Em visita, papa Leão XIV pede que libaneses não deixem o país
O papa Leão XIV incentivou, neste domingo (30), que os libaneses "permaneçam" no seu país, onde o colapso econômico agravou a emigração em massa. O pontífice apelou à "reconciliação" para superar as profundas divisões políticas e comunitárias no Líbano.
Depois de passar pela Turquia em sua primeira viagem internacional, Leão XIV veio levar uma mensagem de paz ao Líbano, que teme o retorno de um conflito aberto com Israel.
Em um discurso no palácio presidencial, pouco depois de sua chegada, ele insistiu na situação interna e na necessidade de trabalhar pela "paz", palavra repetida 27 vezes, sem mencionar as tensões regionais nem os recentes bombardeios israelenses.
Leão XIV também destacou a necessidade de "autoridades e instituições que reconheçam que o bem comum é superior ao interesse de uma parte", e pediu à classe dirigente que "sirva o povo com compromisso e dedicação".
A crise econômica inédita que explodiu no outono de 2019 e arruinou os libaneses foi atribuída, em grande parte, à negligência da classe política, regularmente acusada de clientelismo comunitário e corrupção.
Ao evocar "um êxodo de jovens e famílias" deixando o país, ele reconheceu que "às vezes é mais fácil fugir ou, simplesmente, mais conveniente ir para outro lugar". "É preciso realmente coragem e lucidez para permanecer ou voltar ao seu país", afirmou.
O colapso econômico desde 2019 intensificou a emigração em massa, especialmente de jovens, entre os quais um grande número de cristãos.
Na ausência de números oficiais, um centro de pesquisa independente, al-Doualiya, estima que 800 mil libaneses emigraram entre 2012 e 2024. A população atual é estimada em 5,8 milhões de habitantes, incluindo mais de um milhão de refugiados sírios.
"Resiliência"
Em seu discurso diante de autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, recebido com aplausos, o papa americano chamou o Líbano a "trilhar o caminho difícil da reconciliação" para fechar as "feridas pessoais e coletivas".
"Se não forem tratadas, se não houver um trabalho de cura da memória, de aproximação entre aqueles que sofreram danos e injustiças, será difícil avançar rumo à paz", alertou.
O país viveu uma longa guerra civil (1975-1990), após a qual não houve trabalho de memória nem verdadeira reconciliação.
A mais recente guerra com Israel aprofundou as divisões, já que o Hezbollah xiita abriu a frente contra Israel em outubro de 2023 para apoiar o Hamas palestino, provocando a oposição de grande parte das outras comunidades, entre elas a cristã.
O papa saudou a "resiliência" de um "povo que não sucumbe, mas que sabe sempre renascer com coragem diante das provações".
"Vocês sofreram muito com as consequências de uma economia que mata, da instabilidade global que, também no Levante, tem repercussões devastadoras da radicalização das identidades e dos conflitos, mas vocês sempre quiseram e souberam recomeçar", declarou o chefe da Igreja Católica.
Por sua vez, o presidente libanês Joseph Aoun, o único chefe de Estado cristão do mundo árabe, afirmou em seu discurso que "a preservação do Líbano, modelo único de coexistência" entre cristãos e muçulmanos, "é um dever para a humanidade".
"Pois, se esse modelo viesse a desaparecer, nenhum outro lugar poderia substituí-lo", acrescentou.
"Digam ao mundo inteiro que não morreremos, não partiremos, não perderemos a esperança e não nos renderemos (…) Continuamos sendo o único espaço de encontro, em nossa região, e, ouso dizer, no mundo inteiro", declarou ainda o presidente libanês.
Com AFP