Reportagem: guerra de drones se intensifica na fronteira entre Rússia e Ucrânia
Desde o final do verão no hemisfério norte, em setembro, o conflito na Ucrânia se intensificou. Kiev mantém sua estratégia de atacar infraestruturas russas, especialmente as de energia. Embora Moscou tenha voltado a registrar drones em seu espaço aéreo nos últimos dias, são principalmente as regiões fronteiriças da Rússia, como Belgorod, que estão na linha de frente.
Desde o final do verão no hemisfério norte, em setembro, o conflito na Ucrânia se intensificou. Kiev mantém sua estratégia de atacar infraestruturas russas, especialmente as de energia. Embora Moscou tenha voltado a registrar drones em seu espaço aéreo nos últimos dias, são principalmente as regiões fronteiriças da Rússia, como Belgorod, que estão na linha de frente.
Anissa El Jabri, enviada especial da RFI à Ucrânia
A 200 ou 300 quilômetros de distância das regiões fronteiriças da Ucrânia, do lado russo, as interrupções de internet tornam-se constantes. Às vezes, até mesmo realizar uma simples ligação telefônica ou receber uma mensagem de texto é impossível, e os cortes podem durar várias horas. O motivo, segundo as autoridades, é simples: bloquear os sinais para desorientar os drones enviados pela Ucrânia.
"Temos tudo o que precisamos em termos de sistemas de guerra eletrônica, mas o exército ucraniano já está operando em outras frequências. Até agora, seus drones voavam em frequências baixas, mas isso começou a mudar, e nosso monitoramento já não é tão eficaz quanto era há seis meses ou um ano", confidenciou um voluntário das brigadas locais em Belgorod, sob condição de anonimato.
O impacto no terreno é evidente. "Com alguns desses drones, você não pode confiar apenas nos olhos e ouvidos. Se já consegue ver e ouvir um drone, então é mais do que hora de abatê-lo ou correr muito rápido", explica.
Alguns drones estão se tornando cada vez mais difíceis de interceptar, e o número desses equipamentos, segundo o voluntário, está crescendo e se diversificando, conforme a área e os objetivos.
"Drones Darts sobrevoam Belgorod. A maioria dos drones FPV voa ao longo da fronteira. E, claro, drones de reconhecimento estão constantemente no ar, tanto os nossos quanto os da Ucrânia. Quando estamos trabalhando a um quilômetro da fronteira, ou muito perto da linha de contato, os drones deles podem decolar em nossa direção a cada minuto."
Há também aqueles que não têm como destino a região. "Embora estejamos a 600 quilômetros de Moscou, drones sobrevoam Belgorod porque estão mirando a capital. A maioria deles é abatida aqui, nos céus da região", afirma.
Corrida pela inovação
O voluntário relata ter abatido seu primeiro drone ucraniano de fibra óptica em junho de 2025. Era um drone imune a interferências, operando por meio de um cabo longo e discreto que podia se estender por dezenas de quilômetros. A corrida pela inovação no campo de batalha é constante. Enquanto isso, o tempo necessário para se adaptar às novas armas utilizadas pelo adversário está diminuindo.
Os números de produção de drones russos são, naturalmente, confidenciais. Mas a Rússia demonstra periodicamente sua força.
Em 21 de julho, o canal de televisão Zvezda, pertencente ao Ministério da Defesa, transmitiu imagens raras do interior da fábrica de drones de Yelabuga, no Tartaristão, que alegou ser a maior do mundo. O vídeo de 40 minutos mostrava trabalhadores com os rostos borrados ou escondidos atrás de máscaras cirúrgicas, montando euipqmentos triangulares. Esses drones, chamados Gueran-2, são a versão russa do Shahed-136 iraniano, amplamente utilizados em ataques de longo alcance na Ucrânia. Pela primeira vez este ano, o Gueran foi exibido no desfile militar de 9 de maio, na Praça Vermelha.
Mais recentemente, em 19 de outubro, o Ministério da Defesa russo também se vangloriou das capacidades de outro drone de sua ampla gama de armas letais: o de ataque kamikaze Molniya. Segundo o ministério, trata-se de um equipamento "com configuração semelhante à de um avião, capaz de transportar seis quilos de explosivos a uma distância de 50 quilômetros", desempenho considerado comparável ao "drone suicida" Lancet, também usado pela Rússia.
Moscou adapta sua legislação
Enquanto isso, a Rússia continua a proclamar suas capacidades de interceptação. O secretário-geral do Conselho de Segurança russo, Sergei Shoigu, afirmou na terça-feira (28) que menos de 1% dos drones das forças armadas ucranianas atingiram seus alvos. Mas, diante dos ataques à chamada infraestrutura "crítica" na região, Moscou está tomando medidas.
A Duma, o Parlamento russo, aprovou um projeto de lei para o destacamento de reservistas com fins de proteção. Eles servirão em novas unidades de voluntários.
O projeto aguarda promulgação, mas, segundo o jornal Kommersant, o processo já está avançado em algumas áreas. As autoridades da região de Leningrado já iniciaram o treinamento de uma unidade encarregada de proteger o território contra ataques de drones e sabotagens.
O governador Alexander Drozdenko afirmou que a unidade, que deverá recrutar 105 pessoas, será a primeira do tipo na Rússia a entrar em operação.
Andrei Kartapolov, presidente da Comissão de Defesa da Duma, também apoiou o projeto, esclarecendo que os reservistas não seriam necessariamente designados para servir em suas regiões de origem.
Até então, os reservistas só podiam ser convocados em tempos de guerra — e a Rússia não se considera oficialmente em guerra com a Ucrânia — ou em caso de mobilização. A reserva de mobilização do Ministério da Defesa, criada por decreto de Vladimir Putin em 2015, conta com até dois milhões de militares.