Putin diz que 'a bola está no campo dos adversários' para encerrar a guerra na Ucrânia
A "bola está com a Ucrânia e seus aliados europeus" para negociar o fim da guerra, declarou nesta sexta-feira (19) Vladimir Putin, após exaltar os avanços do Exército russo na frente de batalha e negar qualquer responsabilidade pelo conflito, que se aproxima do quinto ano. O presidente russo dedicou longos trechos de sua grande coletiva de imprensa anual, transmitida ao vivo pela televisão russa, à ofensiva lançada em fevereiro de 2022.
Putin comemorou os ganhos territoriais obtidos pelas forças russas no leste da Ucrânia, afirmando que elas "avançam em toda a linha de contato" enquanto os ucranianos "recuam em todas as direções". Ele disse ter "certeza" de que, até o fim do ano, ainda haverá "novos sucessos" militares, em uma transmissão que combina coletiva de imprensa com respostas a perguntas enviadas pela população.
As tropas russas aceleraram neste ano suas conquistas no front ucraniano e hoje controlam cerca de 19% do território do país.
Questionado por um jornalista norte-americano sobre sua responsabilidade pessoal no conflito mais sangrento em solo europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial, Putin respondeu: "Não nos consideramos responsáveis pela morte das pessoas, porque não fomos nós que começamos esta guerra", voltando a atribuir o início do conflito às autoridades ucranianas.
Segundo o presidente russo, cabe agora a Kiev e a seus aliados europeus aceitar pôr fim às hostilidades, já que Moscou teria feito "compromissos" em rodadas de negociações com os Estados Unidos. Washington, por sua vez, multiplica há semanas as articulações diplomáticas para preparar um plano para a Ucrânia, atualmente discutido com enviados de Kiev, que incluiria concessões territoriais, mas também garantias de segurança ao país.
Perguntado se haveria "novas operações militares especiais", expressão usada pelo Kremlin para designar a intervenção na Ucrânia, Putin respondeu de forma taxativa: "Não haverá nenhuma operação se nos tratarem com respeito e respeitarem nossos interesses".
O presidente russo também advertiu os europeus sobre "consequências muito graves" em caso de confisco de ativos russos congelados para financiar ajuda à Ucrânia, mencionando possíveis medidas de retaliação e ações na Justiça. Na quinta-feira, os países europeus não chegaram a um acordo sobre o uso desses recursos e decidiram, em vez disso, contrair um empréstimo conjunto de € 90 bilhões para apoiar Kiev.
No poder há um quarto de século
Aos 73 anos e no poder há um quarto de século, Putin domina esse exercício midiático. Na sala lotada, havia jornalistas de todas as regiões da Rússia, alguns em trajes e adornos tradicionais, além de representantes da imprensa estrangeira. Nessas coletivas, o chefe de Estado se pronuncia sobre um amplo leque de temas, da geopolítica e da economia às preocupações cotidianas da população e problemas locais.
De acordo com o instituto independente Levada, a guerra na Ucrânia continua sendo uma das principais preocupações dos russos, ao lado da situação econômica e social. Embora a economia russa tenha resistido até agora às sanções, que miram principalmente suas exportações de hidrocarbonetos, as dificuldades aparecem na forma de escassez de mão de obra, juros bancários proibitivos e alta de preços.
Depois de dois anos de crescimento impulsionado pelo esforço de guerra, a economia dá sinais de desaceleração. O banco central projeta para 2025 um avanço do PIB entre 0,5% e 1%, bem abaixo dos 4,3% estimados para 2024 e dos 4,1% registrados em 2023. Diante desse cenário, a autoridade monetária reduziu nesta sexta-feira a taxa básica de 16,5% para 16%, mantendo a meta de trazer a inflação a 4%, contra os 6,6% acumulados em 12 meses até novembro.
Respondendo perguntas ao vivo
A coletiva anual também funciona como um grande canal de queixas regionais. Putin explora a ocasião para reforçar sua imagem de líder que intervém pessoalmente para resolver problemas individuais, repreendendo autoridades locais e, às vezes, fazendo confidências sobre a vida privada. Segundo o Kremlin, mais de 2,5 milhões de perguntas foram enviadas e filtradas com a ajuda de inteligência artificial.
Nesta sexta, o presidente respondeu não só sobre a Ucrânia, mas também sobre pressão fiscal, burocracia e o isolamento de regiões remotas. Ele prometeu discutir com o governo a taxação do comércio depois da reclamação de um padeiro russo, rejeitou qualquer controle de preços e chegou a comentar a passagem de um cometa perto da Terra, afirmando em tom de piada que se tratava de uma "arma secreta" da Rússia.
O programa, em diferentes formatos, é organizado quase todos os anos desde 2001. Em 2022, ele não foi realizado, num momento em que o Exército russo havia sofrido reveses importantes na Ucrânia.
Com AFP