SP registra maior vendaval desde 1963; velocidade das rajadas de vento foi histórica
Medição é feita pelo Inmet há 62 anos e índice nunca tinha sido aferido em condições de tempo firme, ou seja, sem chuva. Fenômeno provocou apagão; 1,3 milhão de imóveis seguem sem luz
A cidade de São Paulo registrou o maior vendaval da história nesta quarta-feira, 10. A velocidade dos ventos - que chegou a 98 km por hora na Lapa, na zona oeste -, nunca tinha sido aferida pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) desde o início das medições, em 1963.
"São Paulo, pelos registros, desde 1963 não tinha rajadas tão intensas em uma condição de tempo firme desde o início das medições. As medições começaram pelo Instituto Nacional de Meteorologia", explicou ao Estadão o meteorologista César Soares, da Climatempo.
O fenômeno climático provocou transtornos em cascata na cidade. Mais de 300 voos foram cancelados nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos entre quarta e quinta, milhões de imóveis ainda seguem sem energia.
"Pelo que a gente analisou, as rajadas de vento de 96 km por hora no aeroporto de Congonhas, e também de 98 km por hora na região da Lapa, são os maiores registros que nós temos", complementou o especialista.
O vendaval se formou sob influência de um ciclone extratropical formado no Sul do país nesta semana. De acordo com informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), nos próximos dias, o fenômeno irá se deslocar em direção ao Oceano Atlântico, permitindo a chegada de ventos menos intensos, predomínio de sol e elevação das temperaturas em São Paulo.
Como se forma um ciclone?
O ciclone extratropical se forma a partir do encontro entre uma massa de ar quente e uma massa de ar frio em latitudes mais elevadas - um processo contínuo que, normalmente, ajuda a regular a temperatura do planeta. Por isso, os ciclones são muito frequentes. Porém, na maior parte das vezes, eles ocorrem sobre o mar e não são muito fortes e, por isso, passam despercebidos.
Com o aquecimento global, o aumento geral da temperatura e da umidade vem tornando os fenômenos mais intensos, como o visto nos últimos dias em São Paulo.
A formação e o desenvolvimento (ou, no linguajar da meteorologia, a ciclogênese) de um ciclone extratropical ocorrem em estágios claros. O estágio inicial ocorre em uma área de transição, onde há grandes diferenças de temperatura e umidade, com intenso cisalhamento do vento (diferenças substanciais de velocidade e direção do vento em curtas distâncias). Forma-se, então, uma área de baixa pressão atmosférica; isto é um vácuo para onde o ar tende a convergir.
Com a formação dessa área de baixa pressão atmosférica, as massas de ar começam a interagir de forma mais organizada. O ar quente, menos denso, é forçado a subir para além do ar frio, mais denso. Esse movimento ascendente do ar quente e úmido provoca a formação de nuvens carregadas e chuvas intensas. O sistema começa então a girar no sentido horário no Hemisfério Sul (anti-horário no Hemisfério Norte).
O ciclone atinge a sua intensidade máxima com um centro de baixa pressão bem definido e ventos fortes (que podem ultrapassar 90 km/h). A frente fria avança rapidamente ocludindo (encontrando e levantando) a frente quente, formando uma frente oclusa.
Em determinado ponto, o ar frio acaba por envolver completamente o centro de baixa pressão, cortando o suprimento de ar quente e úmido oriundo da superfície. O sistema começa, então, a perder energia, as nuvens se dissipam gradualmente e os ventos diminuem até a dissolução completa do ciclone.
Os ciclones extratropicais costumam ser grandes, podendo ter até mais de mil quilômetros de extensão, e sua duração varia de algumas horas a até dois ou três dias, dependendo da velocidade com que se deslocam.