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Polícia

Mizael é 'frio' e matou Mércia por se sentir 'usado', diz promotor

Acusação aposta em provas técnicas e "perfil de psicopata" para condenar advogado

11 mar 2013 - 06h19
(atualizado em 26/6/2018 às 22h18)
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O Ministério Público do Estado de São Paulo aposta em quatro elementos para tentar provar que o advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, matou sua ex-namorada, a advogada Mércia Nakashima, 28 anos, em 23 de maio de 2010: os vestígios encontrados na sola do sapato dele (sangue, partículas ósseas e de projéteis de arma e restos de alga);  a localização das ligações telefônicas feitas por ele;  o rastreador do seu veículo; além da personalidade "fria" do réu. "É o típico perfil do criminoso passional", descreve o promotor Rodrigo Merli, responsável pela denúncia contra Mizael por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e agente que impossibilitou a defesa da vítima), que pode culminar em até 30 anos de prisão em regime fechado, em caso de condenação.

<p>O advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima, com uma foto na qual aparece com a vítima</p>
O advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima, com uma foto na qual aparece com a vítima
Foto: Aparício Reis / Diário de Guarulhos / Futura Press

Veja detalhes do caso Mércia 

O julgamento do caso começa nesta segunda-feira, no Fórum Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo, e só deve terminar na próxima quinta-feira. Preso desde fevereiro do ano passado, Mizael ficou mais de um ano foragido e sempre negou a acusação.

Para tentar provar sua inocência, a defesa irá questionar a credibilidade das provas contra ele e a forma como a investigação foi conduzida pela Polícia Civil. Entretanto, a Promotoria diz não haver dúvidas de que ele cometeu o crime por não se conformar com o término do relacionamento de quatro anos com a advogada. Segundo as investigações, eles ainda se encontravam ocasionalmente após o fim do namoro, em meados de 2009, mas a vítima não queria nada sério com o réu, que se sentiu "usado" e "humilhado".

"O Mizael demonstra ser essa pessoa fria.  É o perfil de um psicopata, de uma pessoa que não aceita o término do relacionamento. O fato é que ele teve a mulher que ele sempre desejou por quatro anos e, no momento em que ele perdeu e viu que não tinha retomo, ele ficou perturbado. Aí ele passou a se sentir humilhado, constrangido e usado, e aflora esse sentimento de vingança", diz o promotor, que afirma ter elementos que comprovam com "100%" de certeza a culpa dele.

"O conjunto probatório  que nós temos nos dá uma segurança de 100% (da autoria do crime). Todas as provas são importantes, porque tudo se encaixa. Agora é claro que tem essa questão técnica que é importante porque nós temos quatro elementos da cena do crime na sola do sapato do cidadão: sangue, partículas ósseas, alga (supostamente da região da represa) e partícula metálicas de projétil de arma de fogo", explica. A arma do crime nunca foi encontrada.

Além das provas consideradas técnicas, e do relato de peritos convocados como testemunhas, a acusação aposta em depoimentos para tentar comprovar esse perfil "frio" de Mizael, que teria premeditado o assassinato. Ao todo, 11 testemunhas foram convocadas, sendo cinco de defesa, cinco de acusação e uma arrolada pelo juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano, presidente do júri. Entre eles, está o irmão de Mércia, Márcio Nakashima, que em diversas ocasiões descreveu Mizael como uma pessoa possessiva e de temperamento difícil.

O promotor também apresentará e-mails enviados para a vítima. "Um dos emails que o Mizael manda pra Mércia, ele fala que não aguenta mais ser humilhado por ela, que não aguenta mais ligar pra ela e ela só atender quando quer. Que ele está se sentindo usado, que ele está no limite dele, que ele não vai mais aguentar esse tipo de coisa e que ela vai 'acertar as contas dela com Deus'. (...)  Ela queria um relacionamento com ele, mas de forma descompromissada, e ele começa a se sentir usado", defende o promotor.

O caso Mércia

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita,  mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígio de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes - enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos. 

Fonte: Terra
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