Iraniana vencedora do prêmio Nobel é presa mais uma vez
Narges Mohammadi foi detida junto com outros ativistas durante cerimônia em memória de um advogado que defendia dissidentes e que foi encontrado morto em circunstâncias nebulosas.Forças de segurança do regime do Irã prenderam nesta sexta-feira (12/12) a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2023, a ativista dos direitos das mulheres Narges Mohammadi.
Ela foi detida junto com vários outros ativistas em uma cerimônia em memória do advogado Khosrow Alikordi, que foi encontrado morto em circustãncias nebulosas em seu escritório na semana passada, segundo uma postagem no X no perfil da fundação que leva o nome da ativista.
Mohammadi, de 53 anos, recebeu permissão para sair temporariamente da prisão em dezembro de 2024. Ela havia sido presa em 2021, sendo mantida sob custódia na prisão de Evin, em Teerã, e já foi condenada seis vezes a penas que somam mais de 30 anos de prisão, além de 154 chibatadas, entre outros castigos. Desde o final dos anos 1990, ela já foi detida pelo menos 13 vezes.
Também no X, o marido de Mohammadi, Taghi Rahmani, que mora em Paris, confirmou que ela foi presa na cerimônia na cidade de Mashhad, no leste do país, junto com a também proeminente ativista Sepideh Gholian.
ONGs denunciam "assassinato de Estado"
Alikordi, de 45 anos, era um advogado que defendia clientes em casos delicados, incluindo pessoas presas na repressão aos protestos que eclodiram em todo o Irã , em 2022.
Seu corpo foi encontrado em 5 de dezembro, e grupos de direitos humanos pediram uma investigação sobre sua morte, que a ONG Iran Human Rights, com sede na Noruega, disse ter "sérias suspeitas de assassinato de Estado".
A agência de Notícias sobre Ativistas dos Direitos Humanos (Hrana), com sede nos Estados Unidos, publicou imagens de Mohammadi - que não usava o véu que as mulheres são obrigadas a usar em público na República Islâmica - participando da cerimônia com uma multidão de outros apoiadores de Alikordi.
A agência afirmou que eles gritaram slogans como "viva o Irã", "lutamos, morremos, não aceitamos humilhação" e "morte ao ditador" na cerimônia que, de acordo com a tradição islâmica, marcou sete dias desde a morte de Alikordi.
Outras imagens transmitidas por canais de televisão em língua persa sediados fora do Irã mostraram Mohammadi subindo em um veículo com um microfone e incentivando as pessoas a entoar slogans.
Os dois filhos gêmeos de Mohammadi receberam o Prêmio Nobel em Oslo em seu nome em 2023. Ela não os vê há 11 anos. A ativista disse no mês passado, em uma mensagem que marcava o 19º aniversário de seus gêmeos, que havia sido permanentemente proibida de deixar o Irã.
Ativista dos direitos das mulheres
Ele, no entanto, manteve a postura desafiadora fora da prisão, se recusando a usar o véu, discursando para públicos estrangeiros por meio de videoconferências e se reunindo com ativistas em todo o Irã.
Mohammadi também previu regularmente a queda do sistema clerical que governa o Irã desde a revolução islâmica de 1979.
A ativista já sofreu vários ataques cardíacos na prisão e passou por uma cirurgia de emergência em 2022, segundo seus apoiadores. Em novembro do ano passado, seu advogado anunciou que os médicos encontraram uma lesão óssea que, segundo eles, poderia ser cancerígena, o que levou à cirurgia.
Apesar das condenações e da prisão, a ativista dos direitos humanos e dos direitos das mulheres continuou a denunciar violações no Irã, incluindo a aplicação da pena de morte ou a violência contra mulheres que não usam o véu islâmico.
O Comitê Norueguês do Nobel atribuiu a distinção a Mohammadi em 2023 "por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos".
rc (AFP, DPA)