Corte de Apelação em Roma adia decisão sobre extradição de Zambelli
A Corte de Apelação em Roma marcou para 20 de janeiro uma nova audiência para analisar o pedido de extradição de Carla Zambelli. Durante uma sessão realizada nesta quinta-feira (18) no tribunal, os advogados de defesa da ex-deputada federal pediram mais tempo para analisar os documentos enviados pelo juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que detalham as condições da penitenciária Colmeia do Distrito Federal, onde Zambelli ficará presa, caso seja extraditada para o Brasil.
A defesa de Zambelli alegou que só teve acesso aos documentos enviados por Moraes na noite de quarta-feira (18). O juízes concederam, então, uma extensão do prazo para a avaliação das condições de segurança e salubridade na penitenciária de Brasília.
Durante a primeira audiência em 4 de dezembro, a defesa de Zambelli apresentou diversos argumentos para que ela não seja extraditada. Um deles é sobre a situação carcerária para o eventual cumprimento da pena no Brasil. Foi então que a Justiça italiana suspendeu o julgamento para esperar respostas sobre as condições penitenciárias brasileiras.
Moraes respondeu com um documento de 11 páginas, com informações e imagens, explicando onde são alojadas as detentas da Colmeia. Também foi informado que nunca houve rebelião nesta prisão, que as presas fazem cursos técnicos e recebem atendimento médico, respeitando padrões de salubridade, segurança e assistência. Além disso, a escolha desta penitenciária foi conforme determinou a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, local de domicílio da condenada.
Argumentos da defesa
Os defensores mantêm a tese que Zambelli sofre uma perseguição política e judicial no Brasil. Para reforçar esse argumento, na última audiência a defesa apresentou aos juízes o parecer da Comissão de Constituição e Justiça que se pronunciou contrária à cassação do mandato da deputada federal. Mas a situação mudou. No dia 11, o plenário da Câmara dos Deputados decidiu manter o mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Porém a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a decisão da Câmara, alegando que é inconstitucional.
Renúncia sem influência no processo
No domingo passado, Zambelli renunciou ao mandato de deputada federal. No entanto, essa decisão não influencia a Justiça Italiana no processo de extradição. O que os juízes italianos avaliam é o fato pelo qual ela foi condenada no Brasil, que também deve ser considerado crime na Itália. Esta regra é conhecida como "dupla imputação".
Carla Zambelli foi condenada em maio passado pelo STF a 10 anos de prisão por invasão de sistemas e pela adulteração de documentos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ela foi acusada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de planejar e coordenar, com o auxílio do hacker Walter Delgatti, uma invasão do dispositivo do CNJ no início de 2023 com o objetivo de desacreditar a Justiça e incitar atos antidemocráticos.
Segundo a denúncia, Zambelli e Delgatti pretendiam incluir alvarás de soltura falsos e um mandado de prisão forjado contra o ministro Alexandre de Moraes. Ela nega a acusação. O hacker, que confessou o ataque, foi condenado a oito anos e três meses de prisão. Ele afirma ter feito a invasão a mando da então deputada.
Na Itália, invadir o sistema informático também é crime determinado pelo Artigo 615-ter do Código Penal italiano (acesso não autorizado a um sistema informático) e pelo Artigo 640-ter (fraude informática). As penas podem chegar a 8 anos de prisão.
Em agosto passado, Zambelli teve uma segunda condenação na Justiça brasileira pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. Ela foi condenada a 5 anos e 3 meses de prisão pela perseguição armada a um apoiador do presidente Lula, ocorrida na véspera do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Na ocasião, ela sacou uma arma e apontou para um homem no meio da rua nos Jardins, área nobre de São Paulo.
Porte ilegal de arma e constrangimento também são crimes na Itália. O Artigo 699 do Código Penal italiano estabelece para os infratores uma pena que varia de 18 meses a 3 anos de prisão, que podem ser agravadas de acordo com as circunstâncias dos crimes.
Fuga de Zambelli
A deputada anunciou em 3 de junho que havia deixado o Brasil. A princípio, ela disse que buscava tratamento médico, sem especificar onde estava. Na sequência, atendendo a um pedido da Procuradoria-Geral da República, Moraes decretou sua prisão preventiva.
Executando um mandato de captura internacional solicitado pela Polícia Federal (PF) do Brasil em cumprimento da determinação do ministro Alexandre de Moraes, a polícia italiana prendeu Carla Zambelli em 29 de julho no apartamento onde estava alojada no bairro Aurelio em Roma. Em seguida, ela foi levada à penitenciária feminina de Rebibbia, nos arredores da capital.
A defesa de Zambelli pediu à Justiça italiana que ela aguardasse em liberdade ou prisão domiciliar. Porém, a Corte rejeitou este pedido, apontando "fortes indícios" de risco de fuga da então deputada. A decisão, assinada por três juízes, citou que ela entrou na Itália em 5 de junho, um dia após a condenação definitiva no Brasil. Os juízes também frisaram que Zambelli foi encontrada escondida em Roma e ressaltaram que ela havia afirmado à imprensa italiana que mudaria de casa para não ser descoberta.
Problemas de saúde
A defesa também alegou em agosto que Carla Zambelli sofre de problemas de saúde, necessita de tratamentos médicos, e por isso não poderia permanecer em regime fechado. No entanto, a perícia médica determinada pela Justiça italiana aponta que as enfermidades são compatíveis com o regime carcerário. Segundo o laudo médico, os tratamentos necessários podem ser realizados dentro da prisão. O documento afirma também que o eventual traslado aéreo ao Brasil é possível e a viagem não representaria risco de consequências graves, desde que observadas as orientações médicas.
Em outubro, o Ministério Público italiano, representado pelo procurador Amelio Erminio, se manifestou a favor da extradição da então deputada.
Com informações da correspondente Gina Marques