Por que USP perdeu o título de melhor universidade da América Latina para rival chilena? Entenda
Educação mantém liderança brasileira e segue forte em pesquisa, internacionalização e impacto social, avalia especialista
USP perde liderança em ranking latino-americano para a Pontifícia Universidade Católica do Chile, mas mantém destaque como a melhor universidade brasileira, com forte atuação em pesquisa, impacto social e internacionalização.
Por que a Universidade de São Paulo (USP) perdeu o posto de melhor instituição de ensino superior da América Latina? Essa passou a ser a dúvida de muita gente após a divulgação do ranking 2026 da consultoria QS (Quacquarelli Symonds) como a Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC) na liderança da lista.
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Apesar de cair na classificação continental, a USP mantém a liderança nacional, destacando-se em reputação acadêmica, volume de pesquisas, citações por docente, internacionalização e impacto digital. A UC, por sua vez, superou o Brasil em proporção professor/aluno e empregabilidade.
Para entender o que está em jogo nessa disputa de posições, o Terra ouviu o doutor em Educação Gabriel Petter, que analisou os resultados e seus significados.
Segundo Petter, a perda da liderança é simbólica, mas não aponta crise. Ele observa que a USP alcançou 99 de 100 pontos e foi destaque em metade dos critérios. O fator decisivo para a queda foi a proporção de professores por aluno, uma fragilidade recorrente das públicas brasileiras. O resultado, contudo, também reflete o avanço regional, o que "beneficia milhões de estudantes".
Sobre o peso da produção científica, Petter afirma que citações e volume de pesquisas são essenciais, mas não devem ser os únicos parâmetros de qualidade. Ele sublinha a importância da internacionalização e do impacto digital, que ampliam o alcance, inclusive via EAD. "Isso é muito relevante, pois o tripé ensino, extensão e pesquisa deve visar, principalmente, o benefício da sociedade".
A proporção adequada de professores, segundo Petter, impacta diretamente a qualidade da formação. Ele aponta que muitas públicas brasileiras enfrentam carência de docentes, recorrendo a contratações temporárias e, frequentemente, oferecendo salários baixos para profissionais altamente qualificados.
O critério da empregabilidade também favoreceu a Católica do Chile. "Esse indicador ainda é alto na USP, mas pode ser que a formação oferecida pela Pontifícia Universidade Católica do Chile tenha uma sintonia maior com as demandas do mercado, ou que, no fundo, isso seja apenas um retrato momentâneo da relação entre as universidades e o mercado de trabalho no Brasil e no Chile".
Petter defendeu que o Brasil avance com medidas estruturais, como ampliar a contratação de professores efetivos, dinamizar a formação estudantil em sintonia com o mundo do trabalho e investir de forma mais consistente na educação pública. Ele ponderou ainda que os dados usados no ranking podem estar defasados, já que a USP informou ter feito contratações de docentes em 2023.
Quanto às diferenças de financiamento entre Brasil e Chile, o especialista destacou que ambos países propõem percentuais semelhantes do PIB em educação. A diferença estaria na distribuição desses recursos: o Brasil concentra menos na educação básica, enquanto o Chile obtém resultados mais consistentes nesse nível.
Para recuperar a liderança, segundo ele, a USP deve manter o "dever de casa" em relação à gestão acadêmica, mas não pode perder de vista sua função social. "A razão de ser de uma universidade não deve ser a liderança de um ranking, e sim seu impacto social", afirmou.
Sobre o real impacto dessa mudança para a sociedade, Petter ressalta: "Sem dúvida esses rankings exercem certa influência na opinião pública, mas acho que a perda de uma posição em um ranking internacional ainda liderado pelo Brasil terá impacto significativo na escolha dos estudantes ou do prestígio de que a USP goza perante a sociedade. Infelizmente, para boa parte dos brasileiros, o acesso ao ensino superior em uma boa instituição pública ainda representa um desafio".