TFFF: Preservação das florestas como modelo econômico no Brasil
O Brasil lançou o Tropical Forests Forever Facility (TFFF) como modelo econômico inovador para a preservação de florestas tropicais, com aporte inicial de US$ 1 bilhão, visando aliar conservação, desenvolvimento sustentável e liderança climática global.
O pré-lançamento do Tropical Forests Forever Facility (TFFF) durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, mostrou a ambição do Brasil em criar um modelo capaz de mobilizar governos, comunidades e empresas em torno da preservação das florestas tropicais. A proposta parte da ideia de que conservar deve ser financeiramente mais vantajoso do que desmatar e será apresentada oficialmente durante a COP30, em Belém, em novembro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou que o Brasil será o primeiro país a aportar recursos no fundo. “O Brasil vai liderar pelo exemplo e se tornar o primeiro país a se comprometer com investimento no fundo, com 1 bilhão de dólares”, afirmou Lula em Nova York. O anúncio foi feito durante reunião sobre o TFFF na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
Riscos crescentes para empresas
Para Diane Holdorf, vice-presidente executiva do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), a iniciativa responde a riscos cada vez mais concretos para o setor privado.
“Estamos em um ponto de inflexão no uso do solo. Quando o desmatamento chega a 59% ou mesmo a 54%, padrões climáticos e a disponibilidade de recursos mudam rapidamente. Isso impacta cadeias de suprimento, acesso a insumos e até a capacidade de segurar riscos. Não é uma conversa teórica, é muito centrada no negócio”, afirmou.
Segundo ela, o TFFF representa o tipo de inovação financeira que pode destravar investimentos em escala de paisagem. “As empresas precisam de co-investimento porque não conseguem atuar sozinhas nesse nível. Quando os recursos chegam às comunidades locais, a diferença é enorme.”
O Brasil como vitrine
Na visão de Marina Grossi, presidente do CEBDS e enviada especial para o setor privado na COP30, o fundo também consolida o papel do Brasil como liderança global em clima.
“É fundamental que esse projeto esteja conectado às comunidades, porque são elas que preservam no dia a dia. Essa ligação é o que garante que a iniciativa seja sustentável no longo prazo”, disse.
Para ela, a proposta brasileira é uma vitrine de inovação. “Estamos provando que é possível construir um modelo de preservação que dure para sempre, que seja simples e que funcione tanto aqui quanto em experiências internacionais. É um orgulho ver o Brasil oferecer ao mundo uma proposta dessa magnitude.”
Complemento a mecanismos já existentes
O diretor sênior da Amazônia Brasileira na The Nature Conservancy (TNC), José Otavio Passos, ressaltou que o TFFF não substitui mecanismos em curso, mas os fortalece.
“Há muitos programas em andamento, como créditos de carbono e iniciativas de biodiversidade. O TFFF vem como inovação para complementar tudo isso, valorizando a floresta, seus recursos e os serviços ecossistêmicos que ela oferece”, explicou.
Para ele, a iniciativa pode consolidar uma transição econômica que reconheça o valor da floresta em pé. “Programas envolvendo comunidades locais já mostraram que é possível alinhar conservação e geração de renda. O TFFF pode acelerar essa trajetória e mostrar ao mundo que preservar a floresta é também uma estratégia econômica.”
O olhar das empresas
O setor privado também enxerga no fundo uma oportunidade de alinhar transformação interna e impacto climático. Para Branko Sevarlic, CEO da Philip Morris Brasil, a lógica é semelhante à que guia a própria companhia.
“O que o Brasil está tentando fazer com o Forever Fund é criar um modelo econômico em que preservar florestas tropicais seja financeiramente mais benéfico do que desmatar. Esse tipo de inovação é a chave para endereçar problemas persistentes”, afirmou.
Sevarlic lembrou que a Philip Morris está em um processo profundo de mudança. “Só no Brasil, em todo o setor, são mais de 100 mil agricultores de tabaco. Investimos em sustentabilidade porque sabemos que a prosperidade deles é essencial. Ao mesmo tempo, estamos investindo em ciência para substituir o cigarro e, no futuro, parar de vendê-lo. Há uma sintonia entre esse esforço e a liderança climática do Brasil.”
Além de participar do debate global, a Philip Morris organizou um encontro paralelo durante a Semana do Clima de Nova York, reunindo lideranças empresariais brasileiras para discutir o papel do setor privado no TFFF e em iniciativas de preservação.
Entre lucro e liderança
O aporte de US$ 1 bilhão já anunciado por Lula sinaliza que o Brasil quer liderar pelo exemplo. Para empresas, o TFFF representa a chance de reduzir riscos e agregar valor às suas cadeias produtivas. Para comunidades, é a promessa de inclusão em um modelo econômico baseado na floresta em pé.
A combinação desses elementos faz do TFFF mais do que um fundo: um laboratório global de inovação climática, onde o Brasil se posiciona como ponte entre preservação e desenvolvimento.