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América Latina

Venezuela: estudantes voltam às ruas; governo anuncia 'marcha antifascista'

15 fev 2014 - 00h33
(atualizado às 01h37)
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Mais de mil estudantes voltaram às ruas de Caracas, nesta sexta-feira, para protestar contra o governo, de maneira pacífica, enquanto setores governistas preparam uma marcha "contra o fascismo" para este sábado. Uma manifestação de estudantes que havia cortado uma autoestrada no leste de Caracas foi dispersada por militares com gás lacrimogêneo.

"Aqui não se vai mais bloquear autoestradas, não se deve bloquear, não vou permitir. Já chega. Pela via legal, vamos desbloquear, e não vou permitir mais bloqueios de autoestradas e de vias principais", disse Maduro, em um ato oficial em Caracas, enquanto os ativistas eram dispersados.

Com gás lacrimogêneo e jatos d'água, militares da Guarda Nacional Bolivariana dispersaram os manifestantes da autoestrada Francisco Fajardo e, depois, da Praça Altamira, no município de Chacao, onde a multidão havia se concentrado desde o meio-dia para marchar até a sede da Organização dos Estados Americanos (OEA).

"A atuação dos corpos de segurança se deu para liberar a autoestrada Francisco Fajardo. Ali, houve ação de gás lacrimogêneo e de veículos blindados (...), que lançavam água", disse o prefeito de Chacao, Ramón Muchacho, ao canal privado Globovisión.

"Estamos aqui para exigir a liberdade dos estudantes e porque não podemos mais viver com tanta violência", disse María Correia, de 20 anos, estudante da Universidade Santa María, na marcha que se deslocava para a sede da Organização dos Estados Americanos (OEA).

De manhã, no oeste de Caracas, centenas de pessoas velaram os restos mortais do ativista pró-chavismo Juan Montoya, morto nos distúrbios de quarta-feira. Em um campo de futebol de Guatire, um subúrbio de Caracas, deu-se o último adeus ao jovem Bassil da Costa, uma das vítimas letais nas fileiras da oposição, na quarta-feira.

O presidente da Federação de Centros Universitários da Universidade Central da Venezuela (UCV), Juan Requesens, declarou que 60% dos estudantes detidos já foram soltos.

Há 11 dias, grupos de estudantes e opositores ao governo iniciaram em diferentes cidades passeatas contra a insegurança, a inflação e a escassez de produtos.

Na quarta, Caracas foi palco do maior protesto já realizado contra o presidente Nicolás Maduro, que assumiu há dez meses, após a morte de Hugo Chávez. Os incidentes deixaram três mortos, dezenas de feridos, e mais de 100 pessoas foram detidas.

Além de trocas de tiro isoladas e confrontos a pedradas, grupos de manifestantes queimaram pneus e atacaram a sede do Ministério Público em Caracas. A polícia reprimiu os ativistas com bombas de gás lacrimogêneo.

O presidente Maduro classificou a violência como um "golpe de Estado em desenvolvimento", referindo-se aos grupos de ultradireita ligados a alguns partidos da oposição. Esta, por sua vez, responsabilizou o governo pelos confrontos.

Nesta sexta, estava previsto que Maduro apresentaria um "plano de pacificação". No sábado, ele deve participar de uma caminhada chavista, em Caracas, "pela paz".

"As manifestações dos estudantes colocaram em evidência a crise global, estrutural, em termos políticos e econômicos em que vive a Venezuela", avaliou o sociólogo Ignacio Ávalos.

Seguindo uma lei sancionada há alguns anos, a televisão venezuelana se absteve de transmitir imagens dos incidentes, e o Conselho Nacional de Telecomunicações, órgão governamental regulador do setor audiovisual, lembrou do risco de sanções para os veículos que fizerem "promoção da violência".

Em uma mensagem em rede nacional, na quinta-feira, Maduro acusou a imprensa estrangeira, incluindo a AFP, de manipular informações e disse que seu governo decidiu tirar do ar o canal colombiano de notícias NTN24.

A tática de protestos para pedir a saída de Maduro, promovida por um setor da oposição, foi qualificada como golpista pelo governo. Também gera reticências entre dirigentes da opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD), entre eles seu líder e ex-candidato à presidência, Henrique Capriles.

"Vamos canalizar a insatisfação, mas eu não vou mentir. As condições não estão dadas para pressionar a saída do governo", declarou Capriles na quinta-feira.

Depois dos incidentes, a Justiça venezuelana emitiu mandados de prisão contra alguns opositores, entre eles o líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, sob acusação de assassinato, entre outras. Seus advogados disseram que ainda não receberam qualquer notificação.

López é um dos três dirigentes que promovem a ocupação das ruas sob o slogan "A saída", em oposição ao governo.

Várias organizações multilaterais, como a ONU e a OEA, pediram que os responsáveis pelos ataques sejam identificados e processados. Os Estados Unidos manifestaram sua preocupação com o episódio.

Países aliados de Caracas, como Cuba, Argentina, Bolívia e Nicarágua, solidarizaram-se com o governo venezuelano e rejeitaram a violência.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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