Eleições na Holanda sinalizam à Europa que é possível 'vencer o populismo', diz especialista
A votação também deixa um Parlamento mais fragmentado do que nunca, com uma grande probabilidade de um governo de centro-direita, que deve demorar meses para ser formado.
A votação também deixa um Parlamento mais fragmentado do que nunca, com uma grande probabilidade de um governo de centro-direita, que deve demorar meses para ser formado.
A eleição foi desencadeada pelo colapso da coligação governamental, causado pela saída de Geert Wilders, líder da extrema direita holandesa, que havia levado o Partido da Liberdade (PVV) a uma vitória expressiva em 2023.
De acordo com os resultados dos votos contabilizados, o PVV de Wilders está praticamente empatado com o D66, de centro, com 26 cadeiras cada, das 150 na câmara baixa do Parlamento. Para Christophe de Voogd, historiador, especialista em Holanda e presidente do Conselho Científico e de Avaliação da Fundação para a Inovação Política, isso representa uma derrota para o partido de Wilders.
"Pode-se dizer que foi um fracasso, mas relativo, já que, em primeiro lugar, houve um empate com o outro partido, o partido centrista, e, em segundo lugar, ainda é um resultado muito bom. É o segundo melhor resultado da sua história, mas, obviamente, o verdadeiro problema reside principalmente na sua posição política", analisa o especialista em entrevista à RFI.
"Ele está isolado, aliás, essa é a questão principal. Com 26 assentos, em circunstâncias normais, teria um peso considerável, mas os outros partidos descartaram a possibilidade de colaboração, o que significa que é simultaneamente poderoso, isolado e enfraquecido", completa.
O próprio Wilders admitiu que é improvável que faça parte do próximo governo e que esperava um resultado diferente.
Segundo Christophe de Voogd, uma nova coligação será inevitavelmente necessária, uma vez que, na Holanda, são necessários 76 assentos para obter a maioria parlamentar. "Por outro lado, o país vive uma fragmentação extraordinária do espectro político, nenhum partido jamais alcançou 30 cadeiras", sublinha.
"Nunca vimos nada parecido na história da Holanda. E isso talvez lembre outros países onde há uma fragmentação significativa entre os blocos", se referindo a situação na França, que atravessa neste momento uma crise política sem precedentes.
Coligação de centro-direita
O especialista descarta uma coligação com a esquerda. Para ele, o mais provável é que a próxima coligação no poder no país seja de centro-direita, porque o Partido Liberal, que é importante e que governou por muito tempo com Mark Rutte, continua forte e é um ator fundamental em todas as coligações.
"Mas ainda existem grandes divergências sobre políticas, e podemos, portanto, esperar um processo de formação lento, como é muito comum na Holanda", diz, lembrando que os resultados finais ainda são aguardados.
"O governo interino está administrando os assuntos do dia a dia e ainda tem considerável margem de manobra. Pode aprovar o orçamento e emendar a legislação. Portanto, não há realmente nenhuma paralisia na Holanda neste momento", ressalta. "É um país acostumado a viver sem um governo oficial, e a conduzir seus negócios diários sem dificuldades".
Já no caso de questões internacionais como defesa e as relações com os Estados Unidos e o Oriente Médio, o governo interino dificilmente pode tomar grandes iniciativas.
Sinal para a Europa
Rob Jetten, líder do D66, que pode se tornar o primeiro-ministro mais jovem da história do país, aos 38 anos, afirma que seus compatriotas provaram que é possível derrotar movimentos populistas e de extrema direita.
"Este é um sinal que a Holanda está enviando ao resto do mundo hoje, e especialmente aos seus vizinhos europeus. Pelo menos, é esse o sinal que eles querem enviar", diz de Voogd.
Para o especialista, a questão é que ele não disse muitas coisas específicas sobre o seu programa. "Ele tem se concentrado mais na reconciliação, em transcender as divisões e em tentar encontrar um consenso. Mas o conteúdo em si permanece um tanto incerto. E, novamente, dependerá da inclinação da coligação", diz.
"Portanto, os holandeses permanecem muito cautelosos devido a essa fragmentação extraordinária, que continua sendo a principal lição. A segunda lição, não nos esqueçamos, é que todo o espectro político ainda mostra um domínio da direita no sentido mais amplo. E, portanto, será difícil avançar para a esquerda", pondera.