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Com juro baixo, startups brasileiras captam até maio 90% do total de 2020

Até o mês passado, foram 261 aportes, segundo relatório divulgado pela empresa de inovação Distrito

3 jun 2021 - 11h10
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As startups brasileiras receberam US$ 3,2 bilhões em investimentos nos cinco primeiros meses de 2021, volume que representa 90% do total investido em todo o ano de 2020, de US$ 3,54 bilhões. Até maio, foram 261 aportes, segundo dados divulgados no relatório "Inside Venture Capital", elaborado pela Distrito, plataforma que monitora o mercado de inovação brasileiro. A maior parte dos investimentos foi para fintechs, embora outros setores venham ganhando importância nessa conta.

Para Gustavo Gierun, co-fundador e sócio da Distrito, os números sinalizam um ano forte para o setor, porque os fundos ainda têm capital para investir. "O Brasil caminha para algo entre US$ 4,5 bilhões e US$ 5 bilhões (em aportes) ao longo de 2021", diz. Ele lembra que entre janeiro e maio de 2020 foram 203 transações e US$ 835 milhões em investimentos em startups no País. Ou seja: o volume saltou quase quatro vezes neste intervalo.

Dados da Transactional Track Record (TTR) que englobam grandes operações, não apenas de startups, mostram que os fundos de venture capital já aportaram R$ 15,2 bilhões (o equivalente a US$ 3 bilhões) em empresas de tecnologia no Brasil no período entre janeiro e maio deste ano, com 115 transações. Entre elas estão um aporte de US$ 400 milhões recebido pelo Nubank em janeiro, e outro, de US$ 525 milhões, recebido pela Loft entre março e abril.

Segundo Flávio Málaga, sócio e professor de finanças da Finted Tech School, a alta dos investimentos em venture capital que ajuda a elevar o financiamento a startups reflete a atual dinâmica macroeconômica do Brasil e do mundo, de juros baixos e muita liquidez no mercado. "Os investidores estão em busca de projetos e a indústria de fundos de venture capital está aí para suprir essa demanda. São bem atrativos pela maior rentabilidade", afirma.

Marcelo Amorim, sócio da gestora Invisto, aponta que sob a perspectiva dos gestores dos fundos, a estratégia de investimento se aperfeiçoou: as entradas agora englobam 'dinheiro inteligente', ou smart money - aportes em que os fundos não apenas investem, mas também contribuem com a gestão das empresas e ajudam a definir como os recursos são aplicados.

No entanto, Málaga, da Finted, aponta que apesar de o ambiente para o venture capital ter melhorado no Brasil, possíveis problemas estruturais no País, como os entraves regulatórios, podem esfriar o mercado. "Para o recurso entrar, precisa ter porta de saída, seja via Bolsa, com um IPO (oferta inicial de ações), ou com um player estratégico. Se o investidor entender que o cenário é arriscado ou inóspito para capital, não vai entrar", diz.

Fintechs ainda à frente

O relatório da Distrito aponta que as fintechs ainda são as preferidas para aportes, com 57 investimentos neste ano e um volume de US$ 1,158 bilhão. Em seguida, as startups do ramo imobiliário somam US$ 825 mi em investimentos em quatro projetos. Dois deles ocorreram no mês de maio. Mas outros setores devem ganhar importância.

Segundo Gierun, as empresas inovadoras ligadas ao varejo e ao ramo da saúde vêm "crescendo com consistência, uma promessa para os próximos períodos". Até aqui, elas recebem menos recursos que as fintechs, mas estão no "top 5" dos investimentos: as chamadas retail techs e healthtechs acumulam investimentos de US$ 632 milhões e US$ 88,8 milhões neste ano, respectivamente.

O que olhar em uma startup

Leonardo Teixeira, sócio da Iporanga Ventures, que investe em startups desde 2011 e tem cases como Loggi e Quero Educação, diz que há seis 'T's' a se considerar na busca por negócios para investir: time, tecnologia, timing, tamanho (da oportunidade), tese e transformação (que causa no mundo).

No estágio mais primário de investimento, é importante olhar para os talentos de dentro da empresa, destaca. "As características desejáveis desse time fundador com um grande plano são: complementaridade de experiências, alinhamento, vontade de fazer a diferença, resiliência e ambição", afirma. Segundo ele, são dois os perfis de investidor: o que saiu de uma empresa de sucesso e quer fundar outra, e um segundo que tem conhecimentos específicos, experiência e conexões, ativos valiosos no mundo corporativo.

Amorim, da Invisto, chama a atenção para a evolução dos empreendedores brasileiros nos últimos anos. "Há cinco anos os gestores eram muito crus, não entendiam nada de como levantar dinheiro, como fazer gestão", diz. "Agora os empreendedores têm acesso a educação de marketing, finanças, gestão de pessoas. Um empreendedor de startup daqui está num nível muito próximo de um empreendedor americano."

Dan Yamamura, sócio da Fuse Capital, fundada em 2019 e com cases como W.Dental e AIO, conta que, antes de escolher a startup, a gestora faz alguns testes. "Ao longo do processo de diligência, a gente já participa da operação. Usamos nosso conhecimento de experiências e pessoas para testar os modelos de negócio. Ajudamos mesmo que a gente decida não investir depois", explica.

Estadão
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