Marido procura mulher que salvou filhos antes de desaparecer
Todos os dias desde o terremoto, o pai de dois filhos Tatsuya Suzuki se dirige ao antigo boliche de Natori, no nordeste do Japão, para procurar entre as listas de mortos e de vivos o nome de sua mulher, Izumi.
O boliche virou um necrotério improvisado. A cada hora mais e mais caixões brancos são levados para o local em grandes caminhões do Exército por grupos de soldados em máscaras para evitar a contaminação.
Tatsuya quer saber do paradeiro de Izumi, que conseguiu salvar as duas crianças do casal - uma menina de seis anos e um menino de dois - antes de ser levada pela onda gigante que arrasou o porto de Yuriage, onde a família vivia.
O marido estava no trabalho quando o terremoto aconteceu. Ele contou que Izumi estava em casa e, ao ver a onda gigante se aproximar, correu para o carro para escapar com as duas crianças e a sogra.
O grupo conseguiu avançar apenas algumas centenas de metros antes de ser alcançado pela onda.
Ao ver as águas se aproximando, Izumi parou o carro em frente à casa de um primo, e correu para o outro lado da rua com a sogra e os filhos para alcançar a casa de um outro parente, feita de aço.
A casa de aço ainda está no lugar, rodeada de destroços. A casa de Izumi e Tatsuya, feita de madeira, como quase todas as outras no porto, desapareceu.
Izumi conseguiu alcançar os degraus da casa e passar os filhos para a sogra, que carregou as crianças, a salvo, para dentro da casa. A mãe foi levada pelas ondas.
Esperança
Tatsuya crê que a mulher, de alguma maneira, conseguiu sobreviver. O nome dela até agora não apareceu na lista de mortos no necrotério temporário, por isso ele procura também na lista dos vivos - as pessoas que foram levadas para os abrigos temporários.
A lista de 8 mil nomes, que se estende por várias páginas, fica pregada em uma das paredes da prefeitura de Natori. Mas o nome de Izumi também não apareceu nesta relação.
"Tenho vindo aqui todos os dias desde o terremoto. Até hoje, não consegui informação sobre o paradeiro de minha mulher", diz Tatsuya.
Cinco dias após o desastre natural, o número de vítimas da tragédia ainda é incerto. Ninguém sabe quantas pessoas foram levadas pelas ondas, como Izumi. O número certamente alcança os milhares, talvez chegue a 15 mil.
Soldados, bombeiros e equipes internacionais de resgate combinam esforços para procurar entre os destroços dos vilarejos ao longo da costa leste do país. Na quarta-feira, a neve que começou a cair tornou ainda mais difícil essa tarefa.
O casal de filhos de Izumi está a salvo. Hibiki, um garoto de 2 anos de idade, e Hikaru, 6 anos, estão alojados junto com o pai em uma loja de pneus que serve de casa improvisada. Brincando com balões de ar, as crianças sorriem e parecem bem.
"Eles continuam sorridentes dia após dia", contoy Tatsuya, com o filho no colo. "Dizem 'vamos achar a mamãe hoje'. Ou então, 'se não acharmos hoje, vamos achá-la amanhã'", afirmou. "Isso é que me dá força para continuar procurando Izumi", disse.
* Com reportagem de Damian Grammaticas, em Natori