Demissões em massa ofuscam mega mina de Simandou, à medida que produção cresce
O megaprojeto de mineração Simandou da Guiné, promovido pelo governo militar como um símbolo da transformação econômica do país, está demitindo milhares de trabalhadores no momento em que começa a exportar minério de ferro após décadas de atrasos e escândalos de corrupção.
Simandou foi lançado oficialmente com pompa e feriado público em novembro, antes das eleições de 28 de dezembro, as primeiras desde o golpe militar de 2021 que levou Mamady Doumbouya ao poder.
O líder da junta está se candidatando à presidência e analistas políticos dizem que ele é o favorito para vencer, o que significa que ele pode ficar no poder por mais sete anos.
Mesmo sem Simandou, a maior reserva inexplorada de minério de ferro do mundo, a Guiné é o maior exportador mundial de bauxita, usada na fabricação de alumínio. Sua riqueza em mineração, no entanto, não conseguiu transformar para melhor a vida de muitos de seus habitantes.
Dados do Banco Mundial publicados em 2025 mostraram que mais da metade da população vivia na pobreza.
A Reuters entrevistou uma dúzia de trabalhadores e ex-funcionários, bem como algumas fontes sênior da empresa. Pedindo para não serem citados devido à sensibilidade da questão, eles disseram que o processo de demissão de milhares de trabalhadores havia começado e que o impacto provavelmente seria mais grave do que no caso de projetos de mineração comparáveis.
É uma decepção amarga para aqueles que esperavam que suas vidas melhorassem a longo prazo com as ambições de Simandou de produzir cerca de 120 milhões de toneladas métricas de minério de ferro por ano, ou cerca de 7% da demanda global.
PICO DO EMPREGO
O emprego em Simandou atingiu o pico de mais de 60.000 postos de trabalho em 2024 e 2025, disseram à Reuters fontes das empresas e do governo, pois as empreiteiras correram para cumprir os prazos estabelecidos pelos governantes militares da Guiné para tentar acelerar as exportações de minério de ferro após quase três décadas de atraso.
Menos de 15.000 pessoas serão necessárias para administrar as minas, os portos e a ferrovia de 670 quilômetros construída especialmente para permitir a exportação do projeto sem litoral.
O projeto é administrado por dois consórcios -- um liderado pela Rio Tinto e o outro pelo Winning Consortium Simandou, ou WCS, composto principalmente por empresas chinesas.
A forma como o trabalho foi organizado significa que a redução da força de trabalho é extrema.
Um executivo envolvido disse que a ferrovia era "um projeto de propagação simultânea", o que significa que todas as seções eram construídas ao mesmo tempo, a força de trabalho era aumentada até o pico da construção e "depois despencava porque tudo terminava".
A WCS, que administra quase toda a ferrovia por meio de mais de uma dúzia de subcontratados, não respondeu aos pedidos de comentários sobre sua força de trabalho.
A Rio Tinto, por meio de uma joint venture Rio Tinto-Simfer, é responsável por dois blocos de minas, 78 quilômetros de ferrovia conectando-os à rede ferroviária principal e às instalações de transbordo no novo porto na costa atlântica da Guiné. Ao todo, a empresa empregou cerca de 25.000 trabalhadores, 82% deles guineenses, durante a fase de construção.
Para a fase operacional, um porta-voz da Rio Tinto disse que o empreendimento Simfer deverá exigir uma força de trabalho de cerca de 6.000 pessoas para trabalhar na mina e em um terminal de navios de transbordo no porto. A construção da mina e do trilho está programada para ser concluída no próximo ano, enquanto o trabalho no porto continuará até 2027, disse o porta-voz.
Chris Aitchison, diretor administrativo da Rio Tinto-Simfer, disse estar preocupado com os riscos gerados pela perda repentina de empregos, que o setor chama de desmobilização.
"É o que vem depois?", disse ele. "Em outras jurisdições, quando desmobilizamos, há um caminho para que os funcionários ou as pessoas envolvidas na execução se transfiram para outros projetos."
Em projetos comparáveis, como a mina de cobre Oyu Tolgoi, na Mongólia, por exemplo, economias mais diversificadas significavam que os ex-funcionários da mineração tinham outras opções de emprego.
RISCO DE AGITAÇÃO SOCIAL E ACIDENTES
As fontes disseram que o corte de empregos já havia começado. Em Dantilia, um centro na região de Faranah, perto da fronteira com Serra Leoa, 8.000 dos 10.000 trabalhadores perderam seus empregos nos últimos três meses. Os outros 2.000 foram informados de que seus empregos terminarão nos próximos meses.
Em Kamara, parte do mesmo distrito, cerca de 1.500 trabalhadores já foram demitidos, disseram os trabalhadores.
"Estamos esperando com esperança, mas, por enquanto, eles não têm nenhuma solução e ainda não prometeram nada", disse à Reuters um motorista de pick-up do Winning Consortium Simandou, pedindo para não ser identificado. "Não há outro emprego."
Três fontes da empresa disseram que estava aumentando a preocupação de que a redução da equipe poderia elevar o risco de acidentes, bem como de agitação social.
PROMESSAS DE FUTURO
O lançamento oficial no novo porto de exportação em Morebaya, na costa atlântica da Guiné, foi decididamente animado, com bandas de música, guardas de honra, dançarinos tradicionais e dignitários visitantes. Doumbouya observava, vestido com uma túnica branca de boubou guineense.
Em uma tentativa de criar milhares de empregos no futuro, o governo militar da Guiné apresentou o "Simandou 2040" como uma estratégia de 15 anos para transformar o país em uma economia diversificada, com base em investimentos em agricultura, educação, transporte, tecnologia, finanças e saúde para toda a população.
O governo detém uma participação de 15% na Simandou e o custo estimado de US$200 bilhões do plano seria parcialmente financiado por receitas de mineração, embora o governo tenha dito que a maior parte deveria vir de capital privado.
O ministro de Minas, Bouna Sylla, disse que a agência de infraestrutura da Guiné, a Administration et Contrôle des Grands Projets, estava trabalhando em estudos de viabilidade. O governo também encomendou um relatório da KPMG sobre programas de reemprego, que será publicado após as eleições, segundo duas fontes.
A KPMG não respondeu a um pedido de comentário. A agência de infraestrutura disse que os planos incluíam 3.000 quilômetros de novas rodovias a serem desenvolvidas ao longo de 15 anos.