Conheça o legado de Jane Goodall, cientista pioneira que redefiniu o lugar do ser humano na natureza
Jane Goodall, pioneira na pesquisa com chimpanzés e referência mundial em conservação ambiental, morreu de causas naturais na quarta-feira (1º), aos 91 anos, na Califórnia, durante uma turnê de palestras. A cientista britânica revolucionou a compreensão sobre o comportamento animal e fundou o Instituto Jane Goodall, presente em 70 países. Federico Bogdanowicz, diretor da instituição na Espanha, relembrou à RFI o legado e o impacto profundo de suas pesquisas na ciência e na sociedade.
Jane Goodall, pioneira na pesquisa com chimpanzés e referência mundial em conservação ambiental, morreu de causas naturais na quarta-feira (1º), aos 91 anos, na Califórnia, durante uma turnê de palestras. A cientista britânica revolucionou a compreensão sobre o comportamento animal e fundou o Instituto Jane Goodall, presente em 70 países. Federico Bogdanowicz, diretor da instituição na Espanha, relembrou à RFI o legado e o impacto profundo de suas pesquisas na ciência e na sociedade.
A notícia da morte de Jane Goodall gerou comoção global: líderes mundiais, cientistas e estrelas como Leonardo DiCaprio e Angelina Jolie prestaram homenagens à cientista britânica, um tributo à mulher que revolucionou a forma como o mundo compreende os chimpanzés — e, por extensão, o próprio ser humano.
Além disso, líderes mundiais como António Guterres e Joe Biden exaltaram seu legado em defesa do planeta, enquanto instituições como a ONU e o Instituto Jane Goodall destacaram sua incansável luta pela conservação ambiental e pela educação das novas gerações.
A presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, país onde Goodall realizou suas pesquisas pioneiras, afirmou que ela "colocou o país no centro dos esforços mundiais pela fauna". Cientistas, ambientalistas e educadores ao redor do mundo celebraram sua contribuição única à ciência e à ética ambiental.
Celebridades também se manifestaram com emoção. O príncipe Harry e Meghan Markle lembraram que Jane segurou o filho Archie nos braços e a chamaram de "amiga do planeta e amiga nossa", e a escritora Margaret Atwood a transformou em personagem simbólica de esperança em sua obra literária.
A cientista que provou que animais sabiam fabricar e manipular instrumentos
Federico Bogdanowicz, diretor do Instituto Jane Goodall na Espanha e responsável por projetos de pesquisa e desenvolvimento sustentável no Senegal, relembra com emoção o impacto da cientista. "A doutora Jane Goodall era uma pessoa muito, muito querida em todo o mundo, que inspirou a milhões e milhões de pessoas para fazer deste mundo um lugar melhor", afirma.
Ele contou à RFI que conheceu Jane em 2007 e que ela foi a razão pela qual abandonou seu trabalho para se tornar voluntário do Instituto. "Ela me inspirou a deixar meu trabalho e fazer parte do Instituto Jane Goodall. Começamos aos poucos aqui na Espanha e conseguimos realizar muitas coisas com ela e com o time no Senegal."
O legado de Goodall começou a se formar em 1960, quando observou um chimpanzé usando um galho como ferramenta para pescar cupins — uma descoberta que desafiou a ideia de que apenas humanos eram capazes de fabricar instrumentos. "Ela viu que o chimpanzé havia preparado o galho, retirado as folhas, escolhido o tamanho e a espessura certos para alcançar os buracos dos cupinzeiros. Era uma conduta instrumental que não se conhecia", explicou Bogdanowicz. A partir dali, Goodall não apenas redefiniu o comportamento dos chimpanzés, mas também o lugar do ser humano na natureza, segundo o especialista.
Animais, como os humanos, têm personalidade e sentimentos
Além da inteligência, Goodall foi pioneira ao reconhecer que os chimpanzés têm emoções, personalidade e sentimentos. "Ela assumiu desde o início que cada animal tinha sua personalidade. Viu que tinham sentimentos, emoções, que resolviam problemas e entendiam comportamentos comuns aos humanos", relembra Bogdanowicz.
Mesmo enfrentando resistência acadêmica, manteve sua convicção. "Disseram que ela havia feito tudo errado, que não deveria dar nomes aos chimpanzés, que não tinham pensamentos ou emoções. Mas ela dizia: 'Foi meu cachorro Rusty quem me ensinou que os animais têm sentimentos e inteligência.'"
Nos anos 1970 e 1980, Goodall tornou-se uma figura midiática e ativista incansável. "Ela entrou em um congresso como cientista e saiu como ativista", conta Bogdanowicz. A partir de então, passou a viajar pelo mundo, reunir-se com autoridades, formar escritórios do Instituto Jane Goodall e criar o programa educativo "Raízes e Brotos", presente hoje em 70 países.
Para Bogdanowicz, a despedida é dolorosa, mas também serena. "Ela se foi em paz, enquanto dormia. Viveu uma vida plena, sem medo da morte, lutando até o último minuto por um mundo mais justo e em paz."