'Foi como se tivesse num campeonato e fosse campeão', diz porteiro sobre convite para ser padrinho de formatura
Sérgio Santiago recebeu a homenagem de estudantes do terceiro ano do ensino médio de uma escola estadual do Rio de Janeiro
Sérgio Santiago, porteiro de uma escola estadual no Rio de Janeiro, foi convidado por alunos para ser padrinho da formatura. Ele destaca sua relação afetuosa e inspiradora com os estudantes.
"Foi na sala 26, não esqueço nunca mais. Essa sala ficou marcada para mim pelo resto da vida, como se fosse uma data de aniversário. Foi muito emocionante, não sai da minha cabeça". É assim que o porteiro Sérgio Augusto Sardinha Santiago, de 61 anos, lembra do dia em que foi convidado por estudantes do terceiro ano do ensino médio para ser o padrinho da formatura da turma neste ano. O vídeo que mostra a homenagem dos alunos viralizou nas redes sociais.
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Em entrevista ao Terra, Sérgio conta que o convite foi feito no dia 30 de junho. Naquele dia, ele chegou à Escola Estadual Missionário Mário Way, em Inhoaíba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, às 6h, como de costume, "para abrir o colégio, acender as luzes, ligar o ar-condicionado, deixar tudo preparado para quando os estudantes chegassem".
Durante o expediente, um outro funcionário foi até ele e disse que precisava de ajuda para fazer a manutenção em uma sala de aula. Era a sala 26. Quando ele chegou, veio a surpresa: os alunos esperavam Sérgio com um bolo escrito: 'Aceita ser nosso padrinho?'. Na hora, o porteiro achou que o bolo era por causa do seu aniversário, que é celebrado no mesmo mês, mas na sequência viu o convite.
"Foi uma festa. Começaram a gritar 'tio Sérgio, tio Sérgio'. Eu tentei segurar a emoção, mas não consegui. Todos gostam de mim. Eu sou uma criança velha, eu participo, eu converso, eu brinco com eles, com atenção ao meu trabalho, claro. [...] Foi a primeira vez que isso aconteceu. Você não tem ideia de como eu fiquei feliz. Dá até vontade de chorar de novo. Achei uma coisa tão gratificante. É como se você tivesse num campeonato e fosse campeão", relembra, emocionado.
Na ocasião, os estudantes também leram uma mensagem especial para o porteiro: "Sérgio, além de funcionário escolar, você, assim como um professor que faz parte da vida do aluno, você faz parte da nossa. São dois anos e meio ouvindo: 'Bom dia, filha', até um 'vai com Deus' e 'bom final de semana'. Para você, pode ser apenas algo que esteja acostumado a falar, mas, para nós, significa bem mais do que carinho e cuidado."
Porteiro pela 1ª vez
Morador de Campo Grande, também na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Sérgio é casado há 35 anos e tem uma filha de 28 anos. Ele conta que, por quase 30 anos, trabalhou como prestador de serviços em eventos. Essa é a primeira vez que atua como porteiro e está neste colégio há quatro anos.
"Eu fui aprender a ser porteiro ali. Cada aluno, do primeiro ao último que entra na escola, é bom dia para todos eles, eu checo a carteirinha [da escola]."
O carioca afirma que gosta de ter uma relação próxima com os estudantes, que vê como "filhos", e comenta que, quando chegam à escola, os alunos fazem até uma fila para apertarem a mão dele.
"Eles me contam histórias deles, às vezes perguntam sobre a minha infância, de quando eu estudava. Porteiro é uma profissão que quase ninguém vê, às vezes não reconhece. Mas esses alunos lá da escola são muito carinhosos com todo mundo. É uma educação fora do comum. Eles falam para mim: 'Quando eu chego aqui com o bom dia do senhor, eu me sinto outro'. Eles falam que isso levanta o astral deles", detalha.
"Meu coração é grande demais para essas crianças. É um pedacinho para cada um. E ainda tem espaço para os que vão chegar no ano que vem, já está reservado", acrescenta.
Sérgio também ressalta que, hoje, se sente muito realizado profissionalmente. "Nesses quatro anos, eu sou muito feliz com o que faço. E faço com o maior prazer, com o maior orgulho. Eu falo: 'Eu sou porteiro e muito feliz'. Enquanto eu tiver forças, eu pretendo ficar lá, até o meu finalzinho de carreira."
A formatura dos alunos
Sérgio afirma que, todos os anos, já participa da cerimônia de formatura dos alunos, que ocorre no fim do ano. Mas, desta vez, está mais ansioso, tanto que, mesmo faltando seis meses, ele revela que já está até com o terno separado.
"Eu acho que vai ser uma coisa muito gostosa. Todo ano eu sempre vou prestigiar eles. No ano passado, os professores estavam todos reunidos e me colocaram na mesa onde eles ficam. Quando eu apareci, foi uma festa, eles fizeram uma bagunça. Parecia que eu tinha feito um gol. Eu falei: 'gente, vocês vão matar o velho'. Mas foi uma festa tão bacana. E, esse ano, por ser padrinho, acho que vai ser melhor ainda."