União Europeia adia assinatura de acordo com Mercosul
Bloco europeu ainda sofre resistência interna para destravar assinatura do acordo, que estava inicialmente prevista para o próximo sábado. Lula diz que levará proposta de adiamento aos países sul-americanos.A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou nesta quinta-feira (18/12) aos líderes da União Europeia (UE), que a assinatura do acordo com o Mercosul será adiada.
A informação foi confirmada com fontes por diversas agências de notícias, como a Reuters, a AFP e a DPA. Segundo o site de notícias Politico, a assinatura - anteriormente prevista para ocorrer neste sábado em Foz do Iguaçu - foi postergada para janeiro.
Os representantes de 27 países do bloco europeu estão reunidos em Bruxelas para a cúpula da UE, onde discutem, entre outros temas, o tratado com o Mercosul.
As negociações para a assinatura do acordo haviam se encerrado em dezembro de 2024, após 25 anos de tratativas pela criação de uma Zona de Livre Comércio entre os dois blocos. Mas países como França, Hungria e Polônia têm trabalhado para impedir o avanço da assinatura.
Na véspera da cúpula europeia, a Itália também aderiu ao apelo de Paris e disse ser "prematuro" assinar o acordo agora.
Países exigem salvaguardas
Os países criticam brechas no acordo que permitiriam produtos brasileiros entrarem no mercado europeu sem passar pelas mesmas exigências que incidem sobre produtores da UE. O temor é que tais produtos cheguem a baixo custo, derrubando a concorrência europeia.
Agricultores europeus de diversos países pararam as ruas de Bruxelas nesta quinta-feira para protestar contra a medida. Confrontos com a polícia foram registrados em partes da cidade.
A decisão de adiar o acordo ocorre apesar de o Parlamento Europeu ter aprovado nesta semana novas salvaguardas a serem inseridas no acordo. Essas cláusulas permitem que a Comissão Europeia investigue e atue caso as importações de produtos agrícolas sensíveis aumentem de forma significativa ou entrem com preços claramente inferiores aos europeus.
O dispositivo adicionado também permite investigação de produtos que não respeitam as regras do acordo, como bem-estar animal, proteção trabalhista e uso de pesticidas. Se for detectado prejuízo, as vantagens comerciais podem ser suspensas.
Lula diz que levará assunto ao Mercosul
Mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silvadisse que o Mercosul pode considerar um adiamento da assinatura.
Na quarta-feira, o petista havia afirmado que o Brasil encerraria as tratativas se houvesse um novo impasse pelo lado europeu. Nesta quinta-feira, porém, suavizou o tom dizendo que apresentaria aos demais países do bloco sul-americano um pedido da Itália por adiamento.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, "me pediu que, se tivermos paciência por uma semana, 10 dias, um mês, a Itália estará pronta para o acordo", disse Lula após uma ligação telefônica com a líder italiana. No evento deste sábado, o Brasil passará a presidência do Mercosul ao Paraguai.
O apoio da Itália é necessário para alcançar a maioria exigida de 15 dos 27 Estados da União Europeia, que precisam representar 65% da população do bloco, em favor da assinatura.
Após décadas de negociações entre os dois blocos, o acordo da UE com o Mercosul facilitaria a entrada na Europa de carne, açúcar, arroz, mel e soja sul-americanos, assim como as exportações europeias de automóveis, máquinas, vinhos e licores.
gq (DPA, Reuters, AFP)