Estudo indica que taxa de falsos positivos de covid na Alemanha foi de 6%, não de 86%
MÉDICO DISTORCE CONCLUSÕES DE PESQUISA QUE AVALIOU DADOS DE PESSOAS TESTADAS COM RT-PCR NO PAÍS EUROPEU; NÃO HÁ EVIDÊNCIA DE QUE CASOS DE CORONAVÍRUS TENHAM SIDO 'INFLADOS'
O que estão compartilhando: médico afirma que números de casos da pandemia foram "inflacionados" para gerar caos e pânico. Segundo ele, os dados eram "aumentados propositalmente para ter um controle social e lockdown", enquanto milhares eram hospitalizados e morriam em hospitais. Ele cita um estudo da Alemanha como referência e diz no vídeo que apenas "14% dos casos de infecção pelo vírus eram de fato covid e os outros 86% eram falsos positivos".
O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. O estudo citado pelo médico foi feito com dados da Alemanha. O número de 86% é referente aos casos em que o vírus foi detectado, mas não houve uma resposta imunológica - ou seja, o paciente não desenvolveu uma infecção. Isso ocorre porque o RT-PCR é tão sensível que detecta até mesmo quando a pessoa teve contato com o vírus mas não desenvolveu a infecção. A taxa de falsos positivos é bem menor do que a mencionada no vídeo: de 6%. Ao Verifica, os autores do estudo explicaram que a análise não inclui dados sobre o número de hospitalizações ou óbitos.
Segundo especialistas consultados pela reportagem, o teste RT-PCR é considerado padrão-ouro para diagnósticos, devido à grande sensibilidade para a detecção do vírus SARS-CoV-2. Ele possui uma especificidade acima de 95%, o que significa uma taxa de falsos positivos menor que 5%, de acordo com o Ministério da Saúde.
Diferentemente do que o vídeo dá a entender, não existe evidência robusta de supernotificação dos dados de covid no Brasil.
A reportagem procurou o médico Roberto Zeballos, responsável pela publicação, mas não recebeu retorno até a publicação da checagem.
Medidas de saúde na pandemia consideram outros parâmetros além do número de casos
O vídeo afirma que os casos de covid foram inflados para justificar a adoção de "medidas de controle social", como lockdowns. Mas a verdade é que o número de testes positivos de RT-PCR não era o único parâmetro considerado para a tomada de medidas de enfrentamento contra o coronavírus.
O Plano Nacional Para o Enfrentamento da Pandemia da covid-19, publicado em dezembro de 2020 por 15 associações e sociedades médicas do Brasil, apontava que as medidas de distanciamento social deveriam considerar o número de casos da infecção pelo vírus, taxas de óbito e hospitalização. Em 2022, uma análise do Ministério da Saúde mostrou que, além do lockdown, também eram consideradas como medidas de combate à pandemia o rastreamento de casos e a vacinação.
O virologista Flávio da Fonseca explica que o teste PCR era importante porque indicava a taxa de circulação do vírus, mas que esse não era o único parâmetro.
"Eu fui parte do Comitê de Enfrentamento da Covid, aqui da UFMG, e a gente se reunia semanalmente para determinar regras de flexibilização ou de recrudescimento social com base não apenas no número de testes positivos reportados, mas no número de leitos disponíveis, hospitalizações, na média móvel de casos da semana anterior. Então eram análises multifacetadas", disse.
Segundo o especialista em saúde Heise de Paula, medidas restritivas de grande impacto, como lockdown, são justificáveis quando todos indicadores convergem para uma situação de sobrecarga do sistema de saúde. "Uma gestão de pandemia baseada em evidência utiliza uma matriz de risco que considera indicadores de transmissão, capacidade hospitalar e de gravidade (hospitalizações e óbitos)".
Heise de Paula afirma que a notificação de hospitalizações e mortes, envolve critérios clínicos e de patologia, "sendo mais difíceis de serem inflacionados apenas por um teste PCR-positivo com baixa carga viral".