Papa pede "coragem" de Rússia e Ucrânia para acordo de paz
Para América Latina, Leão 14 pregou por "diálogo pelo bem comum, em vez de preconceitos ideológicos e partidários." Ele destacou a crise humanitária em Gaza no primeiro Natal como pontífice.Em sua primeira mensagem de Natal como chefe do Vaticano, o Papa Leão 14 instou nesta quinta-feira (25/12) a Rússia e a Ucrânia a encontrarem "coragem" para um "diálogo sincero, direto e respeitoso" na busca por um acordo de paz.
O pontífice caracterizou a paz como uma responsabilidade compartilhada. "Se todos nós, em todos os níveis, parássemos de acusar os outros e, em vez disso, reconhecêssemos nossas próprias falhas, pedindo perdão a Deus, e, se realmente nos compadecêssemos do sofrimento dos outros e nos solidarizássemos com os fracos e oprimidos, então o mundo mudaria", afirmou.
Na véspera, o presidente Volodimir Zelenski detalhou pela primeira vez a nova versão do plano para pôr fim à guerra na Ucrânia, negociado com os Estados Unidos ao longo de várias semanas. O texto está agora sob análise do governo russo.
A mensagem urbi et orbi ("à cidade e ao mundo"), que marca o dia de Natal, costuma ser usada pelos pontífices para falar sobre os conflitos que assolam o mundo. Leão 14 ainda pregou por "justiça, paz e estabilidade para o Líbano, Palestina, Israel e Síria", com renovação das promessas pelo fim das guerras.
Voltando-se para a América Latina, o pontífice, que é americano e atuou por duas décadas no Peru, incentivou atores políticos a evitarem divisionismos. "Que o Menino Jesus inspire aqueles que, na América Latina, têm responsabilidades políticas, para que, diante dos numerosos desafios, se dê espaço ao diálogo pelo bem comum, em vez de preconceitos ideológicos e partidários."
Crise humanitária em Gaza
Mais cedo, o Pontífice usara o sermão na Basílica de São Pedro para condenar os "escombros e feridas abertas" deixadas pelas guerras do mundo, destacando a crise humanitária em Gaza.
"Frágil é a carne das populações indefesas, provadas por tantas guerras, em curso ou já concluídas", disse. Ele acrescentou que o fato de a história de Jesus relatar que ele nasceu em um estábulo mostra que Deus havia "armado sua frágil tenda" entre os povos do mundo. "Como não pensar nas tendas em Gaza, expostas há semanas à chuva, ao vento e ao frio?"
Israel e o Hamas, considerado grupo terrorista por vários países, concordaram com um cessar-fogo em outubro após dois anos de intensos bombardeios e operações militares. Agências humanitárias afirmam que ainda é insuficiente a ajuda chegando a Gaza.
No mês passado, o Papa disse a jornalistas que a única solução para o conflito que perdura há décadas na região deve incluir a criação de um Estado palestino.
A "insensatez" da guerra
Eleito em maio para suceder o falecido Papa Francisco, Leão costuma ter um estilo mais discreto e diplomático que o seu antecessor, evitando referências políticas. Mas o padrão foi quebrado nas últimas semanas.
"Frágeis são as mentes e vidas dos jovens forçados a pegar em armas, que na linha de frente sentem a insensatez do que lhes é pedido e as falsidades que enchem os discursos pomposos daqueles que os enviam à morte", acrescentou nesta quinta-feira.
Recordando conflitos que correm o risco de serem esquecidos, ele ainda citou as vítimas das guerras e da violência em diversos países africanos, incluindo Sudão, Sudão do Sul, Mali, Burkina Faso e República Democrática do Congo. Para Haiti e Mianmar, pediu que os países avancem no caminho da reconciliação.
"Por amor", disse o Papa, Jesus "aceitou a pobreza e a rejeição, identificando-se com aqueles que são descartados e excluídos". Citando Santo Agostinho, ele prosseguiu: "Deus, que nos criou sem nós, não nos salvará sem nós."
Ao final da mensagem urbi at orbi, Leão citou ainda a fome e a pobreza no Iêmen, o drama de refugiados e migrantes que cruzam o Mediterrâneo ou as Américas e as condições desumanas que não raro enfrentam os confinados em prisões ao redor do mundo.
No Natal de 2024, o último de Francisco, o então Papa pediu que as armas fossem silenciadas na Ucrânia e em Gaza, com um cessar-fogo, a libertação de reféns e ajuda à população esgotada.
ht (AFP, Reuters, ots)