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Rede de médicos antivacina que explora 'síndrome pós-spike' indica tratamento até para crianças

'ESTADÃO VERIFICA' IDENTIFICOU MAIS PROFISSIONAIS QUE USAM REDES SOCIAIS PARA LUCRAR COM DOENÇA QUE NÃO É RECONHECIDA PELA CIÊNCIA

15 dez 2025 - 05h45
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Profissionais ligados à Associação Médicos Pela Vida (MPV) atuam em rede nas plataformas digitais para produzir conteúdos sobre a "síndrome pós-spike" ou "spikeopatia" — uma doença sem validação científica que seria causada pelas vacinas de mRNA mensageiro, como revelou o Estadão Verifica. A entidade passou a apostar no discurso antivacina após a pandemia de covid-19.

Print do grupo Médicos Pela Vida no Telegram
Print do grupo Médicos Pela Vida no Telegram
Foto: Reprodução/Redes Sociais / Estadão

O Estadão Verifica encontrou palestras, debates, mensagens e textos publicados no site e nas contas do MPV em que médicos defendem a existência da síndrome não reconhecida pelas autoridades de saúde. Além disso, são divulgados tratamentos sem comprovação para a "spikeopatia", incluindo o uso de ivermectina e cloroquina em adultos e até mesmo em crianças vacinadas contra covid-19. Esses médicos cobram até R$ 1,5 mil por consulta e oferecem cursos que chegam a R$ 997.

O MPV foi condenado na Justiça, em 2023, por danos à saúde pública devido à promoção de medicamentos ineficazes contra a covid. Como mostrou o Estadão, o grupo que promove pautas anticientíficas também recebe apoio e dá visibilidade para empresas de "terapias alternativas" e que fornecem produtos para o "detox vacinal" de imunizados.

Os médicos Francisco Cardoso, Paulo Porto de Melo e Roberto Zeballos, que produziram neste ano um estudo sobre a "síndrome pós-spike" - retratado e retirado de publicação pela revista IDCases -, têm ligações com o MPV. Cardoso publicou, até março de 2024, dez textos no site da entidade. Também há registros de participação de Zeballos em debates e congressos. O movimento já compartilhou em suas redes conteúdos dos três profissionais desestimulando a vacinação.

O médico atua ativamente desaconselhando a vacinação e compartilhando desinformação. Em um conteúdo de 21 de junho, ele relaciona o falecimento da cantora Preta Gil, que sofreu complicações de um câncer colorretal, às vacinas de covid-19.

Médica usa 'síndrome pós-spike' em carreatas políticas

A médica Raissa Soares é ex-secretária municipal de Saúde de Porto Seguro, na Bahia, e foi candidata ao Senado Federal pelo PL nas eleições de 2022, mas não se elegeu. Na conta dela no Instagram, em que tem mais de 349 mil seguidores, a médica afirma ter tratado mais de 3,3 mil pacientes da síndrome sem base científica.

No dia 12 de outubro, o portal A Gazetta, de notícias da Bahia, publicou que Raíssa está percorrendo o Estado com as caravanas "Saúde para Família" e "Pé Na Estrada" para alertar a população sobre um protocolo para tratar sequelas da covid-19 e das vacinas. A médica pretende se candidatar à deputada federal em 2026.

Em um vídeo publicado no dia 30 de novembro, a médica divulga os locais que visitou com a caravana da saúde, incluindo igrejas, e diz que tratou pacientes vacinados com sequelas. "Nós temos que olhar para os pacientes que tiveram a vacina, que tiveram também sintomas. Eu tenho pacientes hoje, dentro dos meus 3,6 mil casos, que não tiveram a doença, só tiveram a vacina e tem sintoma. Porque também deixa o rastro do vírus".

No dia 4 de setembro, Raíssa publicou um vídeo comentando sobre o seu trabalho na medicina e na política. Nessa postagem, ela afirma que a proteína spike, da infecção por covid e de vacinas, está ligada a uma gama de sintomas, como problemas oculares, cardiológicos, gastrointestinais, reumatológicos e osteomusculares.

Segundo ela, casos de "câncer turbo", miocardite, arritmias, embolia pulmonar, trombose, urticárias, doenças autoimunes e envelhecimento também estão relacionados à spike. Ela recomenda o "protocolo spike" aplicado em seu consultório para melhorar 90% dos sintomas em até 90 dias.

"Então é importante você mesmo se questionar: 'Espera aí, quantas vezes eu tive a doença covid? E quantas vezes eu tive doses de imunizantes?' Essa carga chamada carga spike pode estar afetando o seu estado de saúde", diz Raíssa no vídeo.

"Quando a gente tem feito e aplicado o 'protocolo spike', essas pessoas melhoram qualidade de vida, 70% de melhora dos sintomas nos primeiros 40 dias, 90% de melhora dos sintomas em até 90 dias", complementa.

A médica oferece atendimentos de telemedicina para a "síndrome pós-spike" no valor de R$ 398.

Em um vídeo de 20 de março de 2024, Raíssa diz que o seu protocolo de tratamento, "com foco na desparasitação do intestino", foi inspirado nos estudos de Peter McCullough e Roberto Zeballos.

A profissional também participou de transmissões do Médicos Pela Vida sobre vacinas. Em 25 de junho, em uma live sobre a "síndrome pós-spike", ela diz que pessoas vacinadas podem transmitir a spike por fluídos corporais e contaminar outras pessoas.

"O fato é que essa proteína foi isolada nos fluídos corporais, então a gente tem o que o McCullough chama de efeito shedding. Os vacinados estão contaminando os outros. E aí eu tenho spike na saliva, no suor, nos fluídos corporais, na urina e nas fezes (...) McCullough coloca publicações que há spike no leite materno", diz Raíssa.

McCullough é um médico que teve suas certificações revogadas pelo Conselho Americano de Medicina Interna (sigla ABIM, em inglês). O cardiologista promoveu desinformação sobre vacinas da covid-19 e apoio o uso de hidroxicloroquina em pacientes, mesmo com as recomendações contrárias de autoridades em saúde.

Estadão
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