Rússia faz 'proposta' à França para libertar pesquisador francês detido por espionagem
A Rússia anunciou nesta quinta-feira (25) que fez uma "proposta" à França a respeito do caso do pesquisador francês Laurent Vinatier, preso na Rússia desde junho de 2024 e que pode ser julgado por espionagem. Moscou prendeu diversos cidadãos ocidentais sob variadas acusações desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, e realizou trocas de prisioneiros com os Estados Unidos.
Paris e Moscou estão com relações abaladas. O anúncio surpreendente da negociação sobre o prisioneiro ocorre no momento em que os dois países voltaram a demonstrar interesse em promover um contato direto entre os presidentes Vladimir Putin e Emmanuel Macron.
"Houve contatos entre nós e os franceses. De fato, uma proposta foi feita aos franceses, a respeito de Vinatier", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, durante sua coletiva de imprensa diária, acompanhada pela AFP.
"A bola agora está com a França", acrescentou, afirmando que "não poderia fornecer detalhes", porque "é um assunto muito delicado". Contatado pela AFP, o advogado francês de Vinatier, Frédéric Belot, indicou que a família do pesquisador "espera que ele possa ser libertado durante as festas de fim de ano", até o Natal Ortodoxo, em 7 de janeiro.
Segundo o defensor, uma troca de prisioneiros é "possível", mas uma "extrema cautela é necessária". "Temos total confiança na diplomacia francesa, que está fazendo o máximo possível", acrescentou.
Procurado pela AFP, o Ministério das Relações Exteriores da França se recusou a comentar o caso.
Putin disse ignorar o caso
Questionado por um jornalista francês sobre o assunto, na última sexta-feira, durante sua coletiva de imprensa anual, o presidente Vladimir Putin afirmou que "não sabia nada" sobre o caso de Laurent Vinatier, e que estava ouvindo falar dele pela primeira vez.
"Prometo que vou analisar o caso. E, se houver a menor chance de resolver essa questão positivamente, se a lei russa permitir, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance", assegurou.
Laurent Vinatier foi condenado, em outubro de 2024, por um tribunal russo, a três anos de prisão, por não se registrar como "agente estrangeiro", enquanto coletava "informações militares" que poderiam ser "usadas contra a segurança da Rússia". Ele admitiu os fatos, mas alegou desconhecimento.
Em agosto, o francês compareceu a um tribunal russo, sob acusações de "espionagem", que, se confirmadas, poderiam aumentar significativamente sua pena. A investigação foi prorrogada, e ele poderá enfrentar um novo julgamento por espionagem, no final de fevereiro de 2026, segundo seu advogado francês.
Atuação em ONG suíça
Laurent Vinatier declarou, em agosto, que não esperava "nada de bom, nada de positivo" após tomar conhecimento dessas novas acusações. Seus pais disseram à AFP que o filho era um "prisioneiro político", um "peão" usado pelos russos para "exercer pressão".
O pesquisador, de 49 anos, especialista no espaço pós-soviético, trabalhava para o Centro para o Diálogo Humanitário, uma ONG suíça, que intermedia conflitos fora dos canais diplomáticos oficiais, particularmente em relação à Ucrânia.
Paris exigiu a libertação de seu cidadão detido em Moscou, acusando a Rússia de tentar fazer reféns ocidentais. Em um artigo de opinião, publicado no jornal Le Monde, cerca de 50 personalidades francesas, incluindo os escritores Emmanuel Carrère e Annie Ernaux, pediram para a França trabalhar pela libertação de Vinatier, argumentando que ele é "prisioneiro de um jogo político e diplomático, que está além de seu controle".
As relações entre Paris e Moscou têm sido tensas nos últimos anos, com a França acusando a Rússia de atividades desestabilizadoras e desinformação em seu território, enquanto o Kremlin critica o governo francês por seu apoio militar à Ucrânia e pela censura à imprensa russa.
No final de novembro, três pessoas foram indiciadas e presas, em Paris, em conexão com um caso duplo de interferência e espionagem econômica, a mando de Moscou. Na semana passada, porém, o presidente Emmanuel Macron afirmou que seria "mais uma vez útil" para os europeus conversarem com Vladimir Putin, em vez de deixarem os Estados Unidos conduzirem as negociações sozinhos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, respondeu imediatamente, dizendo que Vladimir Putin estava "pronto para o diálogo" com o líder francês.
Com AFP