China encurta distância dos EUA na computação quântica, alerta ganhador do Nobel
Alerta de físico John Martinis reverbera afirmação do CEO da Nvidia em novembro
O físico John Martinis, ganhador do Prêmio Nobel de 2025 e responsável por liderar a equipe do Google que atingiu a chamada supremacia quântica em 2019, voltou a alertar autoridades norte-americanas sobre o avanço acelerado da China no setor.
Em entrevistas recentes, ele afirmou que a diferença tecnológica que antes era estimada em três anos praticamente desapareceu. "A China é definitivamente muito competitiva nisso. As pessoas devem estar preocupadas de que há uma corrida real", disse à Bloomberg em Tel Aviv.
Martinis destacou que pesquisas chinesas têm alcançado resultados equivalentes aos do Ocidente em ritmo cada vez mais curto. "Eu leio seus artigos, eles entendem o que estão fazendo muito claramente. Quando pessoas no Ocidente publicam artigos sobre avanços recentes, eles frequentemente em alguns meses publicam um artigo com capacidades similares", afirmou.
O físico reforçou que Estados Unidos, Europa e China disputam a construção de computadores quânticos com aplicações práticas - algo que, segundo ele, ainda deve levar de cinco a dez anos.
De acordo com Martinis, a janela para reagir ao avanço da China no campo da computação quântica está se fechando. "Eles pegaram rapidamente. Agora estamos preocupados que talvez estejamos nanossegundos à frente deles", alertou.
O alerta ocorre em um momento de forte competição geopolítica no campo da computação quântica, considerada estratégica para setores como energia, ciência dos materiais, criptografia e pesquisa médica. As declarações de Martinis ecoam preocupações semelhantes levantadas no último mês pelo CEO da Nvidia, Jensen Huang, que também tem repetido que "a China está nanosegundos atrás dos EUA em IA" e que os EUA só manterão a dianteira se "acelerar".
Nos últimos anos, a China tem multiplicado investimentos para consolidar um liderança no setor. Em 2025, pesquisadores chineses apresentaram o Zuchongzhi 3.0, um processador quântico supercondutor de 105 qubits, cuja performance, segundo eles, seria 10 a 15 vezes mais rápida que a de supercomputadores clássicos em tarefas específicas. O país também já implementou a maior rede de comunicações quânticas do mundo, com mais de 10 mil quilômetros conectando 17 províncias e 80 cidades.
O avanço chinês contrasta com um investimento mais fragmentado do lado norte-americano. Relatórios recentes apontam que Pequim destinou US$ 15,3 bilhões a projetos quânticos em 2023 - mais que o dobro do total somado entre recursos públicos e privados dos EUA. Diante disso, Martinis tem reforçado o alerta diretamente à Casa Branca. "Eles estão agora avançando para a quântica", afirmou, ao comentar a mudança de foco do governo Trump, inicialmente concentrado apenas na disputa por liderança em inteligência artificial.
Nos bastidores de Washington, o tema tornou-se prioridade de segurança nacional. Para o ano fiscal de 2027, a administração federal colocou a ciência quântica no topo da agenda de pesquisa, com diretrizes para equilibrar estudos fundamentais e engenharia aplicada. A Casa Branca também trabalha em ações executivas relacionadas tanto ao desenvolvimento de tecnologia quântica quanto à migração para padrões de criptografia resistentes a ataques de computadores quânticos no futuro.
A preocupação institucional ganhou respaldo de um relatório divulgado em novembro pela Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China. Segundo o documento, "a supremacia quântica será um ativo nacional crítico", com potencial para destravar avanços transformadores em múltiplos setores da economia. A comissão recomendou que o Congresso adote uma meta nacional "Quântica em Primeiro Lugar" até 2030, enquanto o país tenta acelerar sua capacidade de inovação.
Além da corrida tecnológica em si, especialistas apontam que a defasagem crescente pode afetar a competitividade global dos EUA. A preocupação é que, se a China dominar primeiro sistemas quânticos funcionais de grande escala, isso poderia impactar desde cadeias de produção até a segurança cibernética de governos e empresas ocidentais.