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Europa

Morte de Thatcher é recebida com apatia na Argentina

8 abr 2013 - 18h28
(atualizado às 18h48)
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A morte da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, nesta segunda-feira, foi recebida com apatia pelos argentinos e, até esta tarde, não foi comentada pelo governo da presidente Cristina Kirchner.

Apesar da frieza dos argentinos, em um momento em que as preocupações ainda estão voltadas para a ajuda às vitimas do temporal da semana passada nas cidades de Buenos Aires e La Plata, a notícia foi destaque nos sites dos principais jornais do país e programas das rádios mais ouvidos, além de ser lembrada em redes sociais.

Foi durante o governo de Thatcher que Grã-Bretanha e Argentina travaram a Guerra das Malvinas (ou Falklands), em 1982, vencida pelos britânicos. Até hoje, a soberania das ilhas é reivindicada pelos argentinos.

É com o conflito que a ex-primeira-ministra ficou associada até hoje no país, de acordo com ex-combatentes argentinos da guerra.

"Thatcher foi a cara visível de uma situação colonial, de um país que não quis dar o braço a torcer diante dos nossos direitos de recuperar as ilhas Malvinas. Jamais esqueceremos o que ela fez, mandando tropas que superavam e muito as da Argentina. Mas, 31 anos depois, só temos que respeitar a morte de um ser humano", disse Ianuzzo.

'Etapa de dor'

O militar contou que tinha 35 anos quando integrou as primeiras tropas argentinas que desembarcaram nas ilhas, em 2 de abril de 1982.

"Quando ela decidiu que o nosso navio General Belgrano fosse afundado, acabou com todas as possibilidades de diálogo. Com razão, ela era chamada de Dama de Ferro", afirmou Ianuzzo.

Segundo dados oficiais, 649 argentinos morreram durante os quase três meses de guerra. Deste total, 323 estavam no navio Belgrano. De acordo com as associações de ex-combatentes, outras dezenas de argentinos cometeram suicídio ou passaram a ser dependentes de bebidas alcoólicas e a necessitar de ajuda psicológica após a guerra.

Para o ex-combatente Edgardo Esteban, autor do livro que inspirou o filme Iluminados por el fuego ("Iluminados pelo fogo"), que passou 53 dos 74 dias da guerra nas Malvinas, Thatcher "marcou uma etapa de dor na Argentina".

Segundo ele, os soldados estavam nas ilhas esperando que ela iniciasse o diálogo com a Argentina.

"Thatcher poderia ter optado pelo diálogo, mas não hesitou (em entrar no) conflito bélico. Com razão, grupos de ex-combatentes a acusam de crime lesa-humanidade. Ela gerou dor na Argentina", disse.

A dona de casa Mercedes Aranda, da província de Corrientes (nordeste do país), disse que Thatcher "foi terrível para a Argentina".

"Perdi parentes, jovens, na guerra e a morte dela agora me faz lembrar os dias tristes que tivemos. Doei sangue e até objetos pessoais para tentar ajudar os que chegavam da guerra. Thatcher não é querida aqui", disse Aranda.

Fim da ditadura

Ao mesmo tempo, analistas argentinos entendem que a derrota da Argentina na guerra contra os ingleses contribuiu para antecipar o fim da ditadura, abrindo caminho para o retorno da democracia ao país.

"Se Margaret Thatcher não tivesse enviado a força-tarefa (às Ilhas Malvinas) quantos anos mais de ditadura teríamos padecido?", escreveu o jornalista Pablo Avelluto, em sua conta no Twitter.

A jornalista Silvia Mercado, coeditora do livro Guerra de Malvinas, imágenes de una tragedia, disse que Thatcher foi considerada "uma bruxa pelos argentinos" durante a guerra.

Mas, segundo Mercado, a ex-primeira-ministra "foi uma sólida defensora dos interesses dos britânicos no Atlântico Sul, e quem dera que na Argentina tivéssemos governantes com o mesmo sentido histórico, com essa capacidade de defender as causas nacionais na democracia", disse.

Nesta segunda, a Assembleia Legislativa das Ilhas Malvinas manifestou "grande tristeza" pela morte de Thatcher.

No mês passado, os moradores das Malvinas realizaram referendo e decidiram continuar ligados aos britânicos, como território além mar do Reino Unido.

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