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Escolas devem usar ChatGPT para potencializar aquisição de conhecimento, diz especialista

Para professor da FIA Business School, IA generativa se tornará perigosa se usada apenas como busca por resposta

28 abr 2023 - 08h11
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Com menos de seis meses disponível desde o seu lançamento, que ocorreu no fim de novembro de 2022, o ChatGPT tem aberto novas oportunidades enquanto se aprende sobre seu alcance e suas potencialidades. Com seu uso se disseminando na sociedade, ele forçará adaptações de instituições de ensino e mudanças nas profissões para unir as capacidades das máquinas com as dos humanos.

Afinal, a inteligência artificial generativa, que tem o ChatGPT como seu principal expoente, consegue entregar um serviço complexo, com uma conversa fluida, marcada por enorme articulação e repertório, algo nunca visto em interações com chatbots ou outras soluções de inteligência artificial. E o desafio, agora, é compreender como isso deve ser aplicado.

A capacidade de responder a questões coloca a interação da IA generativa com a sociedade em um novo patamar, envolvendo limiares que a divide entre a ameaça e a oportunidade de funcionar como um suporte ao aprendizado. Assim, resta às escolas encontrar a melhor forma de lidar com essa ferramenta para que os impactos sobre os métodos de ensino e aprendizagem sejam positivos, funcionando como uma plataforma para disseminação do conhecimento.

"A escola é baseada na interação social e no esforço para alcançar objetivos, um cenário que agora precisa ser colocado sob nova perspectiva. É preciso que a escola se adapte a esse contexto, como uma ponta de lança para o conhecimento aplicado", diz Luís Guedes, professor da FIA Business School e pós-doutorando em Inteligência Artificial na USP. "A pandemia trouxe a ilusão de que dá para aprender de modo eficaz estando sozinho e online. Ocorre que aprendemos muito mais quando o fazemos por meio da interação com outros alunos e com o professor. Aprende-se muito nas trocas. A tecnologia, sozinha, apequena as relações", acrescenta.

Para o professor da FIA Business School, os estudantes precisam ficar atentos para não trocar a oportunidade de adquirir conhecimento pela resposta fácil. "O ChatGPT é uma ameaça quando empurra o aluno para a superficialidade, apenas acelerando a solução de um problema. O problema é, ele mesmo, uma oportunidade de autoestudo", diz Guedes. "O esforço é parte do aprendizado. A IA generativa pode, então, limitar o esforço, limitando o aprendizado. Na escola, o mais importante é o percurso", acrescenta.

É preciso, assim, aproveitar a alta capacidade de diálogo da IA generativa para avançar na busca por conhecimento. "A oportunidade de aprofundar a obtenção de conhecimento é muito grande, desde que haja interesse por parte de alunos e professores. O ChatGPT é uma fonte infinita de conversas. Antes, não havia essa interlocução online", afirma.

É preciso entender o limite ético

Para que essa capacidade seja aproveitada com o intuito de melhorar a captação de conhecimento, um outro ator do processo de formação educacional também deve aprender a lidar com esse cenário: os pais. A recomendação do professor da FIA é o diálogo com os filhos, mostrando que o ChatGPT não deve ser visto como um oráculo, mas um respondedor de boas perguntas. E que o seu uso não pode substituir etapas da formação.

"É preciso falar sobre o limite ético do seu uso e enaltecer a importância do caminho. A escola é um fim, não para passar de ano, mas para ser um cidadão melhor. A criança vai formando a sua ética, inclusive no mundo digital", diz Guedes, ressaltando a importância de também deixar claro que a IA generativa não possui compromisso com a verdade ou garantia de precisão em suas respostas.

Para o professor, o ChatGPT pode funcionar como uma ferramenta para auxiliar na elaboração de programas de ensino, com sugestão de novas abordagens para conteúdos, aproveitando que a IA generativa é uma interlocutora hábil. Além disso, esses profissionais encaram o desafio de ensinar seus alunos a utilizá-la. E, ao mesmo tempo, devem adaptar seu método de ensino, demonstrando a importância do seu papel de interlocução.

Na prática do dia a dia, também será preciso dar um peso diferente para a prova, encontrando outras formas de mensurar a aquisição de conhecimentos, que podem ser encontrados por meio de uma pergunta simples ao ChatGPT, mas não necessariamente absorvidos desse modo.

"Defendo que tudo que puder ser automatizado, deva ser. Se o professor dá a mesma aula todo semestre, é melhor passar uma gravação online. Se ele ou ela não se renovar com exemplos do que está acontecendo agora, a situação se complica. É preciso fazer essa conexão com o atual", comenta Guedes.

Profissões também mudam

Presente fora da rotina escolar e universitária, o ChatGPT também deve causar impacto no mercado de trabalho. Profissões já começam a se moldar ao uso da IA generativa, alterando jornadas profissionais, pela possibilidade de interação e geração de conteúdo. A presença humana, porém, segue sendo primordial, ainda mais porque a IA generativa que dá suporte ao ChatGPT se baseia em estatística a partir de dados públicos disponíveis online. Não há compromisso com a verdade, o que afetaria, ou deveria afetar, as decisões tomadas a partir dela.

Mas as demandas das empresas devem mudar. E o professor da FIA prevê um mundo que precisará mais de profissionais generalistas e menos dos especialistas, pela maior necessidade de interpretar e unir conhecimentos, pois detalhes poderão ser fornecidos pela IA generativa. "Já existe muito conhecimento acumulado, mas as pessoas não conseguem ler tudo. Só que o ChatGPT consegue. O conhecimento difuso precisa ser sintetizado numa resposta, mas para isso alguém precisa fazer uma boa pergunta", conclui.

Estadão
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