Aos 41 anos, estudante com síndrome de Down se forma em Publicidade: 'Sonho realizado'
Danilo Fernando Rigoni e outros nove alunos neurodivergentes concluíram o curso técnico profissionalizante no Paraná
Danilo Rigoni, de 41 anos e com síndrome de Down, se formou em Publicidade e Propaganda em Curitiba, junto com outros nove alunos neurodivergentes, celebrando uma importante conquista profissional e inclusiva.
"Um sonho realizado". É isso o que significa para o paranaense Danilo Fernando Rigoni, de 41 anos, ter concluído o curso técnico profissionalizante em Publicidade e Propaganda. O estudante, que tem síndrome de Down, e outros nove alunos neurodivergentes se reuniram no mês passado para vestir a beca e participar da formatura dessa conquista tão especial.
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A mãe, a aposentada Edla Marília Rigoni, de 65 anos, que sempre apoiou Danilo nos estudos, estava na plateia para aplaudir a mais nova formação do filho: "Foi uma celebração muito bonita, emocionante. Muito bom ver ele lá na frente", lembra, em conversa com o Terra.
A celebração aconteceu no auditório do campus Garcez, do Centro Universitário Internacional Uninter, em Curitiba (PR). O curso técnico em Publicidade e Propaganda da instituição foi aplicado aos estudantes por meio do projeto Somos todos Brasuca, iniciativa que apoia jovens neurodivergentes a se capacitarem para ingressar no mercado de trabalho.
Ao longo de um ano, as disciplinas foram ministradas on-line e conta com o mesmo conteúdo programático aplicado aos demais alunos. As avaliações e atividades acadêmicas foram adaptadas de forma personalizada pelo Somos todos Brasuca em parceria com o Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (Sianne) da Uninter, que ampliaram o tempo do curso.
Apoio nos estudos
A trajetória dos formandos foi marcada por dedicação, superação e inclusão. Danilo é natural de Irati, cidade no interior do Paraná, mas há 28 anos mora com a mãe e o pai na capital Curitiba. Ele tem dois irmãos e é o filho "do meio". "O Danilo é uma pessoa muito companheira, muito ativa, ele colore a nossa vida", descreve Edla.
Ela conta que a família só soube que o filho tinha síndrome de Down no nascimento. "O médico que nos acompanhou foi ótimo, mostrou as várias possibilidades que a criança com síndrome de Down tem", recorda.
Ao longo da vida acadêmica, Danilo estudou em escolas regulares e especializadas e teve, a todo momento, o incentivo dos pais nos estudos. "Ele gosta de estudar, mas, às vezes, ele tem um pouco de preguicinha", brinca a mãe. "Mas a gente acompanha muito ele em casa, faz as tarefas com ele."
Danilo afirma, orgulhoso, que conta todas as suas formaturas desde o início da educação básica. Agora, no total, já são sete. Mas a de Publicidade e Propaganda tem um toque especial, por ser um curso profissionalizante e o primeiro feito após se formar no ensino médio.
A mãe ressalta a importância dessa conquista na vida do filho: "Eles conseguiram vencer todos os graus de dificuldade, dentro da dificuldade de cada um. E foi muito emocionante, porque é um curso profissionalizante. Isso é muito importante. Os professores conseguiram colocar, às vezes, de uma forma lúdica para eles entenderem o que eles estavam estudando, foi muito legal".
Antes disso, durante o ensino fundamental, Danilo também fez um curso de auxiliar administrativo. Ele trabalha há 15 anos nessa área em uma empresa em Curitiba. Neste ano, ele ainda começou um outro curso de gastronomia. Além de sempre estar em busca de estudar algo novo, ele faz aulas de natação e dança, e ensaia para atuar como mestre-sala de uma escola de samba.
Um caminho para novos sonhos
Stephanie Ruaro Yared, de 21 anos, é outra estudante da turma que se formou no curso de Publicidade e Propaganda. Ela comenta que ficou "muito emocionada" na formatura. "A gente batalhou muito, a gente ajudava uns aos outros, os amigos", conta.
Quando ainda era bebê, Stephanie começou a ter algumas convulsões e, mais tarde, foi diagnosticada com uma síndrome rara: com uma microdeleção no cromossomo 5. Hoje, ela faz tratamento e, há seis anos, não tem mais convulsões.
A jovem é a caçula dos quatro filhos da arquiteta e comerciante, Sophia de Aguiar Ruaro Yared, de 59 anos, e também mora em Curitiba. "Ela sempre foi muito comunicativa e quis fazer esse curso para aprender um pouco de Publicidade e saber como é um curso mais técnico. Para ela foi muito bom, ela ficou muito feliz e realizada", diz a mãe.
Embora tenha se formado no curso, Stephanie revela que o sonho dela mesmo é fazer pedagogia, e que esse será seu próximo objetivo. "Quero ser professora, porque eu conheço muitas pessoas que são professoras e gosto muito da área", conta ela, que não esconde o desejo de dar aulas para crianças.
A mãe destaca que fica muito feliz em ver a filha vencendo essas etapas acadêmicas e profissionais. Com a conclusão do curso, os formandos estão preparados para buscar oportunidades, mas Sophia pontua a dificuldade para pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
"O objetivo é que eles consigam ter um emprego. Existe toda a legislação que apoia, mas, quando chega na hora deles terem um emprego mesmo, as empresas não abrem as portas. [...] Eles precisam da parte prática, porque é muito difícil a teórica. Eles têm que treinar."