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Startup de educação Descomplica recebe aporte de R$ 450 milhões

É o maior aporte do segmento no Brasil; rodada teve participação de The Edge, guitarrista do U2

18 fev 2021 - 16h36
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A pandemia impulsionou o uso de ferramentas digitais na educação. Agora, startups do segmento, conhecidas como 'edtechs', começam a receber investimentos para ampliarem suas operações. É assim que a Descomplica, mais conhecida por atividades de reforço para Enem e vestibulares, anuncia nesta quinta, 18, que recebeu um aporte de US$ 84,5 milhões (cerca de R$ 450 milhões) - segundo a empresa, é o maior do segmento já feito na América Latina.

A rodada foi capitaneada pelo Invus Group, que já havia liderado outras rodadas na empresa, e pelo grupo japonês SoftBank. O Valor Capital Group, que também já havia feito investimentos em rodadas anteriores na startup, voltou a participar. Além dos três nomes, dois novos investidores chamam a atenção: The Edge, guitarrista do U2, e a Chan Zuckerberg Initiative, empresa de investimento de impacto social da família do fundador do Facebook. A Península Participações, de Abílio Diniz, fechou o time de investidores. Essa foi a quinta rodada de investimentos da empresa - a última havia sido em 2018 e trouxe R$ 54 milhões.

Fundada em 2011 pelo professor de Física Marco Fisbhen, a Descomplica ficou conhecida por suas ferramentas de preparação para o Enem e para vestibulares - além das aulas em ambiente digital, a companhia utiliza dados e inteligência artificial para tentar atender as demandas educacionais dos alunos. No ano passado, porém, a companhia inaugurou um novo capítulo em sua história com a Faculdade Descomplica, que traz cursos de graduação e pós-graduação 100% digitais por mensalidades entre R$ 200 e R$ 220 (graduação) e R$ 800 e R$ 1.000 (pós-graduação). O braço de ensino superior começou com quatro cursos de graduação no ano passado - serão lançados mais 15 neste ano e outros 18 em 2022. A pós-graduação já conta com 300 programas e deve chegar a 500 até o final do ano.

Tudo isso deve ampliar a base de 5 milhões de usuários mensais - é um momento que pode ser comparado à evolução do U2 do disco The Unforgettable Fire, quando era uma banda muito promissora, para o clássico The Joshua Tree, quando se tornou um dos maiores nomes do seu segmento. O dinheiro chega para ampliar o investimento em tecnologia, permitir a ampliação do portfólio e energizar aquisições de startups menores - o time que cresceu de 300 para 600 pessoas em 2020 deve chegar a 1.000 até o final deste ano.

O montante para isso é de respeito. Segundo um ranking da empresa de inovação Distrito, essa é a maior cifra já levantada por uma edtech brasileira num investimento de capital privado - o segundo lugar também é da Descomplica: US$ 16,3 milhões em 2018. Apenas a Arco Educação levantou valor maior (US$ 194 milhões) entre as startups brasileiras de educação, mas isso ocorreu na oferta inicial de ações realizada em 2018.

"A pandemia trouxe uma exposição contundente à educação digital. No ano passado, tinha mais gente disposto a encarar aquilo que a educação digital tem de bom e de ruim. Num segundo momento, houve uma separação entre aqueles que têm soluções disruptivas e modernas e aqueles que têm soluções antiquadas", diz Fisbhen ao Estadão. "Queremos manter o foco para continuarmos ganhando espaço", diz.

Caminhos misteriosos

Chama a atenção no investimento a presença de The Edge, do U2. Fisbhen revela os caminhos misteriosos que uniram uma estrela mundial da música a uma edtech brasileira. "Conheci do The Edge em um evento da Endeavor, já que ele é envolvido em iniciativas de fomento ao empreendedorismo, principalmente na Irlanda. Mostrei a Descomplica e ele ficou interessado. Quando chegou a hora de negociarmos a nova rodada, entrei em contato e ele decidiu participar". O processo da nova captação começou em agosto do ano passado e foi feito todo por chamadas no Zoom - a empresa que transmite educação em ambiente digital teve de aprender também a negociar o investimento à distância.

O fato da Descomplica ser uma edtech deve ter pesado para o guitarrista ter topado o investimento, já que ele costuma se envolver com temas de impacto social global. A sintonia entre as partes é tão boa que Fisbhen produz frases que poderiam sair da boca de Bono Vox, companheiro de The Edge no U2. "Parte do nosso trabalho é canalizar o investimento de centenas de milhões de reais em educação, em educação digital. Isso é tranformacional para o Brasil e é transformacional para milhões de pessoas", diz.

O segmento é o que também motivou o primeiro investimento da Chan Zuckerberg Initiative na América Latina, já que a empresa se envolve apenas em investimentos de segmentos com resultados sociais, como a educação.

Dia bonito (para edtechs)

"Um investimento desses reafirma o potencial do setor e as oportunidades à disposição das edtechs brasileiras", diz Raphael Augusto, sócio diretor de inteligência de mercado da aceleradora Liga Ventures. É o que pensa Luís Gustavo Lima, CEO da consultoria em inovação ACE Cortex. "Estamos presenciando apenas o começo de uma grande revolução educacional, onde a pandemia acelerou a adoção de novas tecnologias e formatos de ensino, como também escancarou a necessidade de os profissionais desenvolverem novas competências e habilidades para atuarem em um novo contexto de mundo.

Para Augusto, não apenas o aporte coloca a Descomplica num outro patamar dentro do segmento, como também pode ajudar a tirar o setor de educação da 'inércia'. "O ensino presencial não consegue mais resolver o déficit educacional. A solução cabe às edtechs". Isso não significa que a startup não terá desafios pela frente.

"O grande desafio da Descomplica será ganhar espaço num mercado altamente consolidado e concentrado nas mãos de grupos tradicionais", diz. Pelo perfil dos investidores, eles vão buscar crescimento da base e também maneiras de democratizar a educação", diz ele. "Acredito que eles encontrarão muitas oportunidades no setor corporativo", diz.

É um caminho longo à frente, mas, pelo visto, o dia está lindo não apenas para a Descomplica, mas para as startups de educação do Brasil.

Estadão
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