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Coronavírus

Abandono precoce de restrições eleva casos de covid-19 em países com altos índices de vacinação

Problemas de distanciamento social, rastreamento de casos e a comunicação falha levaram o Chile e lugares tão diversos como o Bahrein e a Mongólia a verem um aumento expressivo de infecções

21 jun 2021 - 18h01
(atualizado em 22/6/2021 às 00h19)
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Enquanto o Brasil avança lentamente na vacinação contra a covid-19 e com mais de 500 mil mortes causadas pela doença, países com a imunização coletiva mais avançada também dão mostras do que não devemos fazer. Problemas de distanciamento social, rastreamento de casos e a comunicação falha levaram o Chile e lugares tão diversos como o Bahrein e a Mongólia a verem um aumento expressivo de infecções.

O Brasil tem cerca de 30% de sua população vacinada com ao menos uma dose. No Chile, essa taxa chega a 62%, segundo a plataforma Our World in Data. Na lista dos países que lideram esse ranking, o Bahrein e a Mongólia aparecem logo atrás do país andino, o quinto colocado. Kwait, Canadá, Israel e Reino Unido ocupam as quatro primeiras posições entre os que mais vacinaram, com ao menos uma dose, sua população.

Em comum, no entanto, os três países apresentam mais do que altos porcentuais de imunização. Apesar de estarem na ponta desse ranking, o número de novos casos da doença vem crescendo em todos eles, resultado do abandono precoce de medidas que vigoraram durante boa parte da crise sanitária. O cenário lança um alerta para o Brasil, que vê a média de óbitos pelo vírus, superior a 2 mil vítimas, apresentar nova alta.

Chile

No Chile, após um primeiro ano de pandemia em que até 222 mortes foram registradas em um só dia, em junho, o início da vacinação, em fevereiro deste ano, estabilizou o número de óbitos em patamar ainda acima dos cem casos diários. As novas infecções, porém, teimam em não diminuir. Pior, desde meados de maio, o crescimento é quase constante, ficando acima dos 5 mil novos registros por dia. Na última semana, os números até chegaram a cair, mas ainda se mantêm em um patamar elevado. O país tem cerca de 19 milhões de habitantes.

Segundo a médica e professora da Universidade do Chile e membro da Sociedade Chilena de Infectologia, Claudia Cortés, entre as causas estão o abandono das medidas de distanciamento social por parte expressiva da população. "Houve uma volta à vida noturna, empresas exigindo que seus funcionários fossem para os escritórios e falta de fiscalização", afirma.

No Brasil, com reiterados casos de festas clandestinas e aglomerações, manifestações contrárias ao distanciamento social, o uso de máscaras e mesmo dúvidas sobre a eficácia da vacina partiram do próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Para ela, a situação chilena deixa claro que a vacina é uma arma contra a pandemia, mas tê-la não exime os países de voltar à normalidade antes de atingirem um nível seguro de imunização coletiva. "É fundamental, mas não é o único fator", diz a especialista.

Ela afirma que durante o verão, a população chilena voltou a se deslocar e a pandemia se interiorizou. "No Chile, fizemos muitos exames, de fato, mas o rastreamento dos casos é falho. A falta de uma comunicação clara com as pessoas também foi outro fator que agravou a situação", diz.

Bahrein

O reino do Bahrein, país com 1,5 milhão de habitantes no Golfo Pérsico, enfrentou a pior fase da pandemia mesmo com a alta taxa de imunização. A média de novas infecções chegou a 2,8 mil casos diários no dia 31 de maio, antes de começar a cair para os atuais 989.

As mortes atingiram seu maior número no dia 6 deste mês. Foram 28 vítimas naquele dia, número sem paralelo para o país de 1,6 milhão de habitantes que só ultrapassou o patamar de dez mortes diárias em maio deste ano.

Para tentar impedir a disseminação do coronavírus, o país anunciou uma série de medidas. Viajantes de países da "lista vermelha", como Índia, Paquistão e Bangladesh, foram proibidos de entrar no país. A quarentena foi reintroduzida para pessoas vinda de qualquer outro país, se não tiver sido vacinado.

Segundo os especialistas locais, o aumento de casos foi resultado das reuniões durante o Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos, em que após o pôr do sol as pessoas se reúnem para comer e celebrar após passarem o dia em jejum.

Mongólia

Na Mongólia, o aumento de casos não teve motivo muito diferente. Na terça-feira, 15, o país de cerca de 3 milhões de habitantes ao norte da China, atingiu seu segundo maior patamar de novas infecções desde o início da pandemia, 2.263. Em março, chegou ao posto de país com o maior número de casos de covid por milhão de habitantes de todo o Oriente. Ao todo, 78 mil pessoas morreram em decorrência da doença.

A atuação do Partido do Povo Mongol é apontada como fundamental para o aumento de casos. Em março, reuniões de massa e concertos musicais comemoram o 100º aniversário da agremiação política. Muitos compareceram sem máscara, líderes do partido entre eles.

A condução da crise sanitária pelo partido, que está no poder, é considerada errática. As coordenações da Comissão Estadual de Emergências, do Ministério da Saúde, e do Centro Nacional de Doenças Infecciosas foram mudadas três vezes desde o início da pandemia. No mesmo período, o Brasil teve quatro ministros da Saúde.

Estadão
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