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'Camisinhas do consentimento' e 'pulseiras antiestupro' ajudam a combater crimes?

Produtos que pretendem combater a violência sexual - especialmente contra mulheres - estão ganhando espaço no mercado. Mas eles funcionam?

12 abr 2019 - 16h48
(atualizado às 16h57)
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'Parem de nos matar', diz cartaz em protesto de mulheres em 2018, em São Paulo
'Parem de nos matar', diz cartaz em protesto de mulheres em 2018, em São Paulo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Desde "camisinhas do consentimento" na Argentina até "pulseiras antiestupro" na Alemanha, produtos criados para combater violência sexual estão chamando atenção ao redor do mundo. São invenções para autodefesa, direcionadas predominantemente para mulheres.

Outros produtos incluem shorts com alarmes, braceletes que liberam um cheiro ruim para afastar assediadores e diversos apps de consentimento sexual.

Estatísticas mostram que uma em cada cinco mulheres na Inglaterra e no País de Gales já foram vítimas de agressão sexual depois dos 16 anos. Números semelhantes também já foram encontrados em outros países.

Assim, fabricantes desses produtos argumentam que desempenham um papel fundamental. "Se elas não disserem 'sim', isso significa 'não'", diz o slogan que acompanha a nova linha de "camisinhas do consentimento" da marca Tulipan, que só pode ser aberta por quatro mãos.

Já os fabricantes da pulseira Xantus, que reage com drogas conhecidas como "boa noite Cinderela", foram motivados a criar o produto depois que a droga foi colocada no drink de uma amiga. "A Xantus quer tornar as festas mais seguras e te ajudar a se proteger", diz a empresa no Facebook.

Porém, embora os fabricantes possam ser bem intencionados, esses produtos podem estar errando o alvo, dizem ativistas pelos direitos das mulheres.

Alguns dos produtos disponíveis ao redor do mundo:

- Pacote do consentimento: camisinhas lançadas pela empresa argentina Tulipan, destinadas a promover o consentimento. Para abrir a caixa com os preservativos, é preciso quatro mãos;

- Xantus: criada por inventores alemães, essa pulseira visa a combater estupro em encontros amoros, ao mostrar se a bebida foi contaminada com alguma droga. Círculos verdes na pulseira reagem com gotas da bebida e mudam de cor caso uma droga tenha sido adicionada;

- Bracelete Invi: um bracelete lançado por uma empresa holandesa, que pode ser acionado para liberar um cheiro ruim, com objetivo de afastar potenciais abusadores;

- LegalFling: desenvolvido nos Países Baixos, esse app permite que as pessoas solicitem e confirmem consentimento explícito antes de ter uma relação sexual.

Em protesto contra violência sexual em Paris, mensagem grafada na palma da mão: #MeToo
Em protesto contra violência sexual em Paris, mensagem grafada na palma da mão: #MeToo
Foto: AFP / BBC News Brasil

Mas esses produtos funcionam?

"Os produtos não previnem estupro e não geram a necessária mudança de comportamentos e atitudes", diz Anna Blus, pesquisadora da Anistia Internacional sobre direitos das mulheres. "Mulheres são estupradas não importam o que façam, não importa que precauções tomem... Não importa o quanto tentem se proteger."

Os esforços deveriam ser direcionados a evitar os crimes, diz Blus. "Não deveria ser uma atribuição de nós, mulheres, policiar nossos comportamentos e ter que pensar sobre essas táticas. Deveria sim haver uma prevenção de estupros do lado dos abusadores."

Especialistas disseram à BBC que não conhecem nenhuma evidência sólida sobre a eficácia desses produtos. Segundo Therése Skoog, professora de psicologia da Universidade de Gothenburg, na Suécia, se esses produtos vão desempenhar algum papel na prevenção da violência sexual, será apenas uma pequena parte.

'Educar para o consentimento'

Katie Russell, porta-voz da organização Rape Crisis, da Inglaterra e País de Gales, concorda. Em entrevista à BBC, Russell falou que, embora não duvide da "boa intenção" dos fabricantes, "há muitas questões em torno disso".

Russel observa que os produtos têm o objetivo de prevenir uma violência sexual cometida por um estranho, apesar do fato de que a grande maioria dos casos ocorre com abusadores conhecidos das vítimas.

A porta-voz acrescenta ainda outras preocupações: o fato de ganhar dinheiro às custas de "medos legítimos de estupro e violência sexual" e colocar o ônus nas potenciais vítimas. "Finalmente, nenhum produto pode realmente evitar ou acabar com a violência sexual."

"Nós precisamos focar nossos esforços na educação sobre o que é o consentimento, em enviar uma mensagem muito clara para os abusadores: esse comportamento não será tolerado."

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