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Crises no Norte viram desafio político para governo Bolsonaro

Demora nas respostas a problemas no Amapá, Amazonas e Acre tem provocado grande desgaste na imagem do presidente

9 mar 2021 - 00h21
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Com pelo menos três crises ocorridas nos últimos quatro meses, lidar com a região Norte virou um desafio ainda sem respostas para o governo. O apagão de energia do Amapá, o colapso sanitário do Amazonas e o "combo" do Acre (enchente/ crise de imigrantes da fronteira/ dengue/ Covid) pegaram o governo de surpresa. E a demora nas respostas a esses problemas tem provocado grande desgaste na imagem do presidente Jair Bolsonaro.

A região já é um foco de preocupação natural desde o início do governo por causa das constantes queimadas e do desmatamento da Amazônia. Criticado por sua política ambiental, o Planalto levou tempo para construir uma estratégia de reação ao tema - e que está longe de ser eficiente.

Mas as três crises mais recentes são completamente diferentes desse contexto. Além de pegarem o governo completamente desprevenido, expuseram uma fragilidade ainda maior do Norte do País e têm causado dor de cabeça política para Bolsonaro.

O presidente cobrou monitoramento constante da região e reações mais rápidas. O primeiro efeito dessa chamada feita por Bolsonaro já foi visto nas ações para reduzir os problemas causados pela enchente do Acre. Mesmo ainda demorando para lidar com o assunto, o próprio presidente liderou uma comitiva para o Estado no fim de fevereiro, ao lado do governador Gladson Cameli e de parlamentares do Acre, e assinou a liberação de recursos via medida provisória, que destina R$ 450 milhões para Estados e cidades em situação de calamidade pública.

"A situação do Acre eu não diria que é grave. Ela é gravíssima", resume o senador Sérgio Petecão (PSD-AC), presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado, que participou da comitiva presidencial.

Eleitoralmente, a região Norte é estratégica para os planos de Bolsonaro. Com cerca de 11,5 milhões de eleitores, o Norte deu 51% dos seus votos para o presidente em 2018. Além disso, políticos aliados foram eleitos em cinco dos sete Estados: Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre e Tocantins. O presidente conta com a repetição desse apoio para garantir seu caminho para a reeleição. Mas tem dito a auxiliares próximos que a sequência de crises está minando seu apoio local.

Os números das pesquisas comprovam essa preocupação do presidente e seus aliados. O levantamento feito pela CNT/MDA mostra que, nos últimos quatro meses, Bolsonaro e seu governo perderam apoio. Norte/Centro-Oeste, que são reunidos na pesquisa, ainda são responsáveis pela melhor avaliação positiva do governo entre as regiões, com 36%. Mas, ao mesmo tempo, são responsáveis pela maior queda regional, já que na pesquisa anterior, feita em outubro, a aprovação do governo ali era de 48%. Ou seja, houve um recuo de 12 pontos.

Das três crises, o colapso sanitário do Amazonas, quando pacientes de Covid morreram asfixiados porque não havia oxigênio disponível nos hospitais locais, é visto como uma espécie de divisor de águas na queda de popularidade do presidente. A falta de ação do Ministério da Saúde, que tinha sido alertado previamente para o problema, mostrou o governo batendo cabeça diante do agravamento da pandemia na Amazônia. Com o desgaste causado, as redes bolsonaristas foram acionadas para tentar vender a versão de que o Bolsonaro tinha destinado muito dinheiro para a região, mas o governo local não tinha usado. A história não colou, e o Amazonas precisou ser socorrido, mas muito tempo depois do que deveria ter ocorrido. O colapso sanitário acabou gerando repercussão negativa muito grande.

O constrangimento foi maior ainda com a presença do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, no Senado para dizer que não fora alertado sobre o problema. Acabou desmentido pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM). "Eu estive com vossa excelência no seu gabinete, em dezembro. E lá, no início de dezembro, já dizia a vossa excelência que nós iríamos enfrentar uma onda no Amazonas muito grave. Sugeri, inclusive, que assumisse uma unidade hospitalar no Amazonas diante da comprovação da ineficiência do governo do meu estado quando da primeira onda, que, lamentavelmente, mesmo com recursos, não conseguiu evitar mortes. Eu fui a vossa excelência e disse: é grave", rebateu Braga.

Já no apagão de energia do Amapá, o estrago político foi grande. Aliado de Bolsonaro, o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), contava com essa proximidade do governo para alavancar a eleição do irmão Josiel Alcolumbre (DEM) para a prefeitura de Macapá. Com o apagão, Macapá e várias outras cidades colapsaram, sem que o governo federal se mexesse. Os problemas foram tão graves que as eleições de Macapá precisaram ser adiadas. Quando o governo se moveu para cuidar da questão, o desastre político já estava consolidado. Irritados com o descaso, os eleitores de Macapá elegeram Doutor Furlan (Cidadania) como prefeito, impondo derrota ao grupo de Alcolumbre.

Estadão
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