Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

UE aprova empréstimo de € 90 bilhões à Ucrânia após fracasso em usar ativos russos congelados

A União Europeia decidiu nesta sexta-feira (19) conceder um empréstimo conjunto de € 90 bilhões para financiar o esforço de guerra da Ucrânia entre 2026 e 2027, após semanas de impasse sobre o uso dos ativos russos congelados no bloco. O acordo foi fechado pelos 27 países-membros, mas a operação será executada apenas por 24 deles. Hungria, Eslováquia e República Tcheca - governos que resistem a financiar Kiev - exigiram ficar de fora.

19 dez 2025 - 07h57
(atualizado às 08h36)
Compartilhar
Exibir comentários

"Temos um acordo. A decisão de conceder € 90 bilhões de apoio à Ucrânia para 2026-2027 foi aprovada", anunciou no X o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, que conduziu as longas negociações do encontro em Bruxelas.

Para sinalizar a união dos europeus em torno da Ucrânia, a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, da esquerda para a direita, celebraram o empréstimo concedido pelo bloco com um triplo aperto de mãos, em 19 de dezembro de 2025.
Para sinalizar a união dos europeus em torno da Ucrânia, a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, da esquerda para a direita, celebraram o empréstimo concedido pelo bloco com um triplo aperto de mãos, em 19 de dezembro de 2025.
Foto: REUTERS - Stephanie Lecocq / RFI

Os líderes europeus buscavam uma solução urgente para evitar que Kiev ficasse sem recursos já no primeiro trimestre de 2026, especialmente após o governo de Donald Trump ter interrompido a maior parte da ajuda financeira e militar dos Estados Unidos à Ucrânia.

"Mensagem decisiva", diz Alemanha

O chanceler alemão, Friedrich Merz, classificou o acordo como "uma mensagem decisiva para encerrar a guerra", afirmando que o presidente russo, Vladimir Putin, "só fará concessões quando entender que sua ofensiva não lhe trará ganhos". Merz vinha defendendo há meses o uso dos ativos russos congelados na Europa para financiar o pacote, mas saiu de Bruxelas sem conseguir apoio - e ainda teve de aceitar o adiamento do acordo comercial entre a UE e o Mercosul, demanda de França e Itália.

Sem consenso sobre o uso dos bens da Banco Central da Rússia, medida inédita e considerada de alto risco jurídico e político, os 27 optaram pelo empréstimo conjunto. "Garantir € 90 bilhões a outro país por dois anos é algo que nunca vimos na nossa história", afirmou a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, cujo país ocupa a presidência rotativa do Conselho da UE até o fim do ano.

O presidente francês, Emmanuel Macron, avaliou que, com o acordo, "volta a fazer sentido dialogar com Vladimir Putin".

Empréstimo terá juros zero

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, celebrou a decisão, afirmando que se trata de "um apoio importante que fortalece nossa resiliência". Ele destacou que é "fundamental" que os ativos russos permaneçam congelados e que a Ucrânia tenha garantias de segurança financeira para os próximos anos.

Macron reforçou que a solução encontrada é "a mais realista e praticável" para assegurar que Kiev tenha recursos a partir de 2026. "O que seria preocupante é se um país tivesse tentado bloquear. O importante é que houve unanimidade na decisão", disse.

O custo estimado para manter o Estado ucraniano funcionando em 2026 é de € 137 bilhões. A UE se comprometeu a cobrir dois terços - os € 90 bilhões -, enquanto aliados como Noruega e Canadá devem financiar o restante.

Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o empréstimo será a juros zero, bancado pelo orçamento do bloco. A Ucrânia só terá de reembolsá-lo caso a Rússia pague reparações de guerra no futuro.

Bélgica bloqueou acordo sobre ativos russos

A proposta de usar os ativos russos congelados - cerca de € 210 bilhões, a maior parte depositada na câmara de compensação belga Euroclear - travava as negociações havia semanas. A ideia era financiar um "empréstimo de reparação" de € 90 bilhões para Kiev.

O primeiro-ministro belga, Bart De Wever, exigia garantias quase ilimitadas para proteger o país de eventuais retaliações russas ou de um reembolso antecipado. Na semana passada, o Banco Central da Rússia abriu um processo na Justiça de Moscou contra a Euroclear, aumentando a pressão.

O Kremlin não detalhou quais represálias considera, mas poderia confiscar ativos, investimentos e dividendos de empresas ocidentais ainda presentes na Rússia e tomar filiais locais, com base em um decreto assinado por Putin em setembro. 

Segundo o jornal The Guardian, políticos e altos funcionários belgas teriam sido alvo de uma campanha de intimidação conduzida por serviços de inteligência russos para impedir o uso dos ativos.

O Instituto de Economia de Kiev estima que empresas ocidentais possuíam € 108 bilhões em ativos na Rússia em 2024. O Kremlin já confiscou ou congelou bens de cerca de 30 delas, gerando perdas de ao menos € 48 bilhões.

Apesar da solidariedade dos demais países da UE, nenhum estava disposto a "assinar um cheque em branco" para cobrir eventuais prejuízos da Bélgica. Ao final do encontro, De Wever declarou, sorrindo: "O jogo está jogado, todos estão aliviados". Embora o acordo tenha sido aprovado pelos 27 países, a operação será conduzida apenas por 24, já que Hungria, Eslováquia e República Tcheca pediram para não participar do financiamento.

Ucrânia cada vez mais dependente

O orçamento ucraniano para 2026 prevê um déficit equivalente a 18,5% do PIB - muito acima do limite de 3% imposto aos países da UE. A dependência de recursos externos é total.

"O orçamento ucraniano depende fortemente da ajuda internacional. O déficit está entre € 20 e € 30 bilhões. Além disso, precisamos de pelo menos € 60 bilhões em ajuda militar. Antes, essa ajuda vinha majoritariamente dos Estados Unidos, o que não ocorre mais", afirmou à RFI Oleksandra Betliy, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica de Kiev.

Sem acordo de paz com a Rússia, 30% do PIB ucraniano é destinado a gastos militares. "Nenhum país consegue financiar despesas de defesa tão altas sem apoio internacional. Infelizmente, não temos outra opção além da ajuda europeia", disse Betliy.

Desde a invasão russa em fevereiro de 2022, a Ucrânia já recebeu mais de € 187 bilhões da União Europeia - cerca de um terço destinado a apoio militar.

RFI com AFP

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade