contenção de estragos. Acaba sendo menos trabalhoso e mais barato prevenir", explica o secretário-geral da Fundação John Nurminen, Erik Båsk.
Para facilitar a navegação e tentar colocar ordem no caos do tráfego local - no verão cerca de 600 navios passam pela região todos os dias -, a fundação investe no chamado Enhanced Navigation Support Information (Informações de Suporte Avançado de Navegação, em português, ou ENSI). A ideia é que as embarcações que operam na região enviem voluntariamente seus planos de rota por meio da internet antes de deixar o porto.
Em troca, podem receber todas as informações necessárias para uma navegação mais segura, incluindo clima, tráfego e eventuais perturbações meteorológicas. As embarcações também podem receber de uma central mantida pela fundação orientação e recomendações para eventuais mudanças de rotas. "A intenção é reunir todas as informações de forma clara e acessível em um único lugar, evitando falhas humanas. Atualmente isso é feito de maneira muito primitiva", explica Båsk.
O projeto, previsto para ser iniciado no próximo ano, começou a ser desenvolvido depois que um navio grego, transportando 100 mil toneladas de petróleo bruto, saiu de uma rota segura e seu casco bateu em pedras no fundo do mar, em fevereiro de 2007. "Por pouco não houve um desastre ambiental", afirma Båsk. O casco exterior da embarcação foi danificado e o petróleo só não foi parar na água porque o navio tinha casco duplo.
Comparado com outros mares, o Báltico é um mar "frágil". Qualquer grande acidente é capaz de desestabilizar o ecossistema da região antes que medidas de contenção e recuperação possam fazer efeito. O mar tem em média 55 metros de profundidade, muito pouco perto de outros, que costumam ter quilômetros. Isso fora o gelo que se forma no inverno, que dificulta a navegação de capitães menos experientes. "Quando há toneladas de óleo envolvidas, a situação fica bastante assustadora", alerta Båsk.
Apesar de nunca ter havido um grande desastre com navios nesse mar, inúmeros acidentes são registrados todos os anos. Segundo pesquisas da fundação, a maioria deles ocorre por falha humana. O mais preocupante é que em 40% dos casos a tripulação não tinha certeza sobre a posição real do navio. Para completar, segundo Båsk não há controle sobre as rotas executadas, é possível trocar a rota sem aviso e ainda falta informação para quem vai navegar. O dirigente critica a falta de seriedade com o transporte marítimo. "Existem alguns sistemas que tentam acompanhar os navios da região, mas nada parecido com o controle aéreo, por exemplo."