Eleição presidencial no Chile é marcada por polarização entre esquerda e extrema direita
Os chilenos votam neste domingo (14) para presidente em um país polarizado entre o candidato da extrema direita, José Antonio Kast, e a comunista moderada Jeannette Jara. O voto é obrigatório no Chile e os 15,8 milhões de eleitores têm até às 18h, pelo horário local, para comparecer às urnas. Os primeiros resultados devem sair à partir das 20h (21h em Brasília).
As pesquisas indicam que José Antonio Kast, advogado de 59 anos, católico devoto e pai de nove filhos, é o favorito. Ele promete deportar cerca de 340 mil imigrantes irregulares, em sua maioria venezuelanos, e combater o crime.
Sua rival é Jeannette Jara, advogada de 51 anos, de origem humilde e ex-ministra do Trabalho alinhada ao governo, que reduziu a semana de trabalho para 40 horas. Ela promete aumentar o salário-mínimo e defender as aposentadorias.
Após votar na cidade de Paine, a 40 km de Santiago, Kast foi ovacionado por uma multidão que gritava "Presidente!". Ele prometeu um governo de unidade caso vença o segundo turno. "Quem vencer (...) terá que ser presidente de todos os chilenos", disse à imprensa após votar.
Jara votou em Conchalí, o bairro humilde de Santiago onde cresceu, e pediu um Chile sem ódio nem medo. Ela prometeu "combater de frente o tráfico de drogas e a corrupção".
Crime e violência
Segundo uma pesquisa do Ipsos de outubro, 63% dos chilenos afirmam que o crime e a violência são suas maiores preocupações, seguidos pelo baixo crescimento econômico. Especialistas apontam, contudo, que a percepção do medo no Chile é muito maior do que os números reais da criminalidade.
Os homicídios dobraram na última década, embora estejam em declínio há dois anos. Houve um aumento dos crimes violentos, como sequestro e extorsão, coincidindo com a chegada ao país de gangues venezuelanas, colombianas e peruanas, como o Tren de Aragua, da Venezuela.
O governo de esquerda de Gabriel Boric, ex-líder estudantil que chegou ao poder após os protestos massivos de 2019, não conseguiu reformar a Constituição de Pinochet, o que "minou completamente seu apoio político", segundo Robert Funk, professor de ciência política da Universidade do Chile.
Favorito apesar de Pinochet
Kast apoiou a ditadura militar e afirma que, se Pinochet estivesse vivo, votaria nele. Mas, nesta última campanha, evitou discutir esse e outros assuntos que poderiam lhe custar votos, como sua oposição ao aborto em qualquer circunstância. Se eleito, ele será o primeiro presidente de extrema direita desde o fim da ditadura chilena, há 35 anos.
Investigações jornalísticas revelaram em 2021 que o pai de Kast, nascido na Alemanha, foi membro do Partido Nazista de Adolf Hitler. No entanto, Kast afirma que seu pai foi um recruta forçado do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e nega que ele tenha sido um apoiador do movimento nazista.
No primeiro turno das eleições, há um mês, tanto Jara quanto Kast receberam um quarto dos votos, com uma ligeira vantagem para a candidata de esquerda. Neste segundo turno, o representante da extrema direita deve se beneficiar dos votos dos outros candidatos conservadores, que juntos somaram 70%. Os analistas acreditam que isso levará Kast à presidência.
Desde 2010, a direita e a esquerda se alternam no poder no Chile a cada eleição presidencial.
Se Kast vencer, "não devemos pensar que ele tem um mandato superforte para fazer o que quiser", porque muitas pessoas estão votando nele por medo de Jara, estimou Funk. Os eleitores votarão nele principalmente "apesar de seu apoio a Pinochet, não por causa de seu apoio a Pinochet".
(Com AFP)